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Noite Nula
por Anderson Borges Costa
*
publicado em 28/12/2008.
É nesse momento que a leitura dos poemas nesta obra nos toca e passa a fazer parte do leitor, entrando em nossas veias como grito (a voz vem do útero rasgada- uivo alucinado de quem só quer uma chance-e já na garganta se transforma em pranto rouco, canto de quem nasce e renasce e morre), como choro (olha o som do saxofone de novo), como música. Neste sentido, Carlos Felipe Moisés atingiu o que sempre almeja em seus livros, ele conseguiu tocar nessa variedade de coisas de uma forma tal que transmite ao leitor alguma comoção. E lembro aqui que a palavra comoção sugere o movimento acompanhado: os poemas em Noite Nula movem o leitor, que se vê, neste movimento, acompanhado de suas perturbações e de seus incômodos.
O universo é recheado de estrelas, de brilho, mas a luz é uma exceção ali: o universo é quase todo escuridão. E é no escuro que caminhamos lendo o Noite Nula. As perguntas nos levam a incertezas e dúvidas. O livro levanta uma questão básica, que pode ser ilustrada no verso: Como vão as coisas, Charlie?. Tal pergunta, aparentemente apenas fática, aparentemente uma simples referência a Charlie Parker e a Jorge Benjor, na verdade, convida agressivamente o leitor a tentar enxergar-se no breu sem lanterna: Chega de tu! É você. E a resposta parece que nunca chega com a suavidade musical do jazz, pois o eco constante da própria vida dos vários personagens-poemas (o sopro do jazz nesta obra também se dá no título de vários dos poemas) remete ao delírio, ao desequilíbrio e à dúvida. Há em Noite Nula um desfile de substantivos, advérbios e adjetivos que martelam com baquetas de bateria uma dúvida existencial que nos move para a morte (ou renascimento?) incessante: penumbra, ninguém, nenhum, negação, choro, grito. E eu me busco na dúvida, na incerteza, no escuro. Me encho de nadas que me sopram vazios. E sonhos. E leio que Nada compensa o vazio da meta não sonhada.
Noite Nula é, para mim, um piscar de olhos: ao fechar as pálpebras, mergulho na certeza das trevas; ao abri-las, entro na luz da dúvida. Todo este movimento para, no final, concluir que a noite é nula. Mas é no nada que eu cresço.
Existe um elemento constante em Noite Nula, que, por ser inalcançável, não pode ser tocado, e faz com que sempre pisemos em solo movediço: o tempo. O tempo estápresente na noite, no escuro, no ontem hoje sempre do Kay Sage; no amanhã é nunca. No nada original do Big Bang e até na clareza do dia no nome Billie Holiday (cujo dia não é qualquer dia, é um dia sagrado, portanto idealizado e inatingível).
Quero dizer, para finalizar, que a experiência de ler Noite Nula foi, sim, perturbadora e me deixou, até agora, entusiasmado e espantado. Vale a pena atravessar o Katrina de suas páginas. Vai um uísque aí?
Sobre o Autor
Anderson Borges Costa: O autor tem 43 anos e é professor de Literatura Brasileira (pela USP) na Escola St. Nicholas em São Paulo< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>
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