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O enforcado e os gêmeos

por Pablo Morenno *
publicado em 09/01/2007.

Enquanto eu estava de férias, enforcaram Saddam Hussein. Foi em 30.12.2006, antes do Ano Novo. Até hoje não há consenso nos jornais. Seria mesmo preciso chegar a tanto? Falta de consenso também entre os iraquianos. Houve comemorações e protestos. Talvez, melhor teria sido, que o esquartejassem. Separariam o homem em duas partes, uma para os curdos e xiitas, outra para os sunitas. Uma parte de mártir, outra genocida. Mas, por qual razão milhares de iraquianos se enternecem com Saddam? O enforcado mais famoso do mundo, que quis morrer olhando os algozes, me interroga sobre o bem e o mal.

Li num informativo da FUNAI. Há algumas tribos brasileiras que matam gêmeos. A prática é justificada na cultura indígena porque, a alma do homem – com uma dimensão boa e outra má – ficaria dividida. Um dos gêmeos seria do bem, e o outro do mal. O gêmeo do mal seria como um anticristo para a tribo. Como não é possível saber em qual das crianças está o bem, matam as duas. Quando um médico verifica uma gravidez gemelar, costuma levar a indígena para Manaus, sob o pretexto de que a criança se encontra em perigo. Ao nascer os gêmeos, um deles é doado para outra tribo.

O que sabemos de Saddam parece justificar sua condenação. Como sou contrário à pena de morte, se tivessem me perguntado, eu teria votado contra. Mas eu estava de férias. A morte de 142 civis xiitas em 1942 foi o principal motivo. O genocídio de curdos em 1988, segundo contaram, com armas químicas, outra razão. Pelo que nos contaram, pelo que ficamos sabendo, Saddam tinha apenas uma alma muito ruim, uma alma extremamente má, e , quem sabe, a outra parte tivesse ido para Madre Tereza de Calcutá. Para Saddam, a forca. Para Madre Teresa, os altares.

Mas enquanto Saddam caiu no cadafalso, olhando para todo mundo e visto por todos graças a um celular com câmera, passei minhas férias tentando compreender os milhares de iraquianos que foram às ruas e choraram, e se escabelaram, e pretendem colocar o ex-ditador ao lado direito do profeta Maomé.

Todo o resto de minhas férias, olhei-me no espelho para ver se meus olhos ficariam bem com uma forca no pescoço. Olhei-me ainda para procurar um pedaço de maldade em mim. Quando criança, quando ainda não era para ter maldade, eu inventei uma pandorga de passarinhos. Os passarinhos, depois de presos em armadilhas, eram amarrados em linha de anzol. Voavam presos, enquanto eu corria pelo potreiro. Eu já fui Saddam.

Após o enforcamento, o Sargento Robert Ellis, quem cuidou do enforcado no cativeiro, declarou para os jornais que o ex-ditador, lembrava as histórias contadas a seus filhos para que dormissem sem medo. Contou também, o Sargento Robert, que o terrível Saddam Husseim, nos momentos em que podia caminhar por um lugar aberto, regava as plantas e alimentava pássaros com cascas de pão.

Sobre nenhum homem há consenso. Principalmente quando não tivemos que repartir um útero antes de nascer.

Sobre o Autor

Pablo Morenno: Pablo Morenno nasceu em 21.05.1969, em Belmonte, SC, e mora em Passo Fundo, RS. É licenciado em Filosofia e bacharel em Direito. Também é professor de Espanhol em cursinhos pré-vestibular, músico e servidor público federal do Tribunal Regional do Trabalho/4ª Região, e pinta nas horas vagas. Escreve uma coluna semanal de crônicas no jornal O Nacional, de Passo Fundo RS, e Nossa Cidade de Marau-RS. Colabora com os jornais Zero Hora, Direito e Avesso, e com sites de leitura e literatura. É Membro da Academia Passofundense de Letras, ocupando a cadeira cujo patrono é Érico Veríssimo. Como animador cultural e escritor, participa de projetos de leitura do IEL- Instituto Estadual do Livro do RS e de eventos literários no Rio grande do Sul e Santa Catarina. Com suas palestras interdisciplinares e descontraídas, utilizando-se de histórias e da música, conversa com crianças, jovens, pais, professores e idosos sobre a importância da leitura e da arte na vida.

Livros publicados: POR QUE OS HOMENS NÃO VOAM? Crônicas, WS Editor e MENINO ESQUISITO, Poesia Infantil, WS Editor. Contato com o Autor: Pablo Morenno

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