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[ Ambiente por Inteiro ] - Lixo
por Efraim Rodrigues
*
publicado em 21/11/2004.
Este é o que eu chamo de ambientalismo na terceira pessoa. Tudo são eles, tudo é lá em algum lugar distante, tudo é no passado ou no futuro. Esta é na verdade uma forma de manter longe aquilo com o que nós não conseguimos lidar.
O cidadão comum não consegue lidar com o fato que a árvore que é bonitinha é a mesma que pode cair em cima do seu carro em um dia de chuva. Que o Arthur Thomas, o único fragmento de floresta urbano da cidade, é o mesmo que causa Leishmaniose. Então o que acontece é uma quase esquizofrenia. No discurso, eu sou amiguinho das árvores, visto uma camiseta de Tartaruga, etc. Mas na ação, eu sou diferente, eu corto a árvore de frente da minha Padaria, porque afinal ninguém podia ver a minha placa, eu jogo esgoto no Rio, porque meu vizinho joga também, enfim todos vocês têm seus exemplos.
O grande acontecimento da semana é o Rock in Rio. Muito legal o evento cultural. Oxalá um dia Londrina tenha uma coisa parecida. Mas uma coisa precisa ficar clara. Um evento deste tipo tem dois objetivos, um é encher o bolso dos organizadores, o outro é divertir milhões. Esta estória de "por um mundo melhor" é a melhor maneira de manter longe um mundo melhor
Deixa eu me explicar. Uma proposta genérica a este ponto não é nada. Um Rock in Rio por um mundo com menos carros, por exemplo, os organizadores não bancariam porque isto poderia dar problema com patrocínio de alguma montadora. Um Rock in Rio por menos lixo nas ruas daria problema com as empreiteiras que coletam lixo. E assim vai.
Vá ao Rock in Rio, mas vá com uma idéia mais clara de como o mundo pode ser melhor. Eu tenho a minha, que talvez não seja a melhor,mas tenho. Ninguém joga lixo na minha frente e passa em branco. Eu sempre faço alguma coisa.
Isto às vezes me coloca em situações esquisitas.
Na semana passada eu estive dirigindo na cidade de São Paulo. Esta é uma experiência tão ligeira quanto andar contando 57 segundos entre um passo e outro. Lerdeza à parte, o trânsito paulistano pode proporcionar momentos emocionantes, especialmente para um maluco suicida como eu.
Eu estava em um semáforo (2 segundos), quando eu vi uma garrafa de refrigerante voando para fora de uma caminhonete enorme (4 segundos).
Tomado de ímpeto ambiental incontido e raivoso, saí do meu carro, apanhei a garrafa no meio fio (seis segundos) e fui em direção à caminhonete, que conforme eu fui me aproximando, foi crescendo, crescendo e crescendo (56 segundos). Dentro dela estava o proprietário. Da garrafa e da caminhonete. A caminhonete e ele eram feitos um para o outro. Na verdade eu acho que ele tinha comprado a caminhonete por ser o único veículo que ele poderia vestir. E estava apertado.
Firme e agressivamente, eu disse
Moço.... O Sssenhor de-deixou cair isto na rua.
Quando eu já estava correndo embora(56,1 segundos), de maneira a deixar claro meu desprezo por este tipo de porcaria, eu ainda o ouvi dizer.
-Ah, Tá legal, desculpa. Antes de voltar para minha fortaleza e subir a ponte levadiça da porta do meu carro, eu ainda pude ver que todos riam agradecidamente à minha volta.
Srs. Paulistanos, Piracicabanos e LONDRINENSES, pensem antes de jogar um lixinho inocente para fora do seu carro. Existe um maluco suicida ao seu lado. Ele não vai economizar esforços para lhe expor ao ridículo. E pior... Ele não está só.
Sobre o Autor
Efraim Rodrigues: Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br) é doutor pela Universidade de Harvard, Professor Adjunto de Recursos Naturais na Universidade Estadual de Londrina, Consultor do Programa Fodepal da FAO-ONU e Editor da Editora Planta, sem fins lucrativos.< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>
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