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Nhô Guimarães

por Aleilton Fonseca *
publicado em 24/07/2006.

"- Nhô Guimarães por aqui? Há quanto tempo! Ah, não.
Nsh, nsh! Não é ele, não. Mas, quem é o senhor? Apeie,
chegue à frente, a casa é nossa. Entre, que lhe dou uns goles
de água fresca. Venha ver que a melhor é essa do pote de barro,
dos antigos, que ainda tenho. Aprecie.
Estes caminhos andam numa poeira danada, essa secura, sem chuvas. Isto é o sertão."


Concebido como uma homenagem ao escritor João Guimarães Rosa, no cinqüentenário de Grande Sertão: Veredas, o romance Nhô Guimarães, de Aleilton Fonseca, é um saboroso As Mil e Uma Noites sertanejo. Trabalhando a linguagem de forma imaginativa, Aleilton cria uma personagem que, ao narrar histórias e causos em boa parte inspiradas no imaginário popular brasileiro e no vasto universo rosiano, relembra seu velho amigo Nhô Guimarães.

"O sertão vem a mim", diz a narradora. "Acredite: o sertão vem a mim, todo dia mais. As histórias vêm: aqui se arrancham, almoçam e jantam, bem fartas, tiram madorna na rede, de prosa comigo. O senhor compreendeu o meu dizer? Elas vêm a mim, guardo os fatos, aceito: protejo, velo, resguardo, no meu firmar. Tomo conta de um tesouro."
"Aleilton Fonseca resgata uma prosa cheia de beleza, cuja oralidade passa por um apuro formal que lhe filtra os cacoetes e excessos", escreve nas orelhas Antonio Torres. "Mas sem abdicar do colorido, do ritmo e sabor das conversas num avarandado ou ao pé do fogão, para espantar o medo das assombrações, ou se livrar das más lembranças."

Destinado tanto a iniciantes quanto a iniciados na obra de Guimarães Rosa, Nhô Guimarães, de Aleilton Fonseca, é um romance-homenagem que segue seu próprio caminho. Como afirma Maria Lúcia Martins, neste romance "cada letra é sinal de rastro rasgado entre brumas de solidão e o vermelho do sangue".

"Aleilton Fonseca consegue, de forma brilhante, especialmente na linguagem,
recriar Guimarães Rosa. Ele cria uma narradora sertaneja que integra
inteiramente o universo rosiano." (Rinaldo de Fernandes)


Sobre o Autor

Aleilton Fonseca: Aleilton Fonseca nasceu em Firmino Alves, BA (1959), viveu em Ilhéus, Vitória da Conquista, João Pessoa, São Paulo, e reside em Salvador. Cursou Letras (UFBA), fez mestrado (UFPB) e doutorado em literatura (USP). Lecionou na UESB, foi professor na Université d´Artois (França), em 2003, e hoje atua na UEFS-Bahia. Publicou Jaú dos Bois e Outros Contos (1997), O Desterro dos Mortos (2001) e O Canto de Alvorada (2003). Co-organizou os livros Oitenta: Poesia e Prosa (1996), Rotas & Imagens: Literatura e Outras Viagens (2000) e O Triunfo de Sosígenes Costa (2004). Recebeu, entre outros, o Prêmio Nacional Herberto Sales (ALB-BA, 2001) e o Prêmio Marcos Almir Madeira (UBE-RJ, 2005). É co-editor da revista de arte Iararana, correspondente de Latitudes, "cahiers lusophones" (França), membro da Academia de Letras da Bahia e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana. Acredita que a "literatura é uma sentença de vida; uma forma eficaz de conhecer profundamente o ser humano".

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