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Ao escritor, as batatas

por Luiz Ruffato *
publicado em 01/04/2004.

Estamos às vésperas de dois dos maiores acontecimentos da vida literária brasileira: a entrega e o início do processo de seleção, respectivamente, dos prêmios mais prestigiosos, o Jabuti e o Portugal Telecom. Este, em sua segunda edição, aquele na 46ª. Um bom momento, pois, para uma reflexão.

Comecemos pelo Portugal Telecom, que distribui um total de R$ 150 mil. Há vários aspectos louváveis na organização desse prêmio, além do montante envolvido.

Um deles, sem dúvida, é a transparência na seleção dos finalistas. Grosso modo, funciona assim: 600 convidados, entre críticos literários e professores universitários, de todas as regiões do país, indicam os cinco melhores livros do ano anterior e apontam 15 nomes que, junto com cinco previamente escolhidos (a comissão artística) formam o júri nacional, composto, portanto, por 20 membros. Nenhum outro concurso do Brasil tem tamanha preocupação com a lisura do processo.

Em outros aspectos, no entanto, há problemas. Os organizadores, visando democratizar e universalizar as oportunidades, põem no mesmo cesto para análise do júri categorias de "criação literária" tão díspares como romances, contos, crônicas, poesias e dramaturgia. Como julgar se uma peça de teatro, com suas especificidades, é melhor que um romance ou uma coletânea de contos, se cada um desses gêneros traz em si sua própria problematização? Seria comparar qualidade, numa feira livre, de limões com peixes...

Outro ponto a ser questionado é a lista de livros que a organização oferece como referência da produção literária em 2003.

O regulamento reza que podem ser indicados apenas três títulos de "autores brasileiros, com obras publicadas em primeira edição no Brasil, no período entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2003", sendo expressamente vetados, entre outros, "livros, cujos textos tenham sido publicados anteriormente ao ano em análise, no todo ou em parte, em livro de autoria do próprio autor".

Ora, num exame superficial da listagem, emergem títulos que nunca poderiam ali se encontrar. Por exemplo: os da coleção "Melhores Poemas", "Melhores Contos" e "Melhor Teatro", da Global, e "Poesia Reunida", de Alexei Bueno, todos por razões óbvias. "James Lins", de Mário Prata, e o clássico "O Tronco", de Bernardo Élis, publicados, respectivamente, em 1994 e 1956. "A Família Agulha", de Luís Guimarães Jr., e "Caramuru", de Santa Rita Durão, importantes reedições dos originais de 1870 e 1781. E todos os livros da iEditora, se tomarmos o verbo "publicar" em seu significado até aqui consagrado de "levar ao conhecimento do público", por serem livros eletrônicos.

Por fim, a Portugal Telecom inovou ao transformar a entrega do prêmio em jogada de marketing. A festa do ano passado literalmente estendeu um tapete vermelho para a chegada à Sala São Paulo, que ficou lotada de atores, modelos, publicitários, alpinistas sociais e até mesmo escritores.
No palco, o público foi brindado com um esdrúxulo sistema de pontuação, decalcado das apurações de escolas de samba. No Carnaval, esse mecanismo é justificável, já que se trata deliberadamente de uma espetacularização do evento. Mas impor o mesmo a uma manifestação cultural...
E foi justamente a carnavalização que parece ter perseguido a CBL (Câmara Brasileira do Livro) para a edição deste ano do Prêmio Jabuti.

Buscando a "objetividade", foram criados critérios de avaliação para cada um dos gêneros em julgamento (são 17 concorrentes, além do Livro do Ano de ficção e o de não-ficção), compostos por quesitos que devem ser analisados pelo jurado para compor uma nota. Esse critério, no entanto, oferece armadilhas terríveis contra o escritor. Vejamos: nove quesitos compõem a nota do gênero romance. Para obter o escore máximo, o romance deve seguir uma receita, que inclui itens como "história individual dentro de um contexto coletivo", "é preciso que o(s) protagonista(s) se moldem durante o conflito, dele emergindo com a experiência advinda da crise"; "ação + história + transformação devem estar presentes, amalgamadas na narrativa" etc. etc. etc.

Ou seja, estabeleceram-se "fórmulas" para a construção do romance... E fórmulas calcadas no gênero tal como era no século 19...
Na categoria "contos e crônicas" (que a CBL insiste em colocar sob o mesmo guarda-chuva), os critérios (oito, em que todos se referem apenas à criação de uma fôrma para o conto) envolvem afirmações como "o conto é uma corrida contra o relógio", "nada deve haver de supérfluo", "algum filão oculto deve aflorar à superfície nos interstícios e no fim do conto". Tchecov, coitado, não teria a mínima chance...

No âmbito da poesia, um se destaca: "as estratégias de leitura podem variar conforme o leitor. A obra de arte está aberta a "n" interpretações, mas há as mais apropriadas, as menos produtivas e as não apropriadas". Bingo!

Ah, para não falar ainda do valor do prêmio: R$ 1.000 (isso mesmo!) "deduzidos os encargos legais". Sem comentários.


(Publicado na Folha de S. Paulo - 1/4/2004 - por Luiz Ruffato*)

Sobre o Autor

Luiz Ruffato: O jornalista e escritor Luiz Ruffato, autor de dois livros de contos, Histórias de remorsos e rancores (Boitempo, 1998) e (Os sobreviventes) (Boitempo, 2000), ambos elogiados pela crítica e pelo público, é hoje um dos grandes autores que apareceram no fim dos anos 90. Nasceu em Cataguases (MG), em 1961, cidade que abrigou o Grupo Verde, criador da efêmera (1927 a 1929) e importante revista modernista Verde. Ruffato também publicou três livros de poesias, cujos títulos ele sequer ousa se lembrar. Continua a escrever versos, tendo, inclusive, um livro de poesias pronto para publicação, As máscaras singulares, e ocupa a Secretaria de Redação do Jornal da Tarde.

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