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O agente britânico

por Manoel Hygino dos Santos *
publicado em 15/02/2007.

Chico Lopes, no Verdes Trigos, registra a inexistência de uma biografia de David Lean nas livrarias do Brasil. Mas o escritor paulista residente em Poços de Caldas, afinado com o que de melhor se produz no mundo do livro e do cinema, informa haver um volume de 810 páginas, lançado em Londres, em 1996. De autoria de Kevin Brown-low, trata-se de um de “David Lean”, de corpo inteiro. Tanto é verdade, que são mais de 800 páginas, como disse.

Lean tem traços de seus personagens e suas histórias. Para Chico Lopes, no livro aparece uma caricatura de Lean, meio como na efígie de um imperador romano que padecesse com megalomania, arrogante e imperial.

Acompanho o cineasta desde menino, quando assisti a “Grandes esperanças” e “Oliver Twist”, em preto e branco. Depois, vi “A ponte do Rio Kwai”, que lhe propiciou vários Oscars, o elogio da crítica e o reconhecimento público. Além disso, fluiu-lhe um rio de dinheiro.

Daí para frente, películas grandiosas. Assim, veio “Lawrence da Arábia”, tudo imensidão em Lean, inclusive o deserto da Jordânia, conseguindo-se cenas impossíveis de serem esquecidas. Terminado na Espanha e Marrocos, o filme revela a personalidade de Lawrence, “ambígua demais para sustentar um perfil de grande aventureiro”, diz Lopes

Lawrence era um agente do Intelligence Service e se estava no ápice da II Grande Guerra. Seu projeto era arrojado. Incentivada pelos germânicos, a Turquia desejava apoderar-se do canal de Suez, aorta do domínio colonial britânico. Lawrence pretendeu reunir as tribos árabes dispersas, nômades e inimigas. Vai fazer delas um grande exército, dando-lhe um comando e inventando um rei, detrás do qual está o Intelligence Service.

O coronel inglês não pede canhões, aviões, soldados, oficiais, quer simplesmente dinheiro. Para comprar, para corromper, para entusiasmar e convencer. Vence resistências. Deixa as roupas elegantes do chá-das-cinco no Cairo e veste a “chilaba” dos árabes, pés no chão para melhor guiar o camelo. Não é fácil distinguí-lo de um beduíno no deserto, até porque fala os vários dialetos árabes como se fosse a língua pátria. Nos alforges de seu camelo “mehara” de raça, as bruacas com as libras esterlinas.
Mãos à obra. Cria o primeiro núcleo nacional árabe, fazendo do emir Faiçal chefe da nova nacionalidade. O soberano sabia que não estava com a força toda, que o estrangeiro cristão tem verdadeiramente o comando. De todo modo, é o rei do Iraque, embora Lawrence reconhecesse não fazer das tribos inimigas uma nação. Estas querem, sim, fazer a guerra santa contra os turcos, pilhar, saquear as ricas cidades turcas, entre as quais Damasco.

Aí vem, talvez, a duplicidade a que se refere Chico Lopes, que é sintoma forte no filme de Lean. O próprio Lawrence escreveu: “A minha vida de exilado no meio dos filhos do deserto surgia-me com todo o seu desencanto; não estava eu a explorar os seus altos ideais, a fazer de seu amor da liberdade mais um instrumento para auxiliar o triunfo da Inglaterra?”

Deixando de lado a nostalgia, prático, o agente inglês forma uma grande segurança pessoal. Para isso, recruta os que demonstravam de fato coragem, nada se lhes perguntando sobre o passado. O essencial estava em obedecer a vontade do chefe. Este diz, em suas memórias: “Em Akaba, os britânicos chamavam salteadores aos meus homens, mas a verdade é que eles só assaltavam à minha ordem. Talvez algumas personagens desconfiadas achassem perigoso que todos esses homens não reconhecessem nenhuma outra autoridade, além da minha...

Sem entrar em pormenores: Faiçal é coroado rei do Iraque, primeira parte do plano. Mas o próprio Lawrence pensava subir mais, envergando o manto de seda branca, cingido por um cordão de ouro de Meca, de onde pende um punhal doirado. Deixou registrado em suas memórias.

Transcorridas décadas, o Oriente ainda é o vasto laboratório das nações ocidentais para seus audaciosos experimentos. A aventura de Lawrence não terminou, apenas ele findou. A guerra continua.

Sobre o Autor

Manoel Hygino dos Santos: *Jornalista e escritor. Membro da Academia Mineira de Letras, cadeira n. 23.

Livros publicados:
Vozes da Terra , Ed. do Autor , Belo Horizonte , 1948 , Contos e Crônicas
Considerações sobre Hamlet , Ed. Imprensa Oficial de Minas Gerais , Belo Horizonte , 1965 , Ensaio Histórico – Literário
Rasputin – último ato da tragédia Romana , Ed. Júpiter , Belo Horizonte , 1970 , Ensaio
Governo e Comunicação , Ed. Imprensa Oficial , Belo Horizonte , 1971 , Monografia
Hippies – Protesto ou Modismo , Ed. Júpiter , Belo Horizonte , 1978
Antologia da Academia Montes-Clarense de Letras , Ed. Comunicação , Belo Horizonte , 1978 , Coordenação de Yvonne de Oliveira Silveira
Sangue em Jonestown, uma tragédia na Guiana , Ed. Júpiter , Belo Horizonte , 1979 , Ensaio
No rastro da Subversão , Ed. Faria , Belo Horizonte , 1991 , Ensaio
Darcy Ribeiro, o Ateu , Ed. Fumarc , Belo Horizonte , 1999 , Biografia
Notícias Via Postal , Ed. do Autor , Belo Horizonte , 2002 , Correspondências


E-mail: colunaMH@hojeemdia.com.br
Matéria originalmente publicada no Jornal "Hoje em Dia", Belo Horizonte/MG

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