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ALÉM DO ARCO-ÍRIS
por Pablo Morenno
*
publicado em 21/02/2005.
"A religiosa norte-americana Dorothy Stang, de 73 anos, foi assassinada a tiros na manhã de ontem, no município de Anapu, a 140 Km de Altamira, região do Xingu (PA). A missionária, que vivia no Brasil desde a década de 60 e havia sido naturalizada brasileira há pouco mais de três meses, vinha sofrendo constantes ameaças de morte pelo seu trabalho de reconhecimento internacional, pelo direito à terra e em favor das centenas de famílias que vivem em situação de miséria naquela região. Dorothy Stang foi cercada por dois homens e atingida por seis tiros à queima-roupa e teve morte instantânea".
Todo menino ou menina tem ao menos um sonho. A paz do mundo, uma roseira de esperança no quintal, um caderno de justiças para ser desfolhado na precisão. Mas, há meninos e meninas que sonham comprar pedaços do mundo. Há meninos e meninas que querem vender roseiras e ser donos de canteiros. Há meninos e meninas que sonham ter fábricas de cadernos. Não podemos ser ingênuos. Quase sempre uns sonhos precisam vencer os outros. Isso pode tornar-se, às vezes, questão de vida ou morte.
O relógio faz meninos e meninas homens e mulheres. Crescidos, expõem para venda seus sonhos redondos. Fartas bandejas. Verdade, alguns não os vendem. Oferecem-nos gratuitamente para famintos. Quem vende sonhos sonhou tornar-se um vendedor. Quem apenas os oferece sonhou ser um doador. O problema é que os doadores de sonhos estragam o mercado dos vendedores. Isso pode tornar-se, às vezes, questão de vida ou morte.
Dorothy deixou um país economicamente próspero para embrenhar-se na floresta amazônica com bruxas e fadas. Não era como no sonho. Mas não sucumbiu à saudade de casa. É aqui, além do arco-íris, meu lugar. Ficarei. Não procurou o mágico. Alguém precisava espichar o arco-íris e não era com truques. Um pouco de colorido atenuaria os embates de vida e morte.
Dorothy tombou antes de ensinar aos homens de lata como ter um coração de carne. Dorothy, idosa e frágil, regou a terra com sangue antes de ensinar ao espantalho a importância de um cérebro. Só os leões tiveram uma lição de coragem. Pena que seus dentes a calaram antes da última frase.
Ao cerrar os olhos, Dorothy olha com ternura o buraco esquerdo em nossa lata. Dorothy morta profetiza nossas cabeças descerebradas. Mas, se quisermos, poderemos apreender sua coragem. Mulher, idosa e desarmada enfrentou serena dois homens, espingardas e seis tiros. Com uma bíblia.
Eu só não desculpo Dorothy por sua ingenuidade. Devia ter desconfiado. Além do arco-íris, o mundo não está preparado pra ser colorido. Dorothy, você exagerou na dose de fé e esperança!
Sobre o Autor
Pablo Morenno: Pablo Morenno nasceu em 21.05.1969, em Belmonte, SC, e mora em Passo Fundo, RS. É licenciado em Filosofia e bacharel em Direito. Também é professor de Espanhol em cursinhos pré-vestibular, músico e servidor público federal do Tribunal Regional do Trabalho/4ª Região, e pinta nas horas vagas. Escreve uma coluna semanal de crônicas no jornal O Nacional, de Passo Fundo RS, e Nossa Cidade de Marau-RS. Colabora com os jornais Zero Hora, Direito e Avesso, e com sites de leitura e literatura. É Membro da Academia Passofundense de Letras, ocupando a cadeira cujo patrono é Érico Veríssimo. Como animador cultural e escritor, participa de projetos de leitura do IEL- Instituto Estadual do Livro do RS e de eventos literários no Rio grande do Sul e Santa Catarina. Com suas palestras interdisciplinares e descontraídas, utilizando-se de histórias e da música, conversa com crianças, jovens, pais, professores e idosos sobre a importância da leitura e da arte na vida.Livros publicados: POR QUE OS HOMENS NÃO VOAM? Crônicas, WS Editor e MENINO ESQUISITO, Poesia Infantil, WS Editor. Contato com o Autor: Pablo Morenno
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