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O encanto das trilhas sonoras em livro para cinéfilos

por Chico Lopes *
publicado em 09/02/2005.

Os cinéfilos - e o grande público - não duvidam que muitas vezes um filme só nos fica na memória pela sua trilha sonora, e, ao procurar revê-lo quando sai em VHS ou DVD, o que estamos tentando, em muitas ocasiões, não é exatamente matar saudade de certas imagens, mas de certos sons. Duvido que a historinha de Prudence, aquela moça mal-comportada para um colégio americano que vai a Roma e conhece um louro bonito que anda de lambreta em "O candelabro italiano" (de Delmer Daves, realizado em 1962), interesse tanto ao saudosista quanto a canção do filme, a lembradíssima "Al-di-lá", cantada por Emilio Perícoli. Mas, é pouco provável que esse mesmo saudosista possa dizer no ato o nome do compositor da trilha sonora: Max Steiner, um dos maiores de Hollywood. Em geral, é assim: as canções marcam mais. A música de fundo e incidental interessa menos, embora seja, enquanto se vê o filme, fundamental como moldura emocional e mesmo como algo mais, porque há trilhas muito superiores aos filmes que emolduraram.

Pois é fantástico o cinéfilo ter agora acesso a um livro nacional onde se saberá tudo isso e muito mais. É A Música do Cinema, da editora Rocco, coleção ArteMídia, que saiu em dois volumes (o primeiro, 521, o segundo, 442 páginas), escrito por João Máximo, crítico especializado no assunto que realizou extensas pesquisas para a elaboração desses dois volumes. Máximo, sem trocadilho, fez o máximo para que esse livro fosse uma referência fundamental para cinéfilos brasileiros, estudando o perfil dos compositores de cinema e suas trilhas sonoras desde os pioneiros, passando pela Hollywood da Era de Ouro, chegando aos tempos atuais (onde reinam James Horner, Howard Shore, John Williams, Danny Elfman, Mark Isham, Vangelis etc).

Confesso que me interessei mais pela verdadeira saga dos compositores mais antigos, de Hollywood, de uma Era de Ouro que pode ter acabado já em Henry Mancini, compositor de tanta coisa ótima, mas imortalizado principalmente por "Moon river" (de "Bonequinha de luxo").

Eram, na maioria, europeus desterrados, fugitivos do nazismo em geral, que tinham ido parar em Hollywood mais pelo dinheiro que por outra coisa. E nem podiam dar-se ao luxo de recusar as propostas que Hollywood lhes fazia. Isso implicava em muita facilitação e adulteração (ouvia-se, em antigos filmes da Metro, muito plágio do melodramático Tchaicovsky e muita vulgarização da grande música, mas, em todo caso, podia ser aquele o primeiro passo de um homem comum, espectador de cinema, na seara de um refinamento musical maior).

Havia quem torcesse demais o nariz para a música que se fazia para os filmes, achando os compositores uns mercenários imperdoáveis. Não que isso não procedesse, em alguns casos. Mas era não entender que talento, ganância e desespero podem sim andar juntos, em certas épocas, e que as concessões não impediam o primeiro de existir fortemente, à espera de oportunidades certas.

Os compositores eram Miklos Rósza, Franz Waxman, Bernard Herrmann, Erich von Korngold, Steiner, Dimitri Tiomkin, Alfred Newman, Victor Young e outros. Suas trilhas são, para Máximo e para bons ouvintes cinéfilos, verdadeiros clássicos do século XX, mas, na época, os companheiros de Música achavam que eles estavam aviltando a música erudita ao submetê-la a produtores de cinema tapados, a serviço de imagens muitas vezes imbecis. Mas, nos melhores casos, eles faziam o que deviam: elevavam uma arte de massa com sua música de primeira.

Na curva descendente que toda arte acabou por descrever, nos fins do século para o novo milênio, a música de cinema perdeu muito. Um momento simbólico dessa perda foi quando Bernard Herrmann, músico maravilhoso que faz boa parte do encanto dos melhores filmes de Hitchcock, foi demitido por ele, que preferia, para a trilha sonora de "Cortina rasgada", algo mais pop. A pressão dos estúdios andava fazendo Hitchcock vacilar. Ele era muito sensível à resposta do público e ao sucesso comercial e começou a perder o faro para o que o público andava querendo, naquela altura dos anos 60, quando o cinema passava por uma onda de revisionismo e a revolução dos Beatles, dos costumes, da liberação sexual, fazia com que a desmistificação (e, com esta, muita queda na vulgaridade) andasse na ordem do dia. O refinado, o wagneriano Herrmann foi posto de lado, mas a realidade o vingou: "Cortina rasgada" foi um dos maiores fracassos do Mestre do Suspense.

Herrmann é, aliás, o meu favorito nessa história toda. Duvido que o cinema de Hitchcock fosse o mesmo sem ele. Alguém consegue imaginar "Um corpo que cai", "Marnie", "Psicose", "Intriga internacional", sem aquelas trilhas?

Hitchcock aparece nessa ruptura com seu mais ajustado músico de maneira um tanto ruim para a sua biografia de gênio, porque a demissão de Herrmann foi também o começo de sua triste decadência como cineasta. De "Cortina rasgada", filme apenas mediano, ele saltou para o infeliz "Topázio", deste para "Frenesi", e, como epitáfio, fez "Trama macabra". Embora "Frenesi" tenha sido um bom filme, nenhuma dessas obras tem o brilho e a fulguração dos anos 50 e início dos 60. A última trilha sonora de Herrmann para ele foi a de "Marnie - Confissões de uma ladra" e é belíssima, traduzindo à perfeição a melancolia, o pudor, o desespero daquela neurótica que se evade do contato sexual com os homens através da cleptomania e da multiplicação de identidades falsas.
As trilhas de Herrmann (inclusive a de "Cortina rasgada", que Hitchcock tão estupidamente rejeitou) estão em CD muito oportuno, magnificamente gravado, da Sony - nele, Esa-Pekka Salonen rege a Los Angeles Philharmonic com todas elas e avança um pouco mais - há também uma suíte que o compositor fez para "Fahrenheit 451", de Truffaut, e a lindíssima, arrepiante, composta para "Taxi driver", de Scorsese. Os admiradores de Herrmann não podem deixar de ter esse CD, chamado "The film scores".

Nem podem tampouco dispensar o livro de João Máximo, tão útil em sua vastidão de informações e tão saboroso em suas pequenas e reveladoras histórias.

Sobre o Autor

Chico Lopes: Chico Lopes é autor de dois livros de contos, "Nó de sombras" (2000) e "Dobras da noite" (2004) publicados pelo IMS/SP. Participou de antologias como "Cenas da favela" (Geração Editorial/Ediouro, 2007) e teve contos publicados em revistas como a "Cult" e "Pesquisa". Também é tradutor de sucessos como "Maligna" (Gregory Maguire) e "Morto até o anoitecer" (Charlaine Harris) e possui vários livros inéditos de contos, novelas, poesia e ensaios.

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Francisco Carlos Lopes
Rua Guido Borim Filho, 450
CEP 37706 062 - Poços de Caldas - MG

Email: franlopes54@terra.com.br

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