Crônicas,contos e outros textos

PÁGINA PRINCIPAL LISTA DE TEXTOS .::. Verdes Trigos Cultural .::.


COMPARTILHAR FAVORITOS ver profile do autor fazer comentário Recomende para um amigo Assinar RSS salvar item em delicious relacionar no technorati participe de nossa comunidade no orkut galeria relacionar link VerdesTrigos no YouTube fazer uma busca no VerdesTrigos Imprimir

São Miguel das Missões Verdes Trigos em São Miguel das Missões/RS - Uma viagem cultural

VerdesTrigos está hospedado no Rede2

Leia mais

 




 

Link para VerdesTrigos

Se acha este sítio útil, linka-o no seu blog ou site.

Anuncie no VerdesTrigos

Anuncie seu livro, sua editora, sua arte ou seu blog no VerdesTrigos. Saiba como aqui

Um catolicismo bem divertido

por .::. Verdes Trigos Cultural .::. *
publicado em 16/05/2007.

Marcelo Coelho escreveu na FSP de hoje:

A melhor parte de um romance policial é o começo, quando ainda não houve o assassinato

"NO INSTANTE em que abriu a porta da sala, viu somente uma coisa: viu o que não estava ali." Paradoxos e surpresas desse tipo são a marca do estilo narrativo de G. K. Chesterton (1874-1936) e, depois de um papa tão previsível como Bento 16, sem dúvida vale a pena conhecer as aventuras de um padre bem mais inesperado, o padre Brown.

O primeiro livro de contos protagonizados por esse clérigo-detetive acaba de ser publicado, em boa tradução, pela editora Sétimo Selo.

Trata-se de "A Inocência do Padre Brown", coleção de 12 narrativas originalmente editada em 1911.

Complementa o volume um curto ensaio de Chesterton, "Como Escrever Histórias de Detetive".

Li muitas histórias policiais na adolescência e acabei me cansando do gênero. Mas ainda mantenho um gosto que era bastante forte naquela época: não pelo mistério propriamente dito, nem pela identidade do criminoso, mas pelos detalhes que nada têm a ver com a intriga. Para mim, a melhor parte de um romance policial é o começo da história, quando ainda não ocorreu assassinato nenhum.

É nessas páginas iniciais que um carro cinza estaciona perto de um cais; que os amigos de um duque partem para uma caça à raposa; que um cozinheiro prepara uma torta de mirtilos; ou que o detetive está no jardim de sua casa, cultivando girassóis.

A charada a ser resolvida em geral me aborrece um pouco, e os contos de Padre Brown tendem a abusar bastante da credulidade do leitor.

Bom católico, Chesterton sempre defendeu que a razão não contradiz o dogma religioso; depende deste, ao contrário, para fazer valer os seus direitos.

Desse modo, o padre Brown é o único a perceber o óbvio e atinar com a chave do enigma. Como diz o autor no ensaio final, um bom conto policial exige uma solução simples, ainda que impensada.

Em "A Inocência do Padre Brown", um mesmo mecanismo lógico se repete: a troca de identidades. O cadáver encontrado não é o da pessoa assassinada, o empregado é o patrão, o policial é um criminoso, e assim por diante.

A própria personagem do detetive já traz em si esse recurso de prestidigitação: é um padre, afinal, quem possui mais racionalidade e poder dedutivo, uma vez que está preparado para o maravilhoso, o incompreensível, o que foge às regras usuais do pensamento.

A obra apologética de Chesterton, em especial o longo e brilhante ensaio "Ortodoxia", ainda está para ter uma boa edição no Brasil. O problema é que, por mais vigorosa que seja sua defesa da fé tradicional, o gosto de Chesterton pelo paradoxo torna o catolicismo ainda mais inacreditável e fabuloso do que pensávamos antes de ler seus textos.

Nisso, evidentemente, está a graça de toda a coisa; um livro em que predominasse a rigidez doutrinária e a santimônia teria tudo para ser chato, e este é sem dúvida o maior pecado para um autor como Chesterton. Mas eu estava falando dos detalhes inúteis que antecedem o crime a ser desvendado, e nesse aspecto a leitura de Chesterton pode encantar mesmo quem não gosta de histórias policiais. Um jantar elegantíssimo transcorre num clube de aristocratas. Vários membros do clube são descritos, sem que a descrição sirva para nada: nem mesmo estarão entre os suspeitos do crime.

Veja-se o caso de Mr. Audley, o rico homem público que era presidente do clube. "Nunca tinha feito nada -nem sequer nada errado." Quanto ao vice-presidente, o duque de Chester, "visto de trás", parecia ser o homem de que necessitava o Império Britânico. "Visto de frente, parecia um solteirão auto-indulgente e bonachão com apartamentos no Albany: o que ele de fato era."

A maior surpresa, como se vê, está na circunstância de que as coisas sejam mesmo como são. No jantar, serve-se um esplêndido (?) pudim de peixe. Os convivas "aproximaram-se dele tão gravemente como se cada polegada do pudim custasse tanto quanto o garfo de prata com que era comido. E custava, pelo que sei".

Perto dessas pequenas surpresas, a surpresa final do conto perde bastante em importância. Tento tirar daí uma conclusão religiosa, para meu uso pessoal. O desfecho da minha história -a vida ou a morte eternas- tende a ser pouco atraente. Melhor pensar nos mistérios inexplicáveis -um cheiro de café, uma virada no tempo, o contato de uma lã entre os dedos- que acontecem todo dia.

Sobre o Autor

.::. Verdes Trigos Cultural .::.: .

Da Redação de VERDESTRIGOS.ORG
VerdesTrigos.ORG lhe oferece conteúdo interativo, inteligente, culto e de indiscutível bom gosto. Um sítio cultural do escritor Henrique Chagas. Simplesmente fazendo diferença. Depende de nós

< ÚLTIMA PUBLICAÇÃO | TODAS | PRÓXIMA>

LEIA MAIS


A novíssima arena de experimentação literária, por Luis Eduardo Matta.

Mercado em queda, por Manoel Hygino dos Santos.

Últimos post´s no Blog Verdes Trigos


Busca no VerdesTrigos