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Conteúdo Facista da Telenovela
por Antônio Ribeiro de Almeida
*
publicado em 19/06/2004.
Quando li este artigo do Leitão Ramos me vi na obrigação de refletir, com os meus leitores, sobre alguns dos pontos que ele desenvolve e que relacionam a telenovela com a forma de vida fascista. Isto, provavelmente, incomodará a muitos e sentir-me-ei satisfeito se um defensor das telenovelas escrever um artigo provando justamente o contrário do que foi denunciado pelo crítico português. Examinarei apenas três pontos:
Ponto 1. A telenovela é o desdém pelo espectador enquanto ser pensante- tudo está digerido; Ponto 2. A telenovela é a interdição da ambigüidade- a realidade é óbvia e Ponto 3. A telenovela é o triunfo das massas, não no sentido democrático, mas no sentido da demagogia- mantê-las amarradas a uma ração insípida e insipiente é a melhor forma de elas nunca saberem que os senhores comem outra coisa.
A telenovela, com o seu vocabulário de poucas palavras, com tomadas de câmara programadas, com a velocidade com que os quadros se sucedem, trabalha, excessivamente, com o despertar de emoções no tele-espectador e impede a reflexão. A psicologia tem demonstrado que, quanto mais intensamente uma emoção domina uma pessoa, menos ela raciocina. O mesmo não acontece, por exemplo, quando se lê um bom livro e o leitor pode reler muitas vezes uma passagem e refletir sobre o que está acontecendo. Nos grandes romances, seja de um Machado de Assis ou de um Josué Montello, nem tudo está digerido. Eles pedem reflexão e existe um perfeito equilíbrio entre pensar e sentir. A telenovela explora mais o sentir do que o pensar, e, isto é um traço do fascismo.
O segundo ponto proposto por Leitão Ramos é com relação à realidade. A ambigüidade é o oposto do que acontece na telenovela onde a realidade é óbvia. Ambigüidade, na filosofia existencialista, é a situação do homem na existência que deve lutar para dar sentido à vida. Na telenovela o que temos são personagens que vivem dilemas cujas soluções o tele-espectador advinha. A ausência desta ambigüidade é outro traço do fascismo.
Finalmente, no terceiro ponto Leitão Ramos aponta que a telenovela oferece às massas uma "...ração insípida e insipiente " que elas devoram e que não permite que elas descubram que os senhores (aqueles que controlam as redes de televisão, que fazem e desfazem presidentes como os mitos nos esportes, na música, etc. ) "comem outra coisa. " Isto me lembra uma pergunta que fizeram, há anos, a um poderoso dono de tv no Brasil se ele assistia as novelas do seu canal. Sua resposta foi muito clara : " Eu nunca assisto tv." Ele, evidentemente, e sua entourage comiam outra coisa, enquanto o povão estava escravo das suas novelas e chorava, suspirava, ria e odiava. E isto é fascismo! Ao leitor deste artigo, que também assiste telenovelas, fica o convite para que confira estes pontos e constate se eles são ou não pertinentes.
Sobre o Autor
Antônio Ribeiro de Almeida: Jornalista e escritor de São José do Rio Preto/SP.Doutor em Psicologia Social, FFCLRP-USP
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