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Crônica de Um Lançamento
por Rosângela Vieira Rocha
*
publicado em 01/12/2004.

Tentei dormir, mas foi impossível. Depois de viajar catorze horas de ônibus, os músculos, ainda entorpecidos, não quiseram saber de relaxar. Horas depois chegou o Chico, alegre e agitado, carregando livros em sua sacola. Tinha muitas coisas a fazer e deixou-nos. Fomos caminhar pelo parque, meu novo amigo e eu, em meio a flores antigas, que quase não vemos mais: árvores com enormes magnólias, pés de camélias, damas da noite, canteiros grandes, cobertos de rosas vermelhas e amarelas, que morrem nos pés, sem ninguém tocá-las.E muita sombra, oferecida pelos galhos imensos, cobertos de heras. Paramos num charmoso café estilo parisiense, ali no parque mesmo, em meio a fontes luminosas, sentindo o perfume das flores e tomando capuccino com torta de limão.
À noite, fomos para o imponente prédio do Instituto Moreira Salles, participar do lançamento conjunto de Chico Lopes e de Stelio Marras, que não conhecia. Chico estava radiante, de camisa vermelha, poderosa, acompanhado de Vitória, sua simpática esposa, vestida de verde-claro, e de Elisa, a filha de quase treze anos, de minissaia de jeans. Sua alegria foi ainda maior com a presença de três de seus amigos de Novo Horizonte, SP, sua terra natal, e do Gil Perini, cardiologista e contista de Goiânia, com a esposa. Gil, muito sorridente, de terno e gravata, saiu de Goiás para Poços de Caldas, onde passaria apenas uma noite.
Às nove horas já havia um grande número de pessoas. Para meu espanto, a quantidade de livros vendidos superou a dos melhores lançamentos de Brasília. Impressionaram-me a popularidade e o prestígio do Chico, na cidade aonde chegou nos anos noventa. Quanto a Dobras da Noite, prefaciado por Nélson de Oliveira, tem uma capa linda e foi muito bem produzido pelo Instituto Moreira Salles. Ainda não pude lê-lo, embora conheça alguns contos. Modéstia à parte, um dos mais bonitos, Belmiro agoniza, foi dedicado a mim. Outra surpresa agradável foi o Stelio Marras, autor de A propósito de Águas Virtuosas, que obteve o prêmio de melhor dissertação de Mestrado no Concurso CNPq-ANPOCS de Obras Científicas e Teses Universitárias em Ciências Sociais edição 2003. Prefaciada por Antonio Candido, com mais de quatrocentas páginas, a obra contém fotos belíssimas de Poços de Caldas no início do século e é escrita de maneira simples e correta, que em nada faz lembrar a linguagem enjoativa, usual em teses acadêmicas. Muito jovem, Stelio mais parece um ator de cinema do que um antropólogo e escritor.
Após o lançamento, fomos comer pizza com os amigos de infância de Chico e Rose e Antonio Fontela, que moram na cidade. No sábado, a família Lopes levou-nos para ver os cristais. Apaixonei-me por um cinzeiro vermelho, que ficou apenas na vontade. Fazia um calor insólito, antes de começar a chuva, à tardinha, com a conseqüente queda da temperatura. José Antonio Pereira e eu jantamos na casa do Chico, tão minúscula quanto aconchegante. Vitória preparou-nos uma carne de porco celestial. Voltamos para o hotel debaixo de uma chuva grossa, sentindo o perfume das damas da noite por todo lado. No domingo cedo o amigo retornou a Cataguases e, à tarde, peguei o ônibus de volta para Brasília. Mais catorze horas que percorreria de novo, só para ver a alegria do Chico autografando o segundo rebento, a que certamente se seguirão muitos outros.
No caminho, comecei a pensar em adquirir, daqui a algum tempo, quando puder me dedicar somente à escrita e à leitura, uma casinha em Poços, para passar a temporada da seca. Embora fascinante, o cerrado nos torna um tanto duros. A Serra da Mantiqueira, com sua vegetação esplêndida, certamente suaviza mentes e espíritos. Isso sem falar na concretude e na delíciados queijos, doces e lingüiças da região.
O fato de ter gostado muito dessa quarta viagem a Poços de Caldas não me impediu de lamentar as ausências, entre outras, de Ronaldo Cagiano, Menalton Braff, Henrique Chagas, Vivaldo Trindade, Manoel Hygino dos Santos, Ângelo Caio Mendes Correa Jr. e David Oscar Vaz. Tanto Chico, a quem chamo de Mano, como eu, teríamos ficado encantados com a presença da escritora Rachel Jardim, nossa querida amiga, que, por motivo de saúde, não pôde comparecer. Mas, no mundo, perfeito é só Alá, o misericordioso...
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