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A Bengala

por José Aloise Bahia *
publicado em 01/12/2005.

E agora José!? A farra acabou. E não pense você Zé, que és o único personagem da história: a bengala, eis um símbolo medonho, deixou rastros nos últimos dias de novembro. O julgamento do ex-todo-poderoso ministro da Casa Civil foi emblemático. Esperemos que depois do evento, a Câmara retome o seu caminhar. Ou melhor, mude o seu ritmo. Mostre algum serviço.

É urgente, urgentíssimo que os presidentes da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) ajustem os ponteiros e montem uma agenda mínima. A sensação geral é de desalento, falta de credibilidade, estagnação parlamentar. Vamos ser sinceros: os nobres políticos têm é que trabalhar mais. Confinaram-se nas CPIs. Do contrário, como observa atentamente um aluno de jornalismo, a bengala vai cair de pau na cabeça dos “preguiçosos”. Um outro aluno propôs uma versão mais consistente: uma bengala de ferro. Haja cabeça! Mas, esses deputados e senadores - na minha modesta opinião não salva um - têm ou não cabeças-duras?

Não é bom para o país ver a pasmaceira que só anda a golpes de bengala. Por sinal, ela parecia um chicote nas mãos do escritor Yves Hublet. Enquanto agredia o Zé, o escritor repetiu duas vezes a palavra Fristão se referindo ao deputado (ou melhor, ex-deputado). Para quem não entendeu a mensagem, Yves mandava que lessem Dom Quixote, obra clássica de Miguel Cervantes.

Fristão, na verdade, é um feiticeiro. Nome de um falso autor do romance Dom Belianis de Grécia. Era comum nas histórias de cavalarias essa estratégia de criação de um falso autor. Convenhamos, ao que tudo indica mesmo, o escritor Yves Hublet quis chamar o Zé de “farsante”.

Estendendo a idéia do outro aluno – o da bengala de ferro –, estava pensando noutros personagens. Sim, os outros deputados que meteram a mão em cumbuca. Para acabar com esse mar de lama, caixa dois, mensalão, mensalinho, dinheiro “pra qui”, dinheiro “pra lá”, que tal adotarmos a bengala como símbolo? Esse símbolo lembra várias coisas, aposentadoria, idéias velhas, sustentação do corpo, sustentação financeira, etc. Que fique claro: sou contra a violência de todas as espécies. Entretanto, tem hora que somente uma simples bengala expressa a nossa indignação, nossa revolta, nosso desamparo. Por isso, já estou em campanha. O meu lema é “Bengala Neles”. Só espero que alguns políticos não se apropriem dessa idéia. Não utilize nas próximas eleições esse slogan. Alguma dúvida? Vamos esperar para ver.

Sobre o Autor

José Aloise Bahia: José Aloise Bahia nasceu em nove de junho de 1961, na cidade de Bambuí, região do Alto São Francisco, Estado de Minas Gerais. Reside em Belo Horizonte. Tem ensaios, críticas, artigos, crônicas, resenhas e poesias publicadas em diversos jornais, revistas e sites de literatura, arte e imprensa na internet. Pesquisador no campo da comunicação social e interfaces com a literatura, política, estética, imagem e cultura de massa. Estudioso em História das Artes e colecionador de artes plásticas. Sócio fundador e diretor de jornalismo cultural da ALIPOL (Associação Internacional de Literatura de Língua Portuguesa e Outras Linguagens) Estudou economia (UFMG). Graduado em comunicação social e pós-graduado em jornalismo contemporâneo (UNI-BH). Autor de "Pavios Curtos" (poesia, anomelivros, 2004). Participa da antologia poética "O Achamento de Portugal" (anomelivros, 2005), que reúne 40 poetas mineiros e portugueses contemporâneos.


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