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Eles querem mudar o mundo
por Verdes Trigos na mídia
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publicado em 23/06/2005.
Na sala de aula, diante de um grupo de jovens boquiabertos, John Keating sentencia: “Não importa o que digam a vocês, idéias e palavras podem mudar o mundo”. A cena do filme Sociedade dos Poetas Mortos (1989) poderia ser a síntese da mente pró-ativa ou da filosofia de boteco. Leia a frase em voz alta e você verá que ela soa óbvia e meio adolescente. Utópica e um pouco engajada. Ainda assim, digam o que quiserem, idéias e palavras podem mudar o mundo.
Seduzido pela literatura e inspirado no filme de Peter Weir, o analista de sistemas Cláudio Silva Graminho criou a Sociedade dos Leitores Tortos (SLT), sediada em Curitiba. A exemplo de outras organizações fechadas, aceita como integrantes somente pessoas apresentadas pelos sócios (quem quiser tentar, pode escrever para tortomor@yahoo.com.br). Realiza uma reunião por mês, com mais ou menos 20 membros e sua lista de discussão na internet conta com 90 nomes. Nos encontros, falam sobre literatura e bebem vinho – não à toa, o logotipo da sociedade é um livro aberto com um saca-rolhas no meio. É comum reunir amigos para ir ao cinema e, depois da sessão, beber qualquer coisa enquanto se conversa sobre o filme. “Nós fazemos isso com livros”, diz Graminho.
O prólogo dessa história aconteceu nos corredores da Companhia Paranaense de Energia (Copel), local de trabalho de Graminho e de outros dez analistas de sistemas, também leitores. Eventuamente, ele conversava com os amigos sobre um livro que estava lendo ou havia lido. Trocavam referências e esperavam pela próxima esbarrada casual – o que acontecia com freqüência. Percebendo que os colegas tinham o interesse pela literatura em comum – e não se conheciam –, decidiu reunir todos de uma vez só e ver o que acontecia.
Para facilitar a troca de informações, precisava criar um grupo de discussão na internet. O grupo precisava de um nome. Por que não Sociedade dos Leitores Tortos? A primeira reunião aconteceu em abril de 2003, com ata e tudo. Graminho lembra de ter montado a lista de e-mails para o grupo com 30 nomes. Esperava a presença de meia dúzia de pessoas e ficou surpreso quando 15 apareceram na reunião.
Embora os sócios-fundadores sejam todos analistas de sistemas, hoje eles se gabam de ter a companhia de advogados, psicólogos, pedagogos e matemáticos –, e uma faixa etária ampla, que parte dos 17 aos 60 e poucos anos. Anderson Guiera está na SLT desde o início e conta que a proposta original era de fazer uma reunião a cada 15 dias, sempre na casa de um dos integrantes. Terminaram organizando uma por mês.
Além de animar os mais preguiçosos a ler e “desmitificar a leitura” – de acordo com os cinco leitores que conversaram com a reportagem –, a SLT acabou gerando competições estranhas. A mais recente delas envolve cinco sócios e uma série de apostas para ver quem consegue terminar de ler primeiro as 672 páginas de O Idiota, de Dostoievski, na tradução de Paulo Bezerra (Editora 34).
Cilas de Freitas, outro sócio-fundador, admite que “não era muito de ler romances”, mas percebeu que as pessoas comentam os livros que lêem “como se falassem de filhos”. Decidiu ler Cândido, de Voltaire, e pegou gosto pela coisa. No dia 28 de maio, a SLT foi incensada por Affonso Romano de Sant’Anna, em coluna no jornal O Globo. Ele cita a sociedade curitibana como um exemplo de ação simples que pode “endireitar” o Brasil. “Basta querer, basta gostar e basta ter alguém com certa liderança que as coisas começam a acontecer”, escreveu Sant’Anna.
Internet
O mundo literário parece viver um momento que desafia os pessimistas. Nos últimos anos, o Brasil ganhou um evento de respeito (a Festa Literária Internacional de Parati que, neste ano, fará o lançamento mundial do novo livro de Salman Rushdie, Shalimar – O Equilibrista), uma revista especializada (EntreLivros) e um suplemento literário (Bravo! Livros). Se ainda não se lê muito no país, ao menos se fala mais sobre literatura. Seja em sociedades fechadas (como a SLT) ou escancaradas, como os sites Verdes Trigos e Literarte.
O estudante de Letras Jorge Augusto Senger, de Ponta Grossa, criou o Literarte (www.literarte.org) como uma ferramenta de apoio ao ensino da literatura. “A primeira fase do projeto é o site, que pretende veicular notícias, críticas, agenda de concursos, textos científicos e também um banco de dados com informações sobre autores clássicos”, explica. A página na internet deve render um software educativo. Senger defende a inclusão de livros na cesta básica e, com seu site, espera criar uma fonte confiável de informações para os leitores e um espaço funcional para a publicação de novos autores.
Irinêo Netto (matéria publicada na Gazeta do Povo, de Curitiba/PR, em 23/06/2005).
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