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Um país de outros
por Efraim Rodrigues
*
publicado em 28/11/2004.
Quem faz as coisas ruins neste mundo?
Todos somos bonzinhos, bem intencionados, fazemos tudo direitinho. Quem joga lixo na calçada, fuma em lugar fechado, corta árvore?
É típico da espécie humana projetar nos outros, o que os junguianos chamam de sombra. Nossos piores defeitos, que não conseguimos reconhecer em nós mesmos, nós enxergamos naqueles que nos cercam.
Brasileiro é muito mal educado! - é uma frase que ouço muito, como se aquele que fala fosse de alguma outra nacionalidade.Sabe aquela fofoqueira, que vive falando da falta de vergonha dos que chegam tarde em casa ?
É inveja. E é mais do que isto. É a falta de honestidade consigo mesma, de reconhecer que ela é igual a vizinha que chega tarde em casa.
Sabe aquele empresário que tem necessidade de se apresentar como "ecológico" ? É sentimento de culpa.
Mais do que um país de outros, somos um país de esquizofrênicos, que vive alheio àrealidade. Somos os mais ambientalmente conscientes do mundo, mas não temos nem uma rua limpa para andar.
Em algum momento deveremos perceber que falar dos outros é muito gostoso, mas nos mantém no mesmo exato lugar. Nesta semana o presidente jogou um papel de bala no chão, em frente às câmeras.
O que é um papel de bala, comparado com as decisões que um presidente tem de tomar ? O que um papel de bala jogado por uma pessoa vai mudar o país?
Um papel de bala faz toda a diferença quando mostra o que se passa na cabeça de uma pessoa. Certamente, na cabeça de todos que jogam papéis na rua, e não são poucos, há esta idéia que brasileiro não se preocupa com ambiente.O papel jogado na rua tem, além da sujeira e do desperdício, uma importância simbólica.
É como passar a mão no traseiro de uma pessoa. Há também uma comunicação simbólica aí. Aquele que joga os restos da sua festa para os outros limparem, se arroga mais importante que as outras pessoas. Existiria então uma classe de pessoas que tem dinheiro para comprar balas, cigarros, latinhas de cerveja etc, e outra classe que deve recolhê-las.
O presidente, ainda em seu delírio egocêntrico (no que foi acompanhado por Collor, Sarney e FHC, cada qual com seu estilo) comunica, que lugar de papel de bombom é no chão, e não com ele, em seu bolso real.
Estimado Presidente, O Senhor -parafraseando suas próprias palavras- é filho de uma pessoa que nasceu analfabeta e desdentada, assim como todas as demais pessoas deste planeta. Sendo que todas nossas mães nasceram analfabetas e desdentadas, não há motivo para que alguns de nós possam jogar papéis de bala no chão e outros não.
E já que estamos falando disto, também não há motivo para que alguém que se aposentou aos 51 anos, venha criticar a aposentadoria dos professores aos 30 anos de trabalho. Mas isto já é outra estória, que eu deixo para os colunistas da área de economia.
Sobre o Autor
Efraim Rodrigues: Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br) é doutor pela Universidade de Harvard, Professor Adjunto de Recursos Naturais na Universidade Estadual de Londrina, Consultor do Programa Fodepal da FAO-ONU e Editor da Editora Planta, sem fins lucrativos.< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>
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