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A beleza que faz a cesta

por Maria Cristina Castilho de Andrade *
publicado em 07/11/2004.

"As crianças são nossa esperança.
Elas guardam as sementes de nossa continuidade."
(Povo Karajá - Aldeia Fontoura - TO - Brasil)


Ela não sabe de que grupo indígena era sua mãe. Cocal, Jeripancó, Kariri-Xocó, Karapotó, Tingui-Botó, Wassu, Xucuru Kariri... Um deles, pois nasceu em Alagoas. Pela proximidade com o município de sua certidão de nascimento, creio que pertence aos Tingui-Botó. De acordo com os registros históricos, são remanescentes indígenas de Olho d´Água do Meio, povoado do município de Feira Grande - AL. Falam o português à moda das populações rurais do nordeste. Antes do posto indígena na área, trabalhavam nas fazendas da região como meeiros ou contratados para executar determinada tarefa agrícola em troca de pagamento. Produziam, também, artesanato de palha. Fazem parte das tribos indígenas do médio e baixo São Francisco.

Olho d´Água do Meio dista três quilômetros de Feira Grande, 23 de Arapiraca e 155 de Maceió.

Do pai, tem conhecimento de que era branco. Adentrou a pequena aldeia para pesquisas, engravidou a mãe - viúva na época - e se perdeu no anonimato.

A pequenina cresceu à margem. Não a incluíram nos rituais. Os irmãos ignoravam-na. A mãe lamentava a ausência, sem despedidas, do homem que enlaçara seu coração. Os do mesmo sangue viam-na com indiferença.

Não apontaram, para a indiazinha branca, as estrelas, os mistérios do cerrado, o caminho para o Sol. Não aprendeu a enxergar a verdadeira beleza, citada por Beatriz Seignemartin em seu livro "Pedzuriwé - O diálogo entre dois povos que não falam a mesma língua": beleza que faz a cesta, que caça, que planta; beleza de quem dorme, de quem ama; beleza do erro, do engano, da imperfeição; beleza de quem ri e canta uma canção. Beleza que pulsa na mata e no rio.

Com doze anos, perdeu a mãe e o espaço. Os irmãos não a quiseram com eles. Vestida com a silhueta materna e cinzas paternas, sem colares e cocares, sem projetos e esperança, chegou a uma casa noturna em Maceió. Homens diversos romperam o véu de seu corpo, distantes de sua essência.

Após dois anos, escolheu um ônibus na Rodoviária. Três noites desfeitas do clarão da lua para chegar ao Estado de São Paulo. Moradia, do mesmo modo, desprovida de aldeia e tribo. Véu do corpo com remendos, rasgado nas noites turbulentas. Essência desconhecida. Olhar sem diálogo e sonho.

No próximo mês, completa 18 anos. A filha, que alimenta no peito com sombras, é a primeira. Nasceu há quarenta dias.

Uma pessoa, após o limite do Estado, comoveu-se com a história dela e da criança. Assumiu o compromisso de enviar-lhe fibras para tecer a cesta que embala e protege mamães e bebês. Quer, ainda, oferecer-lhe um pouco do colo onde as sementes da beleza germinam.

Sobre o Autor

Maria Cristina Castilho de Andrade: Cristina Castilho é professora de Português e agente das Pastorais da Mulher e a Carcerária. No trabalho com mulheres prostituídas e presidiários, circulou e circula pelo submundo, conhecendo sua realidade. Seu livro de crônicas conta a história das pessoas com quem se deparou no submundo do mundo. Escreve semanalmente no Jornal da Cidade de Jundiaí; mensalmente no Suplemento Estilo do Jornal de Jundiaí - Regional e, quinzenalmente, no Jornal de Abrantes - Portugal.

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