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A inquietante narrativa de Ronaldo Costa Fernandes
por Geraldo Lima
*
publicado em 08/12/2007.
A obra de Ronaldo Costa Fernandes, autor brasiliense de vasta bibliografia e ganhador de prêmios literários como o Casa de las Américas e o APCA, situa-se nesse universo inquietante, caracterizado pela obsessão por temas ligados à morte e à decadência do ser. No seu mais recente livro, Manual de Tortura, publicado pela Esquina da Palavra, Ronaldo nos apresenta, em contos curtos, um mundo assustador, sombrio, onde homens e objetos nos revelam sua existência precária.
São dezenove contos. São dezenove mergulhos na alma humana esvaziada de sentido. São dezenove passeios nos jardins do desencanto e da morte. São dezenove convites à boa e perturbadora leitura.
Quase sempre narrados na primeira pessoa, esses contos deixam vazar a existência inútil ou perturbada de personagens de diferentes extratos sociais: um professor de grego ( A peripécia), um aspirante a boxeador e empregado numa pastelaria (Calunga), um advogado (Os mortos falam ao telefone), um faxineiro (O incêndio) ou um comerciante (A prisão de Homero). A intenção do autor, no entanto, não é a crítica social, a denúncia das desigualdades sociais; procura, isso sim, mergulhar nos desvãos da alma humana e deixar saltar diante dos nossos olhos o mistério, a obsessão, a angústia.
Com frases geralmente curtas, algumas quase máximas nos lembrando as tiradas de Nelson Rodrigues ("Um homem deve ser senhor do seu último desejo." "Um homem honesto precisa disciplinar o corpo." "O desempregado tem o vício de empregar-se em pequenezas." "Os mortos são caixas de carne."), Ronaldo vai tecendo uma narrativa que busca, antes de tudo, o estranhamento. Num mundo onde objetos desaparecem ("Não admitia o sumiço da escada. Sem a escada não se fazia justiça." "Com os anos a mesa foi diminuindo. (...) O desaparecimento de uma mesa deveria ser um escândalo, um descaminho, desvario, desbordo. Os homens se acostumam a tudo, até mesmo ao que não é humano."), deixando as pessoas desamparadas, como se tivessem perdido parte do corpo; ou o inverso, com as pessoas se coisificando, ( "Boca de visor, orelha de cravelha, os olhos-lente." "O relatório passou a ser orgânico, biológico, visceral, enfim, circular."), temos a sensação de que o ser perdeu sua consistência e vigor. A sua marca é a decadência, o vazio, a solidão. Se há uma crítica social em alguns contos de Manual de Tortura, a mecanização do sujeito é a mais explícita.
Em alguns textos, o final aparentemente mal resolvido cria uma atmosfera de dúvida e angústia. É o que acontece no conto O embrulho: chegamos ao final da história sem saber o que há dentro do pacote que o personagem, homem honesto e misterioso, deve entregar a alguém. Trata-se de um ato ilícito, como o de tráfico ou entrega de suborno? O que incomoda e soa como ironia é que se trata de um homem de aparência impecável e que se diz honesto. Há ainda nesse e em outros contos um clima de absurdo, denunciando, talvez, a influência de Kafka. Em todos, predomina, no entanto, a maestria do autor experimentado e disposto a ir fundo na existência humana.
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