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A volátil esperança

por Manoel Hygino dos Santos *
publicado em 10/09/2005.

Agosto, mês dos temores e dos ventos, dos maus presságios e das adversidades. Pelo menos, assim se pensa. O brasileiro é supersticioso. Mortes de Vargas e Juscelino, renúncia de Jânio.

Embora todos os períodos do ano tenham bons e maus instantes, agosto é o mais marcado pela superstição. No 13 de agosto, que caiu num sábado, Fidel completou 79 anos. É o mais antigo líder político no poder, pois o assumiu em 1959, com a queda de Fulgencio Batista.

O império comunista, que pretendia estender o Governo do proletariado a todos os quadrantes do mundo, cinge-se presentemente à China, Vietnã, Coréia do Norte, Lagos... e Cuba. O regime na ilha envelheceu como Fidel, opondo-se ao regime capitalista norte-americano, compreensivelmente.

No mesmo 13 de agosto, sábado, deste ano, Miguel Arraes despediu-se da vida, aos 88 anos, em Recife. Cearense, fez carreira em Pernambuco, passando por importantes cargos públicos. Governador, foi três vezes, embora deposto no primeiro mandato. Exilado na Argélia, em 1965, retornou quatorze anos após, obsequiado pela anistia, que nunca é tardia.

No tempo, encontram-se estes personagens significativos da história nos países de fala latina. No Brasil, as tentativas de instalar um regime comunista falharam. Em 1935, confiavam os discípulos de Marx e Lênine chegada a hora, que o Brasil amadurecera e havia força suficiente para mudar. A chamada Intentona foi desmantelada rapidamente, houve apenas três surtos rebeldes.

Anteriormente, com a frustração da revolução paulista (não a de 1932, a dita Constitucionalista), Prestes, outros oficiais e soldados se puseram em movimento por ermos rincões brasileiros. Era a Coluna, uma das maiores marchas empreendidas em todo o mundo no século passado.

Da aventura, o líder, assim como outros que a ele se aliaram, tiraram conclusões importantes. O interior estava abandonado, os sertanejos continuavam fortes como os classificara Euclides, a miséria persistia. Luís Carlos, lendo e relendo manuais e idéias dos homens que tinham feito revolução lá fora e implantado um regime supostamente ideal, inclinou-se e aderiu às idéias publicadas. A correspondência trocada com Juarez Távora, um dos integrantes da grande marcha, vale ser lidas para que se avalie o que o levou ao comunismo e, depois, do PCB.

O Brasil tem sido campo fértil à germinação de idéias, em grande parte frustradas. Agora mesmo, Miguel Sanchez Neto acaba de publicar "Um Amor Anarquista", destinado ao sucesso. O escritor paranaense focaliza os primórdios da Colônia Cecília, no interior de seu Estado, na última década do século XIX, transformando o relato num romance histórico. O anarquista do enredo é Giovanni Rossi, que fugiu da pobreza e da repressão política na Itália para fundar uma colônia de anarquistas no Brasil, trocando os livros pela enxada, como diz Henrique Chagas.

Sofria-se não só no Nordeste, o descontentamento se generalizara. Prestes saiu do Sul, percorreu o hoje Sudeste, ingressou no sertão para, finalmente, entregar as armas e recolher-se à Bolívia. Terminara a marcha. O que se conseguira? Mostrar o que, de modo amplo, todos já sabiam, demandas e insatisfações que vinham desde Canudos.

No Sul, diferente, o mesmo sentimento de desencanto e revolta; no antigo Centro-Oeste, idem. Transcorrido esse tempo, em pleno século XXI, evoluiu-se no reino das exportações, no campo técnico e tecnológico, alcançam-se superávits na balança de pagamentos, evolui-se para a autonomia no campo petrolífero, mas as mais caras aspirações e reivindicações não foram atendidas.

Eis o drama. Que nem capitalismo ou comunismo conseguem resolver. Carismas se desfazem e volatilizam, como as esperanças de milhões de homens e mulheres nestes milhões de quilômetros. É grave.

Sobre o Autor

Manoel Hygino dos Santos: *Jornalista e escritor. Membro da Academia Mineira de Letras, cadeira n. 23.

Livros publicados:
Vozes da Terra , Ed. do Autor , Belo Horizonte , 1948 , Contos e Crônicas
Considerações sobre Hamlet , Ed. Imprensa Oficial de Minas Gerais , Belo Horizonte , 1965 , Ensaio Histórico – Literário
Rasputin – último ato da tragédia Romana , Ed. Júpiter , Belo Horizonte , 1970 , Ensaio
Governo e Comunicação , Ed. Imprensa Oficial , Belo Horizonte , 1971 , Monografia
Hippies – Protesto ou Modismo , Ed. Júpiter , Belo Horizonte , 1978
Antologia da Academia Montes-Clarense de Letras , Ed. Comunicação , Belo Horizonte , 1978 , Coordenação de Yvonne de Oliveira Silveira
Sangue em Jonestown, uma tragédia na Guiana , Ed. Júpiter , Belo Horizonte , 1979 , Ensaio
No rastro da Subversão , Ed. Faria , Belo Horizonte , 1991 , Ensaio
Darcy Ribeiro, o Ateu , Ed. Fumarc , Belo Horizonte , 1999 , Biografia
Notícias Via Postal , Ed. do Autor , Belo Horizonte , 2002 , Correspondências


E-mail: colunaMH@hojeemdia.com.br
Matéria originalmente publicada no Jornal "Hoje em Dia", Belo Horizonte/MG

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