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Passos e saltos

por Efraim Rodrigues *
publicado em 29/09/2006.

Todos gostamos de pensar que somos fadados ao sucesso. Então, gostamos de pegar atalhos que nos levarão mais rapidamente ao nosso merecido lugar, destinado talvez por algum indeterminado poder místico superior.

Ainda pior, é aquela história de pensar grande. Quando se é pequeno, pensar grande é como que sofrer de alucinação.

Eu adoro, por exemplo, ver as imagens de Marte. Como humanidade, estamos pensando grande, colocando o planeta próximo à ficção de “Jornada nas Estrelas”, um mundo onde não existe dinheiro, e a pessoas trabalham tão somente para se auto aprimorar.

Muito bonito, mas uma verdadeira alucinação em um planeta onde 13 milhões de pessoas morrem por causas ambientais facilmente evitáveis, como diarréias, infecções e malária, conforme o relatório mais recente da Organização Mundial de Saúde. Não estão incluídos aí problemas crônicos, como o desenvolvimento de câncer de fígado causado pela ingestão de água eutrofizada, que discutimos na última coluna.

Este Relatório mostra também que medidas banais, como o armazenamento de água e adoção de medidas básicas de higiene poderiam ter grande influência sobre estas mortes.
Outro dia eu perguntei para um sociólogo respeitado, depois de uma palestra, qual seria a “engenharia” social necessária para resolver problemas simples como estes, com tecnologia mais do que conhecida. Ele respondeu sobre o estabelecimento de um novo pacto social. Fiquei pensando como se faz isto, em que mesa de negociação, e com quem.

Logo depois, uma pergunta despretensiosa, de uma jovem que trabalha em uma pequena ONG, plantando árvores na periferia, indignada com as pessoas que não ligam o lixo que jogam na rua com a poluição no lago da cidade, me fez ver que melhor que pensar grande, é pensar adequado.

Em uma situação onde a continuidade de programas ambientais é duvidosa, e cada governo sabota os projetos iniciados na gestão anterior, o melhor mesmo é conduzir projetos pequenos, pessoais até.

Os grandes e sábios administradores perguntarão que grande mudança um plantio de árvores na periferia pode causar. Ao menos, fará com que esta jovem conheça alguns dos 13 milhões de pessoas que morrem de causas ambientais evitáveis. Conheça seu nome, sua casa e as condições em que vive.

Este seria um pequeno passo para o homem, e um grande salto para a humanidade.

Sobre o Autor

Efraim Rodrigues: Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br) é doutor pela Universidade de Harvard, Professor Adjunto de Recursos Naturais na Universidade Estadual de Londrina, Consultor do Programa Fodepal da FAO-ONU e Editor da Editora Planta, sem fins lucrativos.

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