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Benjamin, filho da felicidade
por Terezinha Pereira
*
publicado em 30/10/2007.
Era ainda vila do Pará, 1870, quando o menino veio ao mundo. Nasceu forro. Não se sabe se os pais, Malaquias e Leandra, escravos, conheciam-lhe do nome de batismo, o significado. Benjamin: filho da felicidade. Se felicidade rima com liberdade, deve de ter sido por isso........ Rapazinho ainda, Benjamin deixou família e dono de fazenda que ainda o tinha como propriedade e partiu com um circo que fizera temporada no Patafufo, então Pará.
Respeitável público, teria ele se encantado com o riso, com a alegria que o circo trouxera para a cidade. E mais, o povo do circo viajava, estava cada tempo num lugar diferente. E ele, nem tinha medo de trabalho, pois plantava, regava, colhia, tratava e campeava animais, além de ser bom no trato da lenha, do fogo, das panelas de comida. E, devido a seus bons dotes, no circo, Benjamin prestava-se a tudo.
No entanto, respeitável público, aos olhos alheios, ele tinha um defeito. De cor. Sua pele escura destoava da dos outros artistas. E, o dono do circo, ah, esse se aproveitava. O fujão nem tinha consigo a carta de alforria!........ Mas, acho, Não. Creio mesmo. Benjamim entendia que felicidade rima com liberdade. Assim, fugiu com um bando de ciganos que passou por perto do circo.
Coitado. Ciganos não tinham como tarefa agradar e levar alegria por onde andavam........ Em pouco tempo, por causa de seu “defeito de cor”, quase foi dado por um cavalo dos bons de sela a um cigano dos mais velhos, dono de muitos cavalos, de muitas canastras de roupas, de muitos dentes de ouro e de nenhum coração. Não fosse a filha do chefe do bando caída de amores por ele, que na calada, ouvira a conversa do pai com os irmãos!
Respeitável público, Benjamin, que amava felicidade e liberdade, fugiu de novo. Perambulou pelo mato, viveu quase de vento, até que encontrou um novo circo. Na corda bamba, havia andando sempre, mas arriscou-se no trapézio, fez malabarismos, cuidou dos animais, da limpeza, da comida. Até que um dia, sem querer, teve de virar palhaço. Acha que foi fácil? Havia o tal “defeito de cor”! Palhaço negro não tinha graça.
Mas ele venceu. Triunfou. Tornou-se um grande artista. Um fazedor de riso, de lampejos de felicidade. Foi original. Inovou o espetáculo, criando o teatro dentro do circo. Compôs músicas, tocou violão, cantou, escreveu peças de teatro, representou, fez papel de Cristo, do Otelo de Shakespeare e encenou O Guarani, de José de Alencar. Tornou-se amigo dos grandes artistas de sua época e até do presidente Floriano Peixoto.
Todavia, no entanto, contudo, porém, meu respeitável público, Benjamin morreu quase sem nenhum vintém_ não fosse o deputado Jorge Amado_ que lhe conseguiu em plenário, uma pequena pensão. Mas, mas viveu e morreu alegre e livre. Nós, do Grupo NEPAA, do Rio de Janeiro, cidade onde Benjamim viveu até sua morte, em 1954, depois de pesquisarmos sobre sua vida e obra e após ensaiarmos durante muito tempo, viemos até aqui, Patafufo, Pará, hoje Pará de Minas, para contar a seu povo a história de uma de suas mais importantes personalidades, Benjamin de Oliveira, o primeiro palhaço negro do Brasil, o rei do palhaços brasileiros, aquele que, durante décadas, só fez espalhar a alegria por onde passou.
Sobre o Autor
Terezinha Pereira: Terezinha Pereira é romancista, contista, cronista, graduada em Letras, membro da Academia de Letras de Pará de MinasPublicações:
_ "Em confidência", romance publicado pela Mazza Editora, Belo Horizonte, 2000, premiado em concursos literários realizados no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais;
_ "Uma pianista numa noite branca..." , Caderno Literário de contos, 2004, pela Academia de Letras de Pará de Minas em parceria com o Jornal Diário;
_ Contos, na "Revista da Academia Mineira de Letras" (4 revistas);
_ Artigo, projeto de estudo do livro "Dom Quixote" para alunos de 8ª série do Ensino Fundamental, publicado na revista "Presença Pedagógica", de setembro/2005;
_ JB Online, Café Literário: Colunista da Semana, 23 a 29/11/2005.
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