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Plutão e os corações partidos

por Ronaldo Andrade *
publicado em 05/09/2006.

É, Plutão. A casa caiu. Triste sina a dos planetas, que de uma hora para outra podem ser "rebaixados". Plutão, de acordo com a IAU (União Astronômica Internacional), já não é mais planeta, e sim "planeta-anão".

Não ser mais quem sempre foi. Olhar no espelho e perceber que já não é mais quem sempre pensou que fosse. Triste. Muito triste. Assim como são melancólicas as separações, as desilusões amorosas. Numa hora, somos a luz que, tal como os satélites que dão brilho aos planetas, ilumina a vida de alguém. No momento seguinte, podemos sofrer da "síndrome de Plutão": somos rebaixados (ou rebaixamos alguém), e andamos nas trevas da paixão interrompida, dos sentimentos que machucam o peito. Não é mesmo fácil a vida dos astros. Nem a dos corações partidos.

E agora, Plutão? E agora, você? E agora eu, e agora todos nós, os de almas infelizes? O que fazer com as palavras de carinho, os momentos vividos, as mensagens de afeto registradas no celular? Apagar, simplesmente deletar?Ah, quem dera fosse tão simples: bastaria apertar uma tecla e, como o microondas, já está. A alma não é assim tão banal, prática. Como esquecer que, tal como Plutão, éramos, e agora não somos mais? É o maior desafio: habituar-nos com a nova situação, compreendermos que "tudo agora é diferente". Encontrar na rua e não ser mais; não ligar para o número que se sabe de cór; pensar que, como Plutão, já não somos planetas, e sim "planetas-anões", seja lá o que significa.

Estávamos acostumados, desde a época da escola, e é uma surpresa saber que ele já não é mais o planeta que sempre pensamos que fosse. É um choque saber que a amada, ou o amado, já não é mais o bombonzinho, o docinho. É quando a casa cai, o vento sopra em outra direção, a realidade muda.

Plutão, entretanto, ainda pode dar um último suspiro, pois há um grupo de cientistas que não concorda com a decisão, e planeja recorrer do veredito. E nós, os de corações partidos, a quem podemos apelar? Quiçá o melhor seja buscar consolo nas palavras do "Poetinha" Vinícius: "... que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure". Tal quais os cometas, talvez tudo não tenha sido apenas um instante, uma breve passagem, que deixa saudade, mas que é necessário seguir seu caminho, espalhar o brilho por outras galáxias.

Caminho esse, diferente do nosso destino.

Sobre o Autor

Ronaldo Andrade: Brasileiro radicado em Portugal. Vinte e sete anos de histórias fantásticas: foi morar em Portugal, conheceu José Saramago (que o incentivou a escrever), escreveu e lançou um livro (à venda no Brasil e em Portugal) e acabou sendo contratado por um time da segunda divisão do futebol português.

Contato:
O livro "A mulher do comboio" pode ser adquirido pelo telefone(00 351) 91 433 22 70 ou pelo e-mail roanoli@uol.com.br

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