Crônicas,contos e outros textos

PÁGINA PRINCIPAL LISTA DE TEXTOS Noga Lubicz Sklar


COMPARTILHAR FAVORITOS ver profile do autor fazer comentário Recomende para um amigo Assinar RSS salvar item em delicious relacionar no technorati participe de nossa comunidade no orkut galeria relacionar link VerdesTrigos no YouTube fazer uma busca no VerdesTrigos Imprimir

São Miguel das Missões Verdes Trigos em São Miguel das Missões/RS - Uma viagem cultural

VerdesTrigos está hospedado no Rede2

Leia mais

 




 

Link para VerdesTrigos

Se acha este sítio útil, linka-o no seu blog ou site.

Anuncie no VerdesTrigos

Anuncie seu livro, sua editora, sua arte ou seu blog no VerdesTrigos. Saiba como aqui

Múltipla escolha

por Noga Lubicz Sklar *
publicado em 04/09/2007.

Planejando voltar aos estudos depois de uma temporada se dedicando a marido e a formar família, minha amiga Simone K. — atriz, poeta, escultora, enfim, uma alma vanguardista — me pergunta: "Será que ainda dá tempo? Depois de sete anos dentro de casa cuidando de marido e filhos? Preciso ler mais sobre política. Tenho me sentido uma analfabeta, aliás, para trás em geral, politicamente, culturalmente... " Ela mora em Nova York, tem trinta e poucos anos e a vida inteira pela frente.

Em outro trecho do email, confessa se sentir, "de alguma forma", artista. Ora. Desde quando nos deixamos convencer que o cuidado natural da família mata em nós nosso mais profundo eu? Que existe algum tipo obrigatório de opção: ou eu ou eles? a cozinha ou a academia? a "mulherzinha doméstica" ou a mulherzona intelectual?

Tá certo. Vivemos uma época plural. E fica tudo ali, exposto na mesa da condição feminina, nos empurrando uma espécie escorregadia e inescapável de culpa goela abaixo. É preciso escolher entre criar os filhos e ter sucesso profissional; ser moderna e ser antiga; ser careta e ser vanguarda, ops, essa aí vai ver que nem existe mais: é só um trauma da minha juventude, mais uma ilusão besta afirmando que tal escolha é realmente importante... e opcional. A gente é o que é, e deve dar-se o direito de ser o que é, nada mais que isso, um direito que inclui ser algo hoje, e outro bem diferente amanhã, porque todo mundo sabe: a única constante nesta vida é a mudança.

Se vocês pensam que eu tenho solução pra isso, se enganam. Mal consigo decidir, a cada manhã, se me sento pra escrever ou vou andar na praia antes que o sol esquente, se visito a minha mãe doente ou levo café na cama pro maridinho aposentado, se tomo um vinho ou faço dieta e tome de culpa: de qualquer jeito, fica alguma coisa de fora, o que foi mesmo que deu de errado na revolução feminina? Na geração de mamãe pouquíssimas mulheres optaram pelo trabalho; na de nossas filhas, são raras as que optam pela família, e na minha, nos restou engolir em seco e optar de vez pela confusão: criadas pra casar (virgens), decidimos queimar o sutiã e ir à luta por nossos direitos. Direitos? Que direitos? Ou seriam, cada vez mais, apenas obrigações?

Vai ter gente aqui no blog me acusando de papo mulherzinha, eu sei, coisa menor... uma vergonha pra quem se pretende escritora, uma intelectual de responsa, eu hein? Mas o que eu acho mesmo é que em vez de se multiplicar — coisa bem típica de qualquer mulher —, a gente se dividiu. E acabou na dívida, isso mesmo que vocês ouviram.

Na dúvida, o que a gente precisa mesmo é de reaprender a seguir o fluxo, escutar o desejo e esquecer a culpa. A gente faz o que dá. O que dá na telha, quero dizer, e se existe uma coisa difícil, mas absolutamente prioritária, é sentir-se à vontade com isso (eu, pelo menos, raramente consigo). O que provavelmente resultará um dia num integrado neo-feminismo, onde cada coisa tem seu tempo: o tempo de amar, o tempo de procriar, o tempo de produzir, e por que não, o tempo de cozinhar, cuidar do lar (até a palavra "lar" ficou cafona), o tempo de ler e pensar. Um viver mais devagar, como curte a Simone K. em seu texto censurado, criticado por quem acredita saber de tudo: pausadamente. Só não sei como e quando.

Não há arte mais viva e crucial do que a arte do bem-viver: um charme que anda esquecido, confundido, relegado a plano nenhum por nosso eterno vício de hesitar, discutir, criticar tudo... e construir bem pouco, pouco mais do que crescentes e inventadas obrigações.

Sobre o Autor

Noga Lubicz Sklar: Noga Lubicz Sklar é escritora. Graduou-se como arquiteta e foi designer de jóias, móveis e objetos; desde 2004 se dedica exclusivamente à literatura. Hierosgamos - Diário de uma Sedução, lançado na FLIP 2007 pela Giz Editorial, é seu segundo livro publicado e seu primeiro romance. Tem vários artigos publicados nas áreas de culinária e comportamento. Atualmente Noga se dedica à crônica do cotidiano escrevendo diariamente em seu blog.

Para falar com Noga senda-lhe um e-mail ou add-lha no orkut.

< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>

LEIA MAIS


Bovino, por Conrad Rose.

Mercy bocu: adeus Brasil, por Rodrigo Capella.

Últimos post´s no Blog Verdes Trigos


Busca no VerdesTrigos