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Pedro Ortaça, cria da região e soldado, por mérito e conquista, da legião dos

por .::. Verdes Trigos Cultural .::. *
publicado em 29/03/2003.

Passando pela região das ruinas jesuíticas, se dá conta da música missioneira de Pedro Ortaça. Pedro Ortaça, cria (originário) da região e soldado, por mérito e conquista, da legião dos "missioneiros" por excelência, surgiu após os grande e luminares Jayme Caetano Braun e Noel Guarany, e ao mesmo tempo que o não menos importante Cenair Maicá.

Ortaça veio de baixo e silenciosamente, como um veio d´água que traz em si os íntimos segredos da terra de que brota. Afirmou-se pelos anos, ombreou-se com seus irmãos da mesma luta. Afinou sua guitarra pelo timbre dos sinos das catedrais jesuíticas que o tempo fez ruir; alteou seu canto com reflexos de picumã galponeiro pelos quatro pontos cardeais do estado gaúcho; superou as fronteiras naturais da "pequena pátria" e, hoje, é conhecido nacionalmente como uma das mais originais expressões da terra, do povo e dos costumes do território onde, há mais de três séculos, o gênio jesuítico começou a levantar o império teocrático das Missões.

Pedro Ortaça, iniciou-se na vida artística quando guri, com amigos de calças curtas, tocando violão. Ele foi aprendendo múscia com Carlito, Desidério, Felício e Nego Juvenal, que foram imortalizados como personagens da música Bailanta do Tibúrcio.

Conta Ortaça: "Na realidade, eles eram homens de idade e eu muito pequeno. Formei-me ouvindo-os tocar e conversar, ao amanhecer, os causos e músicas do Tibúrcio, Desidério, Carlito e do Felício. Fui cultivando um amor pelas coisas nossas com cheiro de terra, já que meu pai cantava e meu avô e minha mãe tocavam gaita. Naturalmente eu trazia no sangue a música e principalmente o amor pela terra".

Ortaça dedilhou o primeiro violão com o Emílio de Matos. Era um violão velho e quebrado, que ele mandou reformar numa marcenaria. "Custou muito caro, tive que pegar em três vezes", lembra Ortaça que foi se apresentando em galpões, estâncias e canchas de bocha.

"Naturalmente muitos me ajudaram e outros diziam que eu tinha é que trabalhar, pois naquele tempo só o pessoal vagabundo é que cantava e tocava. Hoje, eu estou aqui, com muito carinho do Rio Grande e do Brasil", diz o bem-sucedido intérprete.

Sobre o ofício de compor, Ortaça diz: "Onde moro já é uma fonte de inspirações, porque as Missões têm mais de 300 anos de história. Sou descendente de índios, minha avó era índia. A gente traz no sangue a arte e princpalmente a história maior que nós temos. O missioneiro não tem lugar específico para compor; é quando vem a inspiração; é de momento".

Música triste

Eu me chamo Pedro Ortaça,
nascido lá no Pontão.
Sempre cantei minha terra,
com raça, fibra e garrão.
Queira Deus que eu cruze o mundo
sem nunca negar o meu chão.

Muitos definem como triste a música missioneira, devido à sua inspiração indígena. Pedro Ortaça concorda com isso e explica: "Nossa música é um pouco triste porque a história missioneira é cheia de tristeza, mas também existe a hora do lazer e de alegria. Afinal, nós, missioneiros somos alegres. A formação do gaúcho vem das Missões, dos índios, mas nossa maior inflência é árabe e existe o gaúcho do deserto e o gaúcho do sul."

Assim Ortaça conta como foi composta a famosa Bailanta do Tibúrcio, um de seus sucessos:

"Quando era pequeno, meus pais se reuniam com o Tibúrcio e com todos os vizinhos do Rincão e no fim de semana arrumavam espaço no galpão e faziam o baile. Tinha gente que atravessava riachos a pé para balançar o mocotó na bailanta do Tibúrcio. Meus pais me levavam e eu ficava no quarto com as outras crianças, olhando pelas frestas da parede as pessoas dançando. Tudo isso ficou gravado na minha memória e a uns sete anos atrás resolvi escrever a Bailanta do Tibúrcio baseado naquilo que minha memória pode registrar".

Ortaça explica também sobre o café: "O Tibúrcio, dono da festa, parava o baile dizendo que estava na hora do café. Antigamente era costume os homens se servirem primeiro" e depois que se satisfaziam, usavam a expressão: "Agora levantam os homens para comerem as mulheres.!"


Divide, assim, o seu talento - porque sabe e conhece e proclama que os "missioneiros", de nascimento ou por adoção anímica, são uma única e potente voz a reverenciar, de ontem para o amanhã, os legados de flor e lança, sangue e sêmen que lhes deixou a "pátria colorada" dos Sete Povos. Fimbriada, em seu costado de resistência e confrontos, pelo rio Uruguai. Que todos (pai e padrinho) batizaram com suas águas de cantiga.

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