Nota: Recebi este texto de Elben César, da Editora Ultimato. Achei muito interessante. O fundamentalismo religioso põe Deus em tudo e o fundamentalismo secularista tira Deus de tudo.Todas as vezes que nós tentamos incluir ou excluir Deus nos tornamos indecentemente arrogantes. Os chamados fundamentalistas religiosos têm o costume de
incluir Deus em tudo. Os chamados fundamentalistas secularistas têm o costume de
excluir Deus de tudo.
No que diz respeito à
tragédia asiática, o fundamentalismo religioso dirá arrogantemente que
foi Deus quem provocou o maremoto e o fundamentalismo secularista dirá arrogantemente que Deus nada tem a ver com o maremoto. Ambos estão tomando o nome de Deus em vão.
Quando um xiita qualquer se diz enviado por Alá para derrubar as torres gêmeas e humilhar a nação mais poderosa do mundo, isso é fundamentalismo religioso (no caso, muçulmano). Quando o presidente da nação mais poderosa do mundo se diz instrumento de Deus para acabar com as forças do mal e implantar a democracia em Cuba, no Iraque e na Coréia do Norte, isso é fundamentalismo religioso (no caso, lamentavelmente, cristão). Tanto
Bin Laden como
Bush estão cometendo a arrogância de
incluir Deus como lhes convém.
Quando o brasileiro Tales Alvarenga, da revista
Veja, levanta dúvida sobre a existência de Deus e declara arrogantemente que se existir, Deus não interfere nunca (
Veja, 19 jan. 2005, p. 55), isso é fundamentalismo secularista. O escritor está cometendo a arrogância de
excluir Deus como convém ao seu raciocínio.
As duas posições são radicais e se opõem. E, como se sabe, uma fortalece cada vez mais a outra, abrindo caminho para a fermentação tanto de um como do outro.
O fundamentalismo religioso dirá que toda tragédia é castigo de Deus e o fundamentalismo secularista dirá que nenhuma tragédia é castigo de Deus.
À luz das Escrituras (que o fundamentalismo religioso tende a manipular e o fundamentalismo secularista tende a ridicularizar), há tragédias provocadas claramente por Deus para coibir o pecado em seu estado mais cínico e generalizado. Sem sombra de dúvida, é o caso do dilúvio e da destruição de
Sodoma e Gomorra, como se vê nesta passagem:
"[Deus] não poupou o mundo antigo quando trouxe o Dilúvio sobre aquele povo ímpio... Também condenou as cidades de Sodoma e Gomorra, reduzindo-as a cinzas" (2 Pe 2.5,6).
Mas, de forma alguma,
este não é o caso do desabamento da casa do filho primogênito de
Jó, que ocasionou a morte de sua prole toda, nem dos outros infortúnios do homem da terra de Uz. Não havia razão para qualquer castigo, pois
Jó era
"homem íntegro e justo, temia a Deus e evitava fazer o mal" (Jó 1.1). Também não é o caso do
desabamento da torre de Siloé, que causou a morte de 18 pessoas,
"pois elas não eram mais culpadas do que todos os outros habitantes de Jerusalém" (Lc 13.4). Muitas tragédias são causadas pelo crime, pela guerra, por falha humana, por erro técnico, pela ganância, pela poluição do planeta.
Para todos os apressadinhos que querem explicar tudo o que acontece, sacrificando o bom senso, tanto religioso como científico, aumentando a confusão mental e deixando de socorrer as vítimas da catástrofe, há uma leitura obrigatória. Trata-se daquela peça que a
Bíblia de Jerusalém chama de "conclusão hínica" ou "lírica", como prefere a
Bíblia de Genebra:
"Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos e inescrutáveis os seus caminhos!" (Rm 11.23)
A versão popular desse minúsculo "hino" de Paulo, que
J.B. Philipps coloca em seu
Cartas às Igrejas Novas, é muito comunicativa:
"Francamente, estou perplexo com a insondável complexidade da sabedoria de Deus! Como poderiam explicar-se seus métodos de trabalho, ou compreender as razões que o levam a agir e em que circunstâncias?"Assim como um analfabeto que nunca viajou, nunca viu a luz elétrica, nunca andou nem sequer de carro, nunca ouviu o barulho de um avião, nunca se aproximou do mar, nunca se encontrou com mais de 100 pessoas de uma só vez jamais poderá entender a famosa equação
e = mc² o ser humano não tem como entender agora a profundeza ou o abismo (como querem a
Bíblia de Jerusalém e a
Bíblia do Peregrino) da
riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus. Tudo isso, pelo menos por enquanto,
é insondável, inescrutável, imperscrutável, impenetrável, inexplicável. Há uma boa razão para tudo, mas nós não a conhecemos no presente momento. Pois não temos a altura de Deus. Somos as criaturas e não o Criador. Somos o vaso e não o Oleiro. Somos os aprendizes e não o Professor. Somos os vassalos e não o Soberano Senhor. Qualquer tentativa para entender, qualquer interpretação que tentemos dar é pura arrogância.
Basta-nos saber o que se encontra no finalzinho da tal "conclusão hínica":
"Todas as coisas vêm dele [de Deus], por meio dele e vão para ele". (Rm 11.36, EP)
Segundo a
Bíblia de Genebra, essas palavras mencionam a
vontade soberana de Deus ("todas as coisas vêm dele"), a
atividade soberana de Deus ("todas as coisas vêm por meio dele") e a
glória soberana de Deus ("todas as coisas vão para ele"). Portanto, sem maremoto ou com maremoto,
"A ele seja a glória para sempre! Amém".