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Extinções de ontem, hoje e amanhã

por Efraim Rodrigues *
publicado em 30/04/2005.

A lista de espécies ameaçadas de extinção no Paraná acaba de ser publicada. Olhando de longe a coisa parece simples. Um grupo de especialistas se reúne, conversa e lista as espécies que estão mais ameaçadas. Daí esta lista é utilizada em uma série de medidas para evitar a extinção, tais como coibir o tráfico, impedir desmatamento dos habitats destas espécies, e daí por diante. Pelo menos é esta a idéia de quem inventou e que mais usa a metodologia, a ONG Conservation International.

Na sua origem, as listas de espécies são utilizadas em locais com poucas espécies e muito dinheiro. Portanto,é possível conhecer cada uma delas em detalhe, área de ocorrência, exigências, tamanho de população. Assim fica fácil saber quem está em extinção. Em locais onde a situação é inversa, como aqui, já é mais difícil. Como saber quais as espécies em extinção, se não sabemos nem quais são as espécies de nosso país ?

Mesmo com esta séria dificuldade, as listas de espécies funcionam por causa de um duplo erro. Elas são imprecisas, mas mais imprecisos ainda somos nós. Sem um certo cabresto, fica difícil trabalhar por "todas as espécies". Nós ainda não chegamos lá. As razões pelas quais devemos evitar a extinção das espécies (quais seriam elas?) ainda não estão claras para a maior parte das pessoas, e por isso precisamos destas listas para enfocar em algumas poucas espécies. É válido, ao menos enquanto esperamos o grosso da população aumentar sua consciência ambiental.

Muitas vezes, também se consegue conservar muitas espécies pelo fato de determinada espécie da lista viver ali. O que quer o meu colega Sergio Lucena com seu projeto Muriqui em Santa Tereza, no Espírito Santo ? Conservar só o maior primata das Américas ? Certamente seus horizontes são mais amplos que isto. Ele quer conservar o Muriqui e todas espécies das quais ele depende. Senão, bastaria meter meia dúzia de micos em um freezer.

Mas duro mesmo seria fazer uma lista de espécies há algumas centenas de milhões de anos. Esta mega extinção por que passa nosso planeta, é grande, mas não é a primeira. Pelos menos umas seis vezes, já ocorreram outros eventos do tipo. Após uma das maiores, há 235 milhões de anos, os dinossauros apareceram, e após uma outra grande, há 65 milhões de anos eles desapareceram.
Parece haver evidência, de acordo com o que foi publicado na Science do mês passado, que os eventos de mega extinção foram causados por trombadas da Terra com asteróides. Objetos grandes levantam poeira, mexem na órbita terrestre, enfim, causam grande perturbação e levam junto as espécies que estavam adaptadas a condição anterior, que não existe mais. Após a primeira trombada, os dinossauros apareceram, na segunda desapareceram. Qual o problema, afinal de contas, se as espécies vem e vão ? A bem da verdade, nenhum. Podemos extinguir boa parte das espécies (desta vez a trombada somos eu e você e nossos 6 bilhões de amigos) e isto provavelmente terminará por nos extinguir também. Perfeito. Daqui a alguns milhões de anos, haverá um outro colunista escrevendo uma coluna igual a esta, falando de eventos de mega extinção, com uma lista um evento maior, e talvez até um outro Chico Buarque escreverá :


- E quem sabe então, o Rio será alguma cidade submersa, os escafandristas virão revirar sua casa, seu quarto, sua alma, suas coisas. Sábios então tentarão decifrar o eco de antigas palavras, fragmentos de cartas, poemas, mentiras, retratos, vestígios de estranha civilização...


Se assim está bem assim para você, então está bem para mim também.

Ms talvez não esteja tão bem para aqueles que mandam cortar as árvores em frente das suas casas. A eles, eu recomendaria cuidado. Talvez a próxima civilização seja dominada por árvores. Aí poderemos ter uma árvore cortando um humano que cresceu demais em frente a sua casa....

Sobre o Autor

Efraim Rodrigues: Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br) é doutor pela Universidade de Harvard, Professor Adjunto de Recursos Naturais na Universidade Estadual de Londrina, Consultor do Programa Fodepal da FAO-ONU e Editor da Editora Planta, sem fins lucrativos.

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