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Como um saco de risadas no cotidiano
por Rubens Shirassu Júnior
*
publicado em 14/09/2004.
Aqui, no Brasil, estão reunidas e selecionadas – as anedotas mais engraçadas que já ouvi, vindas não se sabe de onde, criadas não se sabe quando, nascidas e reinventadas na imaginação popular, subsídios concretos para a compreensão da natureza e do comportamento humanos, elaboradas pela imensa necessidade que o homem tem de rir de si mesmo. E isto tudo feito através de um trabalho de recolhimento da literatura oral, antes de uma perda que seria, por todos os lados, imensamente triste.
Você pode ler piadas de mineiros (muito visados no anedotário), velhinhas, italianos, bêbados, farmacêuticos, etc., todas numa linguagem que procura resguardar a tradição oral da anedota, isto é, o coloquialismo e a forma sem preparação com que se inicia esse tipo de relato. Na tarefa de colecionar anedotas, os humoristas acabaram por estratificar determinados tipos – ora nacionais, ora estrangeiros – como o capiau, o mineiro, o japonês, o judeu, as figuras dos ditadores, da mulher infiel, do marido traído, etc., que ocupam funções estereotipadas no imaginário popular. E é desse ponto de vista – o popular – que sua proposta anedótica (sem trocadilho) se fixa como contribuição cultural, altamente criativa.
A piada se inscreve num âmbito maior que é o do humor, cuja função mereceu estudos de pensadores do porte de Freud, Bérgson e Pirandello. E este último, numa conferência de 1908, argumenta que na obra de humor predomina a desordem, resultado da interferência da reflexão, que provoca associações por contraste, e não por contigüidade ou semelhança. O humorismo consiste no sentido do contrário, provocado pela reflexão, que não se oculta nem se converte em forma de sentimento. Freud, por sua vez, relacionou a pilhéria com o inconsciente e a classificou como “a mais social das funções anímicas destinadas à obtenção do prazer”. Nesse sentido, a atitude de humoristas, como Ari Toledo, resulta numa tarefa social, vinculada à necessidade do riso que é, segundo Bérgson, “uma intromissão do nosso lado cruel no cotidiano, anestesiando (temporariamente) as virtudes da compreensão, tolerância e reconhecimento do outro”.
Sobre o Autor
Rubens Shirassu Júnior: Designer artístico, jornalista e autor entre outros de Religar às Origens (Ensaios, 2003) e Oriente-se: Manual de Procedimentos no Japão, 1999.É o autor da coluna OLHO MÁGICO na VERDES TRIGOS.
Contato: jrrs@estadao.com.br
Veja também o "ORIENTE-SE: Manual de Procedimentos no Japão"
Edição Independente de Rubens Shirassu Júnior
Site do Livro: http://www.stetnet.com.br/orientese/
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