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De olho no IDH!

por Carol Westphalen *
publicado em 26/07/2004.

Em relação à importância que se dá ao nível do bem-estar de uma população, dentre os 177 países, o Brasil está em 72o lugar no ranking. O desenvolvimento humano no mundo anda precário. Dentre os países analisados, apenas 55 têm um alto Índice de Desenvolvimento Humano - um alto índice estaria acima de 0,800. 1 bilhão de pessoas vive com menos de US$ 1 por dia e 831 milhões são subnutridas. Nos últimos 10 anos, 20 países andaram para trás. Em 46 países as pessoas estão mais pobres do que estavam há 10 anos. Os requisitos básicos que deveriam estar à disposição de uma população para um bom desenvolvimento humano são: saneamento básico, saúde, educação, alimentação e, com muita sorte, moradia; o resto seria conseqüência.

Um estudo feito pela ONU, em 2004, deixa claro que cada brasileiro tem 11,5% de chance de não viver até os 40 anos. Pelo menos, estamos longe da Zâmbia, que tem o pior desempenho de longevidade - nesse país, vive-se, em média, até os 32 anos. Os egípcios, na época dos grandes faraós, viviam até mais ou menos essa idade - o que indica que, ainda hoje, séculos depois de Tutankámon, com todo o avanço da medicina, da ciência e da tecnologia, em muitos países ainda não se têm alta longevidade. Serra Leoa, mesmo depois de ter sido remendada e reconstruída, com ajuda da ONU, de Deus e do mundo, é o país com menos IDH do planeta. A Noruega, uma nação onde quase 100% das pessoas são tratadas a pão-de-ló pelo governo, ocupa o primeiro lugar da lista dos países que mais querem bem seus povos. Quer dizer, então, que tanto a satisfação como a insatisfação influencia as pessoas à violência ou até mesmo ao suicídio? Como podem dois extremos tão distantes influenciar igual e negativamente as pessoas? Percebe-se, então, que o caminho da felicidade não se resume em ter uma vida perfeita cheia de vantagens, prazeres e dignidade. Ter tudo à disposição é tão nocivo quanto não ter nada.

Um fator de extrema importância para os indivíduos de uma nação é a liberdade de serem eles mesmos. As sociedades, em geral, impedem as pessoas de serem elas mesmas. E isso acontece tanto nos países de baixo IDH como nos de alto IDH. Nos quatro cantos do mundo, tudo tem que ser como manda o figurino. Qualquer dissonância é punida rigorosamente. É proibido por lei pisar na bola. É preciso fazer tudo de acordo com as convenções para não ficar de fora. As pessoas não têm outra alternativa a não ser se curvar diante de um cotidiano maçante e sucumbir ao papel de títeres. A humilhação é lenta e profunda. O massacre é tanto que, sem as pessoas se darem conta, a sociedade as desfigura. É natural que o ser humano, quando influenciado por uma sociedade onde há um certo caos, devido às cobranças, se torne narcisista e/ou egoísta. Por que? Porque onde existe competição, dificilmente, alguém pára em meio à corrida para estender a mão, principalmente, àqueles que ficaram para trás.

Segundo Arthur Schopenhauer, um grande pensador alemão do século XIX, a sociedade obriga as pessoas a demonstrar uma paciência sem limites para qualquer absurdo por ela imposto. Entretanto, onde a vida parece ser um mar de rosas, as pessoas também não se sentem satisfeitas e realizadas - quanto mais elas conseguem atingir suas metas, mais barreiras e, também, insatisfações elas irão encontrar. A questão do bem-estar versus mal-estar é um paradoxo, pois percebe-se que assim como os que não podem ser ou ter, os que podem ser e têm também sofrem com a mesma intensidade. Com exceção daqueles que agem de má-fé, independentemente de casta, crença ou ideologia, a humanidade merece viver bem.

Sobre o Autor

Carol Westphalen: Caroline C. Westphalen nasceu em Porto Alegre, mas aos 10 anos foi morar em São Paulo. Formou-se em Comunicação Social e fez pós-graduação em Sócio-Psicologia. Atualmente, mora no litoral do Rio Grande do Sul, faz Psicologia e trabalha como jornalista/colunista.Em 1999, escreveu "Confluência dos Ws" (Editora Writers), uma pequena compilação de crônicas e contos, junto com o amigo Diego Weigelt, crítico de música e radialista. Carol reuniu algumas crônicas em 2004, mas ainda não tem editora. Sinto que meus textos incomodam. Também não gosto de perceber e encarar certas realidades, diz Carol.

Seus textos sobre comportamento e vida também podem ser lidos no site da revista TPM.Carol também escreve um diário: http://www.diariodecarolw.blogger.com.br

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