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INTRADOXOS, poesia cinética

por José Aloise Bahia *
publicado em 22/06/2007.

"Tudo se move continuamente. A imobilidade não existe." (Jean Tinguely, 1959)

INTRADOXOS, poesia cinética

Um sopro nos móbiles de Calder, energia do gás na máquina de Tinguely, frações circulares no Modulador de Luz-Espaço de Moholy-Nagy, convocados pelo construtivismo e dadá, entremeados pelas ruínas dos dentes e os grafismos na língua - ao som de Glass e resquícios do concretismo. O juízo de uma roda redentora, catracas em partituras e sinfonias esféricas. Diálogos mutantes com as artes plásticas: metafísicos. Fractais, "efeitos borboletas" e variações musicais notáveis/complexas são os batimentos poéticos longos, curtos e intertextuais do carioca Márcio-André em Intradoxos (Confraria do Vento, Rio de Janeiro, 2007), que semeiam a explosão do início ao fim (explosões de signos, de acordo com Guilherme Zarvos e Cinda Gonda), ou o contrário, do fim ao início, e surpreendem os leitores pela intensidade que desabrocham as palavras da natureza das coisas e o movimento das aparências, reverberando o vestígio na plasticidade das cores e ondas do brasileiro Abraham Palatnik, o axioma de que a vida é um fluxo e "só é verdade a parte que se desconhece".

O livro é o contágio da forma na linguagem e vice-versa, incursões cinéticas e experimentais que não se esgotam num simples ato ou vagido concretista. Seria um lote fragmentado a cosmogonia das palavras, frases e versos? Suas grafias? Articulações e sentidos? As três perguntas riscam os traços do autor. As tentativas de respostas, ânimo nas reflexões, começam numa simples linha: "medir palavras é desmenti-las". Revelações duma elasticidade e ousadia: invenções e ironias, muito além do lote fragmentado. Pois o começo do livro, ou o final, liga as inversões das capas, orelhas e páginas - um recurso simples -, que contamina o exercício estético, renovando a cadência das mãos/olhos e determinam a rotação interna necessária.

Chama a atenção um trocadilho constante, no qual a letra Q é substituída pelo CH, exaltando o giro no alphabeto, liberando as transposições que caminham sem cessar. Também em seu rastro, à deriva o pensamento, intercâmbios e sentimentos despertados por outra qualidade exposta: os aforismos. "E então fez-se a terra para que houvesse dança"."O tempo decorrido regressa a um nada tubular"."Não há princípio nem fim - o primeiro sonho são todos os sonhos". Ouroboros! Eternidade: esse é o cerne, a poesia em moto-perpétuo, magia, sinal inesgotável em rodopio, sempre em nível rompante. "Catraca-flor// todo nome é uma relíquia// um palimpsesto/ ligado por meio-fio".

Transcendental - A extensão/inter-relação/correlação tripla da machine/cidade/corpo são temas encadeados dialeticamente nos poemas. "Não sou eu que não caibo na cidade/ a cidade é que não cabe em mim". Todavia, em seu conjunto, a coragem do autor - em meio à Babel cuidadosamente organizada - incita ânimo e ao mesmo tempo impossibilidades: locomotivas em aflições nas passagens urbanas. Afirmando e negando, andando de um lado para outro, reitera a incapacidade contemporânea de criar uma síntese tragável. Márcio-André confirma e extrapola na criatividade ao demonstrar que a síntese é algo não pretendido no livro, um ponto final. Longe disso, são gestações de totalidades realizáveis enquanto poética/literatura. "ELETROHÉLICES" de um motor que ultrapassa os limites da machine/cidade/corpo, ampliando o foco de luz/som, sob a marcha duma mecânica enriquecida pela obsessão escatológica cintilada/afinada com seqüências de imagens/metáforas, razões geométricas próprias e eloqüentes. Lembram uivos, ecos - articulações cambiantes entre portas, janelas, quarteirões, ruas, nuvens e os meandros de um espectro que não quer sombras. Infinitos sonhos. Como o poema Os Ornamentos:

"e o homem foi arrancado da casca da noite
e acrescido de dentes e olhos
e foi trançado dia e dotado de ouvido

e ouviu:
o trigo roçando o éter de Galileu
os pés descalços
a grama úmida de hortelã -

e ouviu:
········· a pele inviolável
········· de seu corpo inviolável
[germinar lagartas nos arremedos de vértebra]
········· flanco e dorso
········· das carcaças de pachiderme

um hipopótamo sonhando entre os girassóis"

Outras questões/afirmações poéticas interessantes estão relacionadas à cosmogonia das palavras. Ou seriam sinalizações de uma dialética do acaso?! Um paradoxo?! Agonias moventes?! Ontologias?! Cabe meditar com calma tais questões/afirmações. Sem preconceitos e conclusões apressadas, pois os mapas em trânsitos/fases permanentes de Intradoxos sugerem também uma cosmografia: uma descrição encantada do universo. E mais, o Big Band, o Ovo Cósmico e os deuses míticos da literatura (diálogos com vários autores do Ocidente e Oriente: Mallarmé, Pound, Drummond, Confúcio, Lao-Tsé, etc.) são invocados, refletidos e dilacerados por um senso de alquimista. As espumas das palavras fundam, elevam a semente e o princípio gerador: o próprio poeta enquanto demiurgo de um silêncio que enxerga as coisas.

Enfim, a leitura circular aponta o dedo do homem/deus como substância catalizadora/criadora transcendental. Por outro lado, na curvatura, a espiral que dá excentricidade - centrifugações - ao livro está no poema Reflexo, no qual toda carga existencial e fundadora do acaso do homem consigo mesmo, pulsões/pulsações, é transmitida num lampejo lapidar:

"um mar modula nuvens de metal

na areia-lâmina o homem
ghia o reflexo de uma bicicleta pelo céu

o olho-vagem de um felino
retém o escheleto de uma árvore

rachaduras em sua retina

a lua é uma pedra de carne seca
encuanto o próprio carvão não aceita aderências de luz

um ângulo mais agudo - o avesso
o lado oco da morte"
Os poetas ainda podem ser admirados. Pois no fundo são justamente as pessoas mais livres do mundo. Graças ao ar que respiram e a inventividade na linguagem, podem criar outros mundos possíveis, e despertar as imaginações estáticas. Intradoxos é um livro para as mentes e corações carentes de descobertas. O seu projeto gráfico e teor poético são movimentos genuínos - cinéticos ao extremo - que navegam sobre a cidade apressada.

O melhor remédio para acalmar esse acúmulo de visibilidades e equilibrar a energia urbana é a poesia. Sem dúvida, a forma mais vitaminada e duradoura de liberdade. E a razão é bem simples: é que para combater as imaginações estáticas - que pensam estar em movimento, mas realizam uma dízima periódica cotidiana -, o melhor recurso ainda continua ser: ler poesias. E Intradoxos, com seus movimentos perpétuos, é um sopro de vida para as mentalidades carentes de desejos, que sonham luas, e podem sentir girassóis.

Sobre o Autor

José Aloise Bahia: José Aloise Bahia nasceu em nove de junho de 1961, na cidade de Bambuí, região do Alto São Francisco, Estado de Minas Gerais. Reside em Belo Horizonte. Tem ensaios, críticas, artigos, crônicas, resenhas e poesias publicadas em diversos jornais, revistas e sites de literatura, arte e imprensa na internet. Pesquisador no campo da comunicação social e interfaces com a literatura, política, estética, imagem e cultura de massa. Estudioso em História das Artes e colecionador de artes plásticas. Sócio fundador e diretor de jornalismo cultural da ALIPOL (Associação Internacional de Literatura de Língua Portuguesa e Outras Linguagens) Estudou economia (UFMG). Graduado em comunicação social e pós-graduado em jornalismo contemporâneo (UNI-BH). Autor de "Pavios Curtos" (poesia, anomelivros, 2004). Participa da antologia poética "O Achamento de Portugal" (anomelivros, 2005), que reúne 40 poetas mineiros e portugueses contemporâneos.


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