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Dom Quixote e a modernidade

por Carol Westphalen *
publicado em 30/10/2008.

Dom Quixote foi escrito pelo escritor espanhol Miguel de Cervantes em 1605. A mais famosa obra de Cervantes foi o primeiro produto de massa da história da humanidade a acontecer e, atualmente, é o segundo livro mais traduzido do mundo. Para a mentalidade ainda medieval do século XVI, Dom Quixote era cômico. Em meados de 1800, Dom Quixote era considerado libertário. E, no século XX, comentava-se que ele era lunático. Algo de importante deve ter Dom Quixote, pois o vemos não apenas na literatura como também na história, na filosofia e na arte há 400 anos. É um personagem revolucionário e fundador e, ao mesmo tempo, universal e eterno.

O personagem de Dom Quixote já faz parte do hall de arquétipos junguianos da humanidade. O fidalgo era guerreiro, assim como a maioria das pessoas, principalmente, o brasileiro, o é. Ele saiu de sua aldeia e foi para o mundo, assim como fazemos quando deixamos de ser criança para nos aventurar no mundo adulto. Dom Quixote fugiu da vida real e foi se esconder em suas fantasias, assim como fazem algumas pessoas que preferem não encarar a realidade. Dom Quixote era um louco lúcido porque enxergava o que os outros não enxergavam, mas também era ingênuo porque a maioria de nós sabe que é impossível mudar o mundo – pode ser que seja possível alguma mudança no bairro em que moramos. O personagem idealista fez uma apologia à amizade, relação na qual aconteceram milhares de sentimentos bons e ruins. Apesar de opostos, um não podia existir sem o outro, pois eram complementares. Afinal, a humanidade é produto dessa multiplicidade de dualidades.

Assim como hoje, na época de Cervantes coexistiam os que podiam se gabar de suas riquezas infindáveis e os que não tinham onde cair mortos. Dom Quixote tinha o espírito aventureiro de Cervantes – o mesmo, provavelmente, do ser humano. Cervantes fala de liberdade em sua obra, mas não da liberdade de nascer acorrentado a um sistema que em sua época já era capitalista e ditador. Foi devido à mente altruísta e justa de Cervantes que o espírito da esperança, através do personagem Dom Quixote de La Mancha, permaneceu vivo até hoje e jamais morrerá. Apesar das dificuldades que a humanidade enfrenta a cada dia, é preciso acreditar que existe uma solução para quase todas as coisas.

Sobre o Autor

Carol Westphalen: Caroline C. Westphalen nasceu em Porto Alegre, mas aos 10 anos foi morar em São Paulo. Formou-se em Comunicação Social e fez pós-graduação em Sócio-Psicologia. Atualmente, mora no litoral do Rio Grande do Sul, faz Psicologia e trabalha como jornalista/colunista.Em 1999, escreveu "Confluência dos Ws" (Editora Writers), uma pequena compilação de crônicas e contos, junto com o amigo Diego Weigelt, crítico de música e radialista. Carol reuniu algumas crônicas em 2004, mas ainda não tem editora. Sinto que meus textos incomodam. Também não gosto de perceber e encarar certas realidades, diz Carol.

Seus textos sobre comportamento e vida também podem ser lidos no site da revista TPM.Carol também escreve um diário: http://www.diariodecarolw.blogger.com.br

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