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Povo frouxo! Povo frouxo?

por Airo Zamoner *
publicado em 12/12/2005.

Ouvi alguém falar que somos um povo frouxo. O que é frouxo não é retesado. É folgado! Somos folgados? Pelo menos o povo a que pertenço, o que mora aqui na planície, este certamente, não é folgado! Trabalha, esquentando a moleira no sol, na pedra, no trem. Trabalha, enregelando-se ao luar, na chuva, na tempestade, na enchente, nos plantões intermináveis.

O que é frouxo é mole.

É mole? Meu povo não é mole! Como ser mole quem levanta antes que a Lua se apague tímida, com a presença avassaladora do Sol que ilumina a mina, que esquenta a caldeira, arranca o suor? É mole quem navega sem folga, sem frouxidão, em busca da vida mantida na marra, na fila, no trilho, na marreta, na madrugada da bala, no ronco rouco de máquinas imbecis, no peso de manivelas e no ar de chumbo? Mole é aquela gente do planalto que nada tem a ver com meu povo... Planalto não é exatamente um lugar. É muito mais que isto. É um gueto invertido, onde se juntam os verdadeiros frouxos, os moles verdadeiros. Se meu povo da planície sobrevive, não pode ser um povo frouxo, mole!

O Aurélio ensina que frouxo é, também, indolente. Indolente é a turma do planalto lato sensu, esta banga inexpugnável que nos assalta dia e noite, portando armas e leis. Assaltam-nos por delegação, com uma preguiça visceral associada a uma incompetência atroz, polvilhada com malandragem e crime. É no planalto que se reúnem os frouxos, os moles.

Somos poltrões? Covardes? Ora essa! Como covardes, se andamos de peito aberto, reconstruindo o mundo destruído pelos verdadeiros poltrões? Covardes, nós, que não usamos carros blindados, que não usamos hábeas totum quando somos interrogados? Covardes, nós, que não andamos com seguranças no colo ou no colo dos seguranças? Covardes, nós, que enfrentamos as filas da doença, da saúde arrebentada e a dos desempregados, dos despregados? Nós, os com foro desprivilegiado é que somos covardes?

Poltrões e covardes são os habitantes do grande planalto. Lá estão os verdadeiros frouxos. Só frouxos se acercam de guardas, “hábeas falas” preventivos, imunidades sem fim. Só covardes tramam nas madrugadas escuras, planejando assaltos brancos a bancos, a brancos, a negros e, se pilhados em flagrante, se defendem com discursos inflamados, como vítimas santificadas dos mosteiros beneditinos. Só poltrões afanam as parcas gotas de felicidade que pingam na planície e brincam e atraiçoam esperanças com mesuras, mentiras e promessas, declarações de contrição, pensando nos enganar eternidade adentro.

É neste cada vez mais vasto planalto que estão os covardes. Gente que caça nossa caça, que nos engana e nos afaga, que nos apaga e nos envenena, que nos namora e nos devora.

Sim, eles pensam que somos frouxos!

Mas estamos quietos aqui na planície. Perigosamente quietos. Um silêncio de felino ferido que aguarda o instante do bote final. Um momento de retesar em vez de afrouxar, de lutar em vez de folgar, de endurecer em vez de amolecer.

Aqui não tem povo frouxo. Não o meu povo! Aqui tem um povo que vê através das pesadas paredes do planalto e sente as falcatruas dos covardes. Um povo que poderá a qualquer momento derrubar os muros.

Estamos quietos, mas não frouxos, folgados, moles, indolentes, poltrões ou covardes. Estamos apenas em silêncio. Ainda...

Quando perderemos a paciência?

Ou somos mesmo um povo frouxo?

Sobre o Autor

Airo Zamoner: Airo Zamoner nasceu em Joaçaba, Santa Catarina, criou-se no Paraná e vive em Curitiba. É atualmente cronista do jornal O ESTADO DO PARANÁ e outros periódicos nacionais. Suas crônicas são densas de conteúdo sócio-político, de crítica instigante e bem humorada. Divide sua atividade literária entre o romance juvenil, o conto e a crônica, tendo conquistado inúmeros prêmios e honrosas citações.

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