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O vento Minuano...

por Gisele de Sá Corrêa *
publicado em 12/01/2008.

Lembro-me bem daquele dia, era outono, soprava o tal Minuano que até então eu só havia ouvido falar. Morando aqui há poucos meses, esta era a primeira vez que sentia o vento. Enfim, ali estava ele soprando nos meus ouvidos com toda a sua fúria.

Quis enfrentar este tão temido vento e sai para dar uma caminhada. Quando me dei conta de que era loucura tentar enfrenta-lo, tamanho era seu poder e estando eu desprotegida com estava. Não que eu estivesse desagasalhada, eu somente não possuía as roupas adequadas para enfrentar o que parecia ser milhares de giletes todas cortando meu rosto ao mesmo tempo, loucura.

Mas até aonde eu sabia este vento era motivo de muito orgulho para os gaúchos. Confesso que demorei a compreender o que ele tem de tão especial. Porém naquele dia fiquei atormentada com tudo o que eu pude ver com o soprar do Minuano, era algo realmente muito diferente o que viria pela frente. Mas fui com tudo, queria saber qual era a sensação do tal Minuano batendo no rosto. E realmente, confesso que não foi das mais agradáveis, até porque era cortante. E o mais interessante é que a sensação térmica era incrivelmente menor do que mostravam os termômetros da cidade. Quanto mais eu caminhava naquela friaca toda, mais eu me encantava com tudo ao meu redor.

O sol era de um dourado maravilhoso apesar de todo o vento e o frio que fazia. As pombas tinham disposições para ciscarem nas praças, muitas pessoas faziam caminhadas nos parque, e a vida parecia fluir normalmente naquele dia apesar da imensa quantidade de casacos. Mas nem tudo era assim tão agradável, foi quando olhei em direção ao rio que cruza a cidade e aí me deparei com a verdadeira estória cruel do Minuano.

Uma família inteira sentada à beira de uma lata de óleo onde queimavam alguma coisa na intenção de se aquecer. Porém a expressão deles demonstrava que nada seria capaz de aquecê-los naquela tarde tão fria, e denunciava a preocupação com a noite que se segueria, embaixo daquela ponte. Comecei a pensar numa pobre criança que ali estava sem nenhum sapato nos pés, e eu com duas meias e ainda sentindo meus pés gelados. E aquela criança como estaria se sentindo, do nariz saia o que aqui chamam de "ranho", o que não poderia ser de outra forma, coitada!!! Como conseguiriam passar por aquela noite que prometia ter temperatura abaixo de zero?

Voltei para casa horrorizada com o Minuano que num primeiro momento me deixou fascinada, tomei uma sopa bem quente e fui para de baixo das cobertas tentando esquecer aquelas imagens, acabei pegando no sono.

Na manhã seguinte fui até a porta o sol já brilhava lá fora, mas o frio ainda ardia à pele, peguei o jornal e fiquei chocada com a notícia de capa: "Noite mais fria do ano provoca morte de criança moradora de ponte na capital".

Sobre o Autor

Gisele de Sá Corrêa: Gisele de Sá Corrêa é carioca, formada em Zootecnia pela UFRRJ, mora em Porto Alegre há dez anos; e atualmente cursa Letras na PUCRS.

A literatura é a magia sem um mágico onde cada um faz a mágica acontecer, interpreta e imagina a sua maneira e é isto o que me fascina.

E-mail: giseleczago@yahoo.com.br

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