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Em busca da felicidade oculta

por Noga Lubicz Sklar *
publicado em 11/06/2009.

"E quando volto aos Estados Unidos mais ou menos a cada três meses e pego um jornal, descubro que não perdi tanto assim afinal. Enquanto estive relendo P.G. Wodehouse, ou "Walden", a loucamente acelerada montanha-russa do ciclo 24 hs por dia de notícias propulsionou as pessoas pra cima e pra baixo e pra baixo e pra cima e depois as deixou praticamente no mesmo lugar em que haviam começado", escreve, no NY Times, Pico Yier*, um bem-sucedido jornalista de Park Avenue que largou tudo para viver num templo escondido no Japão, lendo e escrevendo quando lhe dá na telha com uma tangerina fresca na mão.

Pois não se espantem ao descobrir que o artigo foi publicado a, digamos assim, uns 3 ou 4 dias atrás, porque cá entre nós, embora eu tenha pretendido em bem menor escala atingir essa calma lenta de rotina ideal, tendo chegado a exatamente as mesmas conclusões de Yier pelo menos quanto à compulsiva leitura de notícias online and off, ando tão ocupada, tão preocupada, tão tensa, deprimida e atarantada como nunca estive antes — nem morando no Rio por mais de 30 anos, gente! — sem tempo ou disposição pra mais nada além do trabalho intenso, da ansiedade e da culpa não-sei-de-quê, ah, sim, pra variar: todos os males do mundo, da obra, e, claro, do conturbado casamento. Porque a nossa tão cultivada doença urbana mental, todo mundo sabe, segue firme e fiel, ofegante, latindo e lambendo o nosso ego fatalmente afetado como se um cachorrinho excitado fosse, bem ali do nosso ladinho onde quer que a gente esteja. Com um copo enorme de vodka na mão.

Verdade que estou a poucos dias, poucas horas e mais alguns segundos — aiai, respira fundo — de tudo isso se acabar, ou se modificar, para o bem ou para o mal, com alguns poucos sinais de menos ou mais apontando para um fim normal, um novo começo profissional em que um pouco de calma, ou de sorte, ou sem grandes favores o franco resultado do trabalho intensivo de toda uma vida poderá, desdenhosa e finalmente, dispensar-me antes da morte certa algum doce e modesto usufruto, ui, soei trágica agora.

Mas isso, gente, é pra me consolar de antemão da ausência futura de uma — (im?)possível? — reviravolta brilhante, vocês sabem, daquelas clássicas, dramáticas, aplaudidas sacadas hollywoodianas que elevam o herói a seu pódio iluminado um teco antes da bancarrota final, coisas de filme, mesmo. Porque embora em minha vida eu dificilmente careça de lances crucio-radicais cinematográficos, dignos da mais imponente e cada vez mais rara tela grande, a grande verdade é que após algum tempo instigante, por artes malignas do destino, tudo volta a um cotidiano chinfrim de mesmice interiorana que eu trago pra lá de oculto em mim, arrastando consigo os grandes amores, os altos e baixos inebriantes de uma drogada dependência de sucesso público a culminar, teatétricamente, num prosaico "me deixem só".
No fundo no fundo, não sei se é desejo ou desculpa. A conferir.

*embora Pico Yier afirme em seu artigo que "as ferramentas que escolheu, palavras escritas, estejam aparentemente se tornando meros acessórios de imagens", a qualidade do que ele escreve — e, por extensão, a qualidade lida do calmo lazer literário que pratica — toca fundo em quem o lê. dá uma esperança danada de acertar-se na vida.

Sobre o Autor

Noga Lubicz Sklar: Noga Lubicz Sklar é escritora. Graduou-se como arquiteta e foi designer de jóias, móveis e objetos; desde 2004 se dedica exclusivamente à literatura. Hierosgamos - Diário de uma Sedução, lançado na FLIP 2007 pela Giz Editorial, é seu segundo livro publicado e seu primeiro romance. Tem vários artigos publicados nas áreas de culinária e comportamento. Atualmente Noga se dedica à crônica do cotidiano escrevendo diariamente em seu blog.

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