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Quase Renúncia

por Maria Cristina Castilho de Andrade *
publicado em 26/10/2004.

Renúncia
Sê o que renuncia
Altamente:
Sem tristeza da tua renúncia!
Sem orgulho da tua renúncia!
Abre a tua alma nas tuas mãos
E abre as tuas mãos sobre o
Infinito.
E não deixes ficar de ti
Nesse último gesto.
(Cecília Meireles)


Não veio para isso. Antes de se despedir, contudo, perguntou-me se vira, recentemente, o companheiro de alguns devaneios. Conheci-o em visita da Pastoral Carcerária à cadeia.

Rapaz novo, com facilidade em aquarela. Imaginava e, de um momento para outro, as paredes sombrias do presídio transformavam-se em jardins do amanhecer. Ao contemplar a esperança, homens e meninos venciam as grades e viam-se de bicicleta ao redor dos canteiros com borboletas.

Ela e ele estiveram juntos, algum tempo apenas, como se fosse para toda a vida. Encontravam-se na madrugada, após as noites dela. Seu corpo frágil, oferecido nas esquinas, garantia aos dois - mais a ele - a dependência química. E era nesse entorpecimento, com inúmeras fugas, que ela se sentia amada.

O corpo dele, com o passar das semanas, pedia mais drogas e menos ela. O corpo dela, com o escorrer das horas, enfraquecia. Decidiu encerrar o acontecimento que não revelava enredo. Disse-lhe sobre a impossibilidade de repetir os retornos com o corpo sugado e as mãos repletas de pó, pedra, erva...

Sem a carne em oferta, para responder aos vícios dele, perdeu-o.

Contou-me que tem saudade. Amou-o na plenitude de sua compreensão da vida. Renunciou por ela e por ele. Percebeu-o, a cada manhã, com menos lucidez. Sentia-se responsável pelos vazios mentais dele. A distância seria - não tem tanta certeza - melhor para os dois. O entendimento dela continua intacto. O coração, porém...

Não é fácil abrir a alma nas mãos, abrir as mãos sobre o infinito e ficar o nada de si nesse último gesto!

Sobre o Autor

Maria Cristina Castilho de Andrade: Cristina Castilho é professora de Português e agente das Pastorais da Mulher e a Carcerária. No trabalho com mulheres prostituídas e presidiários, circulou e circula pelo submundo, conhecendo sua realidade. Seu livro de crônicas conta a história das pessoas com quem se deparou no submundo do mundo. Escreve semanalmente no Jornal da Cidade de Jundiaí; mensalmente no Suplemento Estilo do Jornal de Jundiaí - Regional e, quinzenalmente, no Jornal de Abrantes - Portugal.

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