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Caso acontecido, 1872
por Terezinha Pereira
*
publicado em 12/03/2008.
Izahias, aquele que a Ana Thereza atraía, não lhe dava tostão sequer. Nem carecia. Pedir, não lhe pedia vintém, não carecia. Aceitava seus afagos, sua meiguice, seu deslevo. Beijava-a com paixão. Oferecia-lhe flores......... afora o calor entremeado de brando afeto........
Se Vicente dela sentia ciúmes, ninguém podia afirmar, principalmente. Podia ser que tivesse era inveja do outro, que de Ana Thereza de Jesus recebia o melhor. Não podia coisa nenhuma oferecer a ela, se isso dava à outra. Entretanto, usou de sua força de macho, quando soube do caso com o Izahias. Cobriu-a de pancadas. Em defesa da honra varonil, tudo era permitido. Ora........
Manoel José era o pai de Ana Thereza. Para ele, filha não podia portar desaforo, ainda mais de marido que nunca desempenhara, de maneira primorosa, nem suas obrigações de cama, nem de casa, nem de companheiro nas alegrias e nas doenças, nas tristezas, nas carências. O que mais o aprazia era o aninhar-se nos braços de Agostinha, também de Jesus.
Sabendo da filha amarfanhada, vexada, juntou-se com o filho José Manoel de Oliveira e com Izahias, o que amava Thereza e dirigiram-se à casa da outra, a Agostinha_ de Jesus, onde sabiam que encontrariam Vicente, que esse não sairia vencedor neste caso. Entraram na casa de manso, sem alarde. Foi o primeiro que lá avistaram. Sem dizerem palavra, antes de tudo, extraíram-lhe a orelha do lado direito. Então, riscaram-lhe fundo a cabeça e foram puxando a lâmina até o maxilar, do lado esquerdo. Dali, fincaram a lâmina por debaixo do osso e a fizeram chegar, com força, até o fundo do seu olho, num furo da largura de meio dedo polegar. Homem como esse tal de Vicente Pereira tinha era que nunca mais poder ouvir, nem ver, mesmo depois de defunto. Para inteirar, aproveitando-se que o infeliz estava deitado no leito de Agostinha _ de Jesus, com suas botinas de solado áspero e duro, pisaram-lhe no pescoço, que ele tinha que morrer era por debaixo de seus pés.
Se Ana Theresa_ de Jesus, contou de suas desditas ao pai Manoel José, a seu irmão José Manoel de Oliveira e a Izahias, homem que lhe dava o que era de seus anseios, seria porque esperava ser vingada. Por causa disso, foi julgada junto com os matadores. Desse julgamento, o pai levou quatorze anos “prisão simples”, como se simples pudesse ser algum tipo de prisão. Izahias, a quem Ana Thereza_ de Jesus, deu mais do que a mão, levou vinte anos e mais o direito de cumprir trabalhos forçados. Para Ana Thereza _ de Jesus, a maior pena foi perder os carinhos de Izahias. Ela e o irmão, José Manoel não foram tidos como culpados. Vale dizer que o veredicto foi dado de acordo com o Código Criminal de 1830.
Se o caso tivesse ocorrido nos tempos de hoje........ natural........ coisa dos tempos........ Mas, em 1872?
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Milhares de documentos de séculos atrás estão sendo esmiuçados e estudados, para que a História oficial desta cidade e região, que se estende entre os rios Pará e Paraopeba, denominada “Mesopotâmia Mineira”, em comparação à região localizada entre os rios Tigre e Eufrates, no atual Iraque, conhecida, na Antigüidade, como Mesopotâmia, seja revista e recontada. Isso, graças aos pesquisadores voluntários do “Projeto de Resgate Histórico _ Acervo Documental Mesopotâmia Mineira”, coordenado por Geraldo Fernandes Fonte Boa, professor e historiador, atual diretor da FAPAM- Faculdade de Pará de Minas; Ana Maria Campos, pesquisadora e funcionária do “Museu Histórico de Pará de Minas”e Flávio Marcus da Silva, doutor em História pela UFMG, vice-diretor da FAPAM e coordenador do NUPE – Núcleo de Pesquisa da FAPAM”. Fazem parte do grupo ex-alunos do curso de História da FAPAM como Joandre Oliveira Melo e outros.
O caso recontado acima, como se fosse ficção, foi inspirado em um artigo escrito por um membro do grupo Mesopotâmia, Alaércio Antônio Delfino, relacionado a um crime violento ligado à traição, encontrado em registros de Processo Criminal, do período de 1870 a 1890.
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Visite o site do grupo "Mesopotâmia Mineira" e fique sabendo de muitos casos acontecidos em nossa terra e região:
http://www.nwm.com.br/fms/contos.html ou http://mesopotamiamineira.blog.terra.com.br/
Visite o blog da Academia de Letras de Pará de Minas :
http://alpm.blog.terra.com.br/
Sobre o Autor
Terezinha Pereira: Terezinha Pereira é romancista, contista, cronista, graduada em Letras, membro da Academia de Letras de Pará de MinasPublicações:
_ "Em confidência", romance publicado pela Mazza Editora, Belo Horizonte, 2000, premiado em concursos literários realizados no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais;
_ "Uma pianista numa noite branca..." , Caderno Literário de contos, 2004, pela Academia de Letras de Pará de Minas em parceria com o Jornal Diário;
_ Contos, na "Revista da Academia Mineira de Letras" (4 revistas);
_ Artigo, projeto de estudo do livro "Dom Quixote" para alunos de 8ª série do Ensino Fundamental, publicado na revista "Presença Pedagógica", de setembro/2005;
_ JB Online, Café Literário: Colunista da Semana, 23 a 29/11/2005.
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