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Menina de Ouro

por Leonardo Vieira de Almeida *
publicado em 24/02/2005.

Apresentar uma estória que em muitos pontos lembra os relatos minimalistas e massacrantes de Ernest Hemingway; compor autênticas telas de Edward Hopper, o pintor da solidão e da descrença no american way of life; equilibrados com lentos acordes de piano e ambientes sombrios. De fato, Clint Eastwood, em Menina de ouro (Million dollar baby), selecionou o que poderia haver de melhor para compor um quadro incisivo de denúncia aos sagrados valores da cultura moderna.

Baseado num conto do livro Rope burns: stories from the corner, de F. X. Toole, pseudônimo do lutador e treinador de boxe Jerry Boyd, que o escreveu aos 70 anos, o filme apresenta a história de uma garçonete pobre, Maggie Fitzgerald (Hilary Swank, vencedora do Oscar por Meninos não choram), inicialmente sem demonstrar relações afetivas, brigando duro pela sobrevivência e tendo muitas vezes de comer os restos do restaurante onde trabalha, mas que tem um sonho a atingir: ser uma boxeadora profissional.

Para alcançar seu cego objetivo, Maggie se inscreve numa academia de boxe, dirigida pelo veterano treinador Frankie Dunn (Clint Eastwood). A princípio, Frankie se recusa terminantemente a ajudá-la, pois diz não trabalhar com mulheres. Apesar de tudo, Maggie não desiste, passa todo o tempo livre de que dispõe na academia, e encontra num empregado de Dunn, Eddie Scrap-Iron Drupis (Morgan Freeman), ex-boxeador que perdeu um olho durante sua última luta, o apoio de que precisa para continuar.

Ao mesmo tempo em que a garçonete prossegue firmemente em seu sonho, o filme mostra que Frankie, como Maggie, também carrega a sua dor afetiva. Há anos não vê a filha, a quem manda freqüentemente cartas sempre devolvidas pelocorreio. Tenta compensar sua frustração indo quase que diarimente à missa numa igreja, em que é sempre repreendido por um padre, que não acredita em sua fé, criticando-lhe o paganismo. Dunn, no seu escritório da academia de box, preenche as horas de tédio lendo poemas de Yeats, artista irlandês de fato pagão, explorador dos mitos célticos e das canções populares, autor de The lake isle of Innisfree(citado no filme).

Quando um de seus boxeadores profissionais, Big Willie Little (Mike Colter), que até então vinha construindo uma carreira sólida no ringue, mas sempre impedido de chegar ao título mundial, por precaução de Frankie, decide trocá-lo por outro treinador, a situação de Maggie sofre uma reviravolta. Dunn, após humilhá-la, dizendo-lhe que já está velha demais para o boxe (ela tem 32 anos), impressiona-se com a força de vontade da menina, que acaba contando-lhe que nada mais lhe resta na vida, exceto o ringue. É então que Frankie decide treiná-la, e, para sua surpresa, descobre o verdadeiro talento de Maggie.

Daí assiste-se a ascensão desta pobre moça caipira, que torna-se a imbatível e famosa Mo Guishle, apelido gaélico que Dunn manda estampar em seu uniforme de lutadora. O sonho da garçonete parece ter se realizado.

Com o dinheiro das lutas, Maggie compra uma casa para sua família, mas quando vai dar a notícia para a mãe e a irmã, recebe em troca o desprezo e a insensibilidade, pois seus parentes sentem vergonha de sua profissão. Como havia dito a Dunn, antes de se tornar Mo Guishle, realmente nada mais lhe restava, pois nunca conhecera o afeto, exceto do pai já falecido.

O último terço do filme se desenvolve num crescendo de dimensão trágica. A desmedida de Maggie, o sonho de ultrapassar todos os limites, não deixa de se apresentar como uma forma de reatar pela sublimação laços perdidos. E é neste mundo decadente de box, fúria, sangue e músculos, que começa a nascer uma extrema ternura, acabando por unir dois humilhados e ofendidos desta América fascinada por todas as descrenças. Menina de ouro é, acima de tudo, uma grande obra sobre o encontro, palavra hoje violentada pelos inumeráveis dogmas que cada vez mais obliteram o mundo moderno. O ringue não deixa de ser uma metáfora do sonho americano: tornar-se um herói é tentar se esquecer de que se é, acima de tudo, humano. A grande vitória em Menina de ouro não se encontra nas mãos do heroísmo. O verdadeiro encontro, se ele existe, está para além do ringue, ou da vida.

Sobre o Autor

Leonardo Vieira de Almeida: É escritor e arquiteto. Participou como co-autor do livro O disco de Newton, Imago, 1994, com poemas e contos e da Antologia n. 2 Poesia Viva, Editora Uapê, 1996. Possui trabalhos publicados em algumas revistas literárias como Nave da Palavra, Falaê, nos jornais Panorama e Balaio de Textos. "Os que estão aí" é seu primeiro livro de contos.

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