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O preço da natureza

por Efraim Rodrigues *
publicado em 04/01/2007.

Há uma corrente dentro da ecologia, que busca estimar o valor, em dinheiro, dos serviços ecológicos. O objetivo é mostrar para a sociedade que a natureza deve ser conservada porque nos oferece serviços que tem valor. Quanto custa filtrar água para consumo doméstico ? Uma bacia hidrográfica pode fazer isto de graça. Daí é só pegar a água limpa que sai dos rios, encanar e pronto. Da mesma forma, cafezais que estão próximos a florestas têm sua produção aumentada pela maior oferta de polinizadores. Qual o valor disto ? Em um caso, este benefício foi quantificado como sendo da ordem de US$ 60.000.

Um artigo na Revista Nature do último sete de setembro mostra, ao contrário do que parece, que a idéia de “serviços ecológicos” é bastante frágil.

No caso, por exemplo, desta fazenda de café na Costa Rica, onde se mediu o valor do serviço ecológico dos polinizadores. Um caso clássico, que é cantado em prosa e verso nos meios acadêmicos, porque mostraria sem sombra de dúvida o valor dos serviços ecológicos.

Pouco depois da conclusão deste estudo, o preço internacional do café caiu e o cafezal foi substituído por uma plantação de abacaxis, que não precisa de polinizadores. Com isto, a natureza na Costa Rica teria então perdido o valor ?
Segundo o autor deste trabalho, o problema de justificar a conservação da natureza com o valor dos serviços que ela provem, esbarra no problema que estamos a todo momento descobrindo maneiras mais baratas de fazer as coisas, e neste momento poderíamos então nos ver tentados a substituir os serviços naturais por serviços providos pelo homem.

Também no caso da filtragem de água para consumo humano em ecosssistemas naturais, como ocorre na Bacia Hidrográfica de Catskill/Delaware para a cidade de Nova York, e na Reserva de Morro Grande para a cidade de São Paulo, corremos o risco, de quando alguém inventar um método mais barato de limpeza de água, de que estes ecossistemas sejam desmatados.

Douglas J. McCauley termina seu artigo falando do valor intrínseco, ético e estético da natureza, similar ao de obras de arte. A monalisa pode até ter um custo, pagável em dólares, mas quanto que a humanidade perde se a monalisa
for destruída ? Há como atribuir valor a uma perda destas ?

Atribuir valor à natureza pode ser útil em um primeiro momento, mas o movimento ambientalista pode estar construindo uma armadilha para si mesma indo por este caminho.

Sobre o Autor

Efraim Rodrigues: Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br) é doutor pela Universidade de Harvard, Professor Adjunto de Recursos Naturais na Universidade Estadual de Londrina, Consultor do Programa Fodepal da FAO-ONU e Editor da Editora Planta, sem fins lucrativos.

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