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Por que devemos ler os clássicos?
por Antônio Ribeiro de Almeida
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publicado em 30/01/2004.
Procurei consolá-lo e dizer que o avanço dos bárbaros era geral em todo Brasil e que eles dominavam meia dúzia de palavras que usavam em todas circunstancias como "tipo assim". Em São Paulo, expliquei, a situação não é muito diferente e que aqui, mais do que em Minas, dominam, nas livrarias, os famosos livros de auto-ajuda que ajudam mesmo os donos de livrarias e as editoras que publicam estes livros. Antes de despedirmos fez questão de me levar a uma livraria e me presentear com um livro raro "Momentos de Minas", repleto de fotos das nossas montanhas e de provérbios, com uma singela dedicatória: "Ribeiro, para você não esquecer que pertence às Minas Gerais" Tendo deixado Minas há mais de 36 anos para lecionar, primeiro em Assis e depois em Ribeirão Preto, fiquei a matutar como certos laços não se cortam e como a mineiridade continua tão forte dentro de mim que já me julgava um paulista. Matutando sobre o problema da leitura dos clássicos escrevi este artigo, primeiro, em homenagem ao velho colega e depois na esperança que ele motive um jovem ou um adulto a ler ou reler um clássico da nossa literatura. Embora seja pretensioso ao indicar alguns clássicos da literatura eu definirei o termo numa consulta ao Houaiss. O nosso dicionarista escreve que o conceito de "classicus scriptor" (escritor clássico) foi usado no século II d.C pelo gramático Aulo Gélio. Ele se referia aos grandes escritores da Grécia e de Roma. Eram clássicos Homero, com a sua Ilíada, Hesíodo no texto "Os trabalhos e os dias", Ésquilo o poeta trágico e em Roma o grande Cícero e Júlio César. Quando fiz meu ginásio, bem antes da reforma americana do nosso ensino, no famoso Ponto IV, cheguei a ter o Latim como disciplina e nosso livro de VanDick Londres da Nóbrega trazia textos de César e de Cícero para que traduzíssemos.
O conceito de clássico, num primeiro momento, volta-se para a Antiguidade Greco-Latina. Mas os Renascimentos Italiano, Espanhol e Português nos legaram vários clássicos. Dante Alighieri, com sua "Divina Comédia" - da qual existe excelente tradução de Cristiano Martins - é um clássico. Da Espanha vem Miguel de Cervantes Saavedra com o seu "Dom Quixote de la Mancha", e, de Portugal o nosso Luís de Camões com "Os Lusíadas". Dante e Cervantes estão traduzidos para a nossa língua. A leitura de Camões não é nada fácil para os jovens de hoje devido a desculturação que invadiu nosso povo e que tem prejudicado profundamente a formação de uma identidade nacional.
Fala-se mal o português e escreve-se também com severa deficiência lingüística. Não quero, contudo, desanimar ninguém. A titulo de exemplo a leitura de "Os Lusíadas" deve ser feita inicialmente nos resumos, em prosa, dos Cantos. Desta forma o leitor intera-se do "enredo" e tendo ao lado um bom dicionário da nossa língua deverá, de cada canto, anotar as palavras cujo significado desconhece. Uma segunda leitura será feita com o domínio dos significados e a beleza e o ritmo dos versos penetrarão fundo na alma do leitor. Quem não tiver esta disposição deverá começar a ler os clássicos do Brasil, e, neste caso, a leitura de Machado de Assis (1839-1908) é indispensável.
A editora Globo publicou em 1997 as "Obras Completas de Machado de Assis" que qualquer biblioteca pública deve ter. Neste caso o leitor pode começar por "Dom Casmurro" ou "Memórias póstumas de Brás Cubas". Se ele ler estes dois romances não deixará de ler todo o Machado. Por que devemos ler os clássicos? Existem muitas respostas. A minha é para que continuemos fiéis à nossa origem greco-latina-portuguesa e para que dominemos um pouco melhor nossa linguagem. Como escreveu Ítalo Calvino "Os clássicos são livros que, quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são lidos de fato mais se revelam novos, inesperados, inéditos".
Sobre o Autor
Antônio Ribeiro de Almeida: Jornalista e escritor de São José do Rio Preto/SP.Doutor em Psicologia Social, FFCLRP-USP
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