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Aos olhos de Gonçalves Dias
por Ignácio de Loyola Brandão
*
publicado em 04/11/2007.
A capital do Maranhão tem quase 400 anos. Em 1612, três naus trouxeram 500 franceses, capitaneados por Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardiére. Logo se ergueu o Forte de São Luís, em homenagem ao rei Luís XIII e se deu como fundada a França Equinocial. Dois anos depois chegaram os portugueses, construíram igualmente o seu forte, o de Santa Maria de Guaxenduba, os franceses não gostaram, atacaram e foram
derrotados. Mas em 1641, os derrotados foram os portugueses na luta contra os holandeses. Então, juntaram-se índios e colonos e expulsaram os holandeses. Toma lá, dá cá. O que era Maragnon se tornou Maranhão.
O centro histórico lembra Lisboa com seus balcões, varandas e mirantes. Aliás, o Mirante foi o logo da 1ª Feira, e também o tema: Mirantes de São Luís - Janelas de São Luís. Casas com paredes de pedra de um metro de espessura, ladeiras, escadarias, ruelas estreitas que se esparramam em pequenas praças e os célebres azulejos que tornam mágicas as fachadas. Cidade cujas ruas trazem nomes poéticos como do Sol, do Alecrim, do Deserto, do Gavião, do Navio, das Flores, das Hortas. Mas estas ruas merecem uma crônica só para elas.
Se na manhã de hoje estou chegando a Ouro Preto, no Fórum das Letrinhas, para falar com as crianças sobre O Menino Que Vendia Palavras, na semana passada estava ancorado às margens do Rio Anil na 1ª Feira de Livros de São Luís. Primeira, mas deu a impressão de ser a décima, tão azeitada estiveram as engrenagens, numa organização que parecia habituada a produzir encontros como este. São Luís é Patrimônio Histórico e o povo carinhoso recebeu com afeto os escritores e compareceu com entusiasmo à feira, muito bem localizada. Os maranhenses escolheram um lugar acessível a todos, bem servido por linhas de ônibus, diferente de São Paulo e Rio de Janeiro. Também diferente foi a gratuidade. Ali não se pagou para entrar e ver livros, esse hábito detestável da bienal paulista.
Abriram-se os braços para o povo entrar e os ludovicenses vieram aos magotes. Gostei de saber que quem nasce em São Luís é ludovicense. Sonoro e diferente. O esquema de São Luís se aproxima da Jornada de Passo Fundo, seu objetivo é formar leitores. O povo respondeu bem e 222 mil pessoas visitaram os stands na Praça Maria Aragão, onde se aninharam 50 mil títulos, venderam-se 2 milhões e 200 mil reais em livros, houve o lançamento de 103 obras de autores maranhenses, 46 mil estudantes vindos de 500 escolas públicas tiveram visitas agendadas e
mais 15 mil das escolas privadas foram encaixados. No Café Literário se apresentaram 20 autores do Estado ao mesmo tempo que aconteceram 37 oficinas e cursos para 2 mil educadores. Mais performances poéticas, grupos musicais, exibição de documentários. Escritores conhecidos do Brasil inteiro fizeram palestras para um público de 500 pessoas no auditório, com mais três telões fora da tenda.
Gente como Affonso Romano de Sant´Anna, Moacyr Scliar, Ana Miranda, João Lyra (o autor da biografia de Maysa), Bartolomeu de Campos Queirós e Adriano Duarte Rodrigues. O auge, encerrando a feira, coube a Ariano Suassuna, o insuperável. A platéia alucinada, parecia estar diante de um pop star. E ele é, domina o público, diverte, faz pensar, provoca aplausos contínuos, investe contra a mediocridade, luta pela cultura brasileira. Deliciou-nos com o parentesco que diz ter com os doidos e os mentirosos. "Um cria a realidade que mais o agrada, o outro tem um ponto de vista original sobre tudo". Ariano me lembrou o delirante Federico Fellini que sempre afirmou "Io sono um bugiardo"! (Sou um mentiroso).
Outra lembrança foi a de Odylo Costa, filho, ele gostaria de ter visto esta feira. Apaixonado por literatura, poeta, contista e cronista e sobretudo apaixonado por São Luís. Odylo, um amigo com quem trabalhei na Editora Abril, gentil-homem que revolucionou o jornalismo brasileiro ao dirigir o Jornal do Brasil, ao qual imprimiu nova feição, que me dizia que sua cidade acolhe, envolve, abraça. A 2ªFeira já foi prometida pelo poder público. Digo que por ser abrangente, ambiciosa, por ter um projeto definido em relação a leitores e estudantes, por abrir o livro ao povo, por abrir as portas das palestras, conferências e encontros gratuitamente a todos, por estar em uma praça que leva o nome de um ícone maranhense, Maria Aragão, idealista amada pela sua coragem inaudita, a Feira de São Luís, instalada em uma cidade arquitetonicamente histórica, mandou seu recado: cuide-se Flip, olhe lá Paraty! São Luís entrou no páreo para ficar - tem competência.
Sobre o Autor
Ignácio de Loyola Brandão: Ignácio de Loyola Brandão é jornalista e escritor contemporâneo mais do que conhecido/reconhecido e signo de uma geração que viu a sociedade brasileira se reconstruir e se renovar em pensamento a partir de obras como Zero, Não verás país nenhum, O verde violentou o muro, O presente é o futuro (Manifesto Verde), O beijo não vem da boca entre outros. Laureado, recebeu o prêmio IILA de melhor livro latino-americano pelo Instituto Ítalo-latino-americano, de Roma, com Não verás país nenhum, em 1984. Recentemente, em 2000, recebeu o prêmio Jabuti por O homem que odiava a Segunda-feira. Paulista de Araraquara, já compôs publicou romances, contos, crônicas e infanto-juvenis traduzidos para muitos países no mundo. Atualmente escreve suas crônicas no Caderno 2 de O Estado de São Paulo e é responsável pela edição da Revista Vogue.< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>
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