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Estado de medo

por Noga Lubicz Sklar *
publicado em 06/06/2008.

Ah, gente, tudo bem. Eu sei que já usei esse título aqui no blog* um bom número de vezes, mas vocês sabem, é duro superar a própria genialidade, etc, etc. Tudo isso porque não deu pra descolar outro melhor, aí, desculpem a pressa. E o mau jeito.

Embora eu tenha um pendor genético para o Botafogo, não entendo nada de futebol e nem assisto a jogo. Mas da primeira metade da crônica do Dapieve no Globo de hoje eu entendo muito bem, me entendam bem: eu também era nova na época da ditadura, bem, nem tão nova quanto o Dapi, tá certo. Mas da sensação de ser constantemente vigiada me lembro muito bem. Ih. Principalmente porque arrisco dizer que ela permanece no Brasil de hoje, é, gente: como toda boa vítima da Síndrome de Estocolmo, conservamos com muito carinho em nossa rotina diária alguns dos piores males da ditadura, tais como arbitrariedades do poder, engessamento da justiça e uma justificação heróica da mentira em cena, é, cena política, digo. Taí Dona Dilma que não me deixa mentir, ah, deixa pra lá que esse papo é pesado: só a liberdade da imprensa salva.

Se vocês soubessem o que estou passando - mas, o que é que estou dizendo: todo mundo já sabe o que estou passando - entenderiam muito bem que apesar de não ter sido jamais torturada (embora muitas vezes, sim, reprimida, raramente pelo Estado, é claro, mas sempre pelo estado de coisas), e nem, ao contrário do que possa ter parecido, censurada, vivo com medo do que digo. E do que escrevo. Tal teimoso trauma do que não vi, e do que mal vivi, me obriga a mentir quando juro a verdade, como num certo comentário falso (ops: "de ficção") que produzi recentemente aqui no blog* por puro medo das consequências do meu impensado e falho ato, que de Freud, vamos combinar, não teve nada: foi intencional mesmo (gente: tô muito mal mesmo, já mentindo e jurando verdade num condenável contexto neurótico de Gestapo) , quem quiser que procure por no blog* pra descobrir do que é que estou falando. E pior: tenho evitado participar de discussões públicas sobre a arte de escrever, e de sobreviver escrevendo - esta sim, uma arte como poucas - por puro medo da má impressão dos meus mais caros pares. Ô miséria.

*para os verdes aqui do Verdes Trigos, em cada blog asteriscado entenda-se: Noga Bloga, meu cadafalso oficial

Leitura recomendada do dia: o poder restaurador da autocrítica, by David Brooks, sem a velha conotação chinesa, claro.

Sobre o Autor

Noga Lubicz Sklar: Noga Lubicz Sklar é escritora. Graduou-se como arquiteta e foi designer de jóias, móveis e objetos; desde 2004 se dedica exclusivamente à literatura. Hierosgamos - Diário de uma Sedução, lançado na FLIP 2007 pela Giz Editorial, é seu segundo livro publicado e seu primeiro romance. Tem vários artigos publicados nas áreas de culinária e comportamento. Atualmente Noga se dedica à crônica do cotidiano escrevendo diariamente em seu blog.

Para falar com Noga senda-lhe um e-mail ou add-lha no orkut.

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