Crônicas,contos e outros textos

PÁGINA PRINCIPAL LISTA DE TEXTOS Geraldo Lima


COMPARTILHAR FAVORITOS ver profile do autor fazer comentário Recomende para um amigo Assinar RSS salvar item em delicious relacionar no technorati participe de nossa comunidade no orkut galeria relacionar link VerdesTrigos no YouTube fazer uma busca no VerdesTrigos Imprimir

São Miguel das Missões Verdes Trigos em São Miguel das Missões/RS - Uma viagem cultural

VerdesTrigos está hospedado no Rede2

Leia mais

 




 

Link para VerdesTrigos

Se acha este sítio útil, linka-o no seu blog ou site.

Anuncie no VerdesTrigos

Anuncie seu livro, sua editora, sua arte ou seu blog no VerdesTrigos. Saiba como aqui

A inquietante narrativa de Ronaldo Costa Fernandes

por Geraldo Lima *
publicado em 08/12/2007.

A boa literatura é sempre perturbadora. Um bom livro nos arrasta até suas entranhas e de lá saímos outro. Infelizmente, esse tipo de obra literária atrai muito pouco o grande público, que prefere, quase sempre, amenidades, nadar na superfície do texto. O mar revolto é para poucos.

A obra de Ronaldo Costa Fernandes, autor brasiliense de vasta bibliografia e ganhador de prêmios literários como o Casa de las Américas e o APCA, situa-se nesse universo inquietante, caracterizado pela obsessão por temas ligados à morte e à decadência do ser. No seu mais recente livro, Manual de Tortura, publicado pela Esquina da Palavra, Ronaldo nos apresenta, em contos curtos, um mundo assustador, sombrio, onde homens e objetos nos revelam sua existência precária.

São dezenove contos. São dezenove mergulhos na alma humana esvaziada de sentido. São dezenove passeios nos jardins do desencanto e da morte. São dezenove convites à boa e perturbadora leitura.

Quase sempre narrados na primeira pessoa, esses contos deixam vazar a existência inútil ou perturbada de personagens de diferentes extratos sociais: um professor de grego ( A peripécia), um aspirante a boxeador e empregado numa pastelaria (Calunga), um advogado (Os mortos falam ao telefone), um faxineiro (O incêndio) ou um comerciante (A prisão de Homero). A intenção do autor, no entanto, não é a crítica social, a denúncia das desigualdades sociais; procura, isso sim, mergulhar nos desvãos da alma humana e deixar saltar diante dos nossos olhos o mistério, a obsessão, a angústia.

Com frases geralmente curtas, algumas quase máximas nos lembrando as tiradas de Nelson Rodrigues ("Um homem deve ser senhor do seu último desejo." "Um homem honesto precisa disciplinar o corpo." "O desempregado tem o vício de empregar-se em pequenezas." "Os mortos são caixas de carne."), Ronaldo vai tecendo uma narrativa que busca, antes de tudo, o estranhamento. Num mundo onde objetos desaparecem ("Não admitia o sumiço da escada. Sem a escada não se fazia justiça." "Com os anos a mesa foi diminuindo. (...) O desaparecimento de uma mesa deveria ser um escândalo, um descaminho, desvario, desbordo. Os homens se acostumam a tudo, até mesmo ao que não é humano."), deixando as pessoas desamparadas, como se tivessem perdido parte do corpo; ou o inverso, com as pessoas se coisificando, ( "Boca de visor, orelha de cravelha, os olhos-lente." "O relatório passou a ser orgânico, biológico, visceral, enfim, circular."), temos a sensação de que o ser perdeu sua consistência e vigor. A sua marca é a decadência, o vazio, a solidão. Se há uma crítica social em alguns contos de Manual de Tortura, a mecanização do sujeito é a mais explícita.

Em alguns textos, o final aparentemente mal resolvido cria uma atmosfera de dúvida e angústia. É o que acontece no conto O embrulho: chegamos ao final da história sem saber o que há dentro do pacote que o personagem, homem honesto e misterioso, deve entregar a alguém. Trata-se de um ato ilícito, como o de tráfico ou entrega de suborno? O que incomoda e soa como ironia é que se trata de um homem de aparência impecável e que se diz honesto. Há ainda nesse e em outros contos um clima de absurdo, denunciando, talvez, a influência de Kafka. Em todos, predomina, no entanto, a maestria do autor experimentado e disposto a ir fundo na existência humana.

Sobre o Autor

Geraldo Lima: Geraldo Lima nasceu em Planaltina (GO) em 1959 e vive em Sobradinho (DF). É professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Já foi premiado em vários concursos literários. Publicou o livro de contos A noite dos vagalumes (Prêmio Bolsa Brasília de Produção Literária, FCDF, 1997) e o livro de literatura infantil Nuvem muda a todo instante (LGE Editora, 2004). Participou, em 2004, da Antologia do Conto Brasiliense (Projecto Editorial, org. por Ronaldo Cagiano). É autor das peças de teatro Error (encenada pela Oficina do Teatro de Periferia,1987) e Trinta gatos e um cão envenenado (inédita).

< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>

LEIA MAIS


Escritores e outros famosos colhidos pelas redes de uma cidade mitológica, por Chico Lopes.

Os bruxos nos governam, por Airo Zamoner.

Últimos post´s no Blog Verdes Trigos


Busca no VerdesTrigos