Sábado, Maio 15, 2004

Leitura



A FÉ NO ANTIGO TESTAMENTO:
Este livro tem sido, ao longo de mais de duas décadas, um subsídio valioso para o estudo do Antigo Testamento. Com oito edições na Alemanha, esta obra chega às mãos do público de língua portuguesa inteiramente refundida e bastante ampliada. O autor ajuda a entender o AT em sua relevância para a atualidade, associando as percepções básicas de uma "teologia do AT" e os tópicos principais de uma "história da religião de Israel" e suas repercussões.
Schmidt, Werner H. A Fé no Antigo Testamento. Tradução de Vilmar Schneider. São Leopoldo,RS: Editora Sinodal, 2004


TORÁ (A) - Teologia e história social da lei do Antigo Testamento
Esta obra acentua uma nova interpretação dos textos mais importantes do direito do Antigo Testamento no seu respectivo contexto histórico-social e sua ligação com as questões teológicas fundamentais, assim como as questões éticas atuais.
Crüsemann, Frank. A TORÁ. Tradução de Haroldo Reimer. Petrópoli, RJ: Vozes, 2001.

Quinta-feira, Maio 13, 2004

Gênesis 1.1 - No Princípio



Entendo que o Gênesis é uma compilação dos escritos e do conhecimento da tradição oral do povo de Israel. Há nele várias correntes do pensamento e do conhecimento hegemônico da época em que foi compilado, prevalecendo especialmente três correntes: a eloísta, a javista e a sacerdotal. Veja que no primeiro capítulo vemos duas narrativas da criação e a primeira delas, embora seja atribuída à corrente sacerdotal, adota o nome Elohim para o Criador.

Portanto, o livro sagrado do Gênesis não foi escrito por algum jornalista especialmente enviado para cobrir o acontecimento e descrever fielmente os fatos. É uma criação literária coletiva decorrente de milhares de anos de tradição oral e fragmentos escritos de vários povos daquela região. É fruto da viva fé e da esperança do povo e de suas experiências íntimas com Deus. Além de constituir-se em livro sagrado, também é um código ético e moral. Segundo a tradição judaica, foi compilado por Esdras por volta de 444 antes da Era Cristâ.



" 1 No princípio criou Deus os céus e a terra. 2 E a terra era vã e vazia, e (havia) escuridação sobre a face do abismo, e o espirito de Deus se movia sobe a face das aguas..."
Bereshit bara Elohim et hashamayim ve'et ha'arets. Veha'arets hayetah tohu vavohu vechoshech al-peney tehom veruach Elohim merachefet al-peney hamayim.

"No princípio criou Deus céus e terra": a porta de entrada para compreender e distingüir minha própria fé. Ponho-me a refletir na existência do Criador, da qual não duvido. Atravessei esta porta. Minhas vistas se abrem, um novo mundo eu vejo: Elohim criou. Vemos que no hebraico Elohim é uma palavra plural (El é outro nome para Deus dentro das culturas semíticas). E o verbo criar (bara) está conjugado no singular. No hebraico bara é usado exclusivamente acerca do ato divino criativo, pois envolve o sentido de dar ordem ao caos existente ou mais especificamente, envolve algo que foi trazido à existência ainda que nada antes existisse. Creio que somente um Deus criou céus e terra, entretanto o único Deus existente é plural, o que não significa a idéia de pluralidade de pessoas.

Minha percepção, tanto como confissão quanto de conhecimento, é que um único e exclusivo Deus criou. Todavia, vejo várias conjecturas para o sentido de Elohim (no plural). O primeiro sentido frisa a majestade de Deus e todo o seu poder. Já vi alguns comentaristas afirmarem que toda a corte celestial também estaria presente no ato da criação, todavia creio eu que a corte celestial presenciou e assistiu o ato majestoso da criação. Entretanto a corte celestial apenas assistiu e exaltou a criação e com certeza não participou do ato criador, pois somente o Deus Único, na sua expressão plural, criou céus e terra.

Outros tentam extrair desse plural um sentido trinitário cristão, mais aí seria cristianizar demais o texto que não é fruto da experiência e da tradição cristã e sim da tradição judaica. A doutrina da Trindade somente foi adotada após o Concilio de Nicéia (325), todavia o termo "Trinitas" aparece pela primeira vez com Tertuliano, em Cartago, por volta de 212. Agostinho, no seu estudo "A Trindade", estabeleceu todo o fundamento de sua reflexão teológica na fé em um só Deus, sustentando que as três pessoas que possuem um única substância e essência e tem como ponto de partida a natureza una e única de Deus. Também não consigo admitir as três pessoas da Trindade distintamente consideradas, pois Deus é ÚNICO. Elohim (no plural) significa essencialmente a pluralidade de nossas consciências: é único e Pai de todos, mesmo que insistam em chamá-lo de Elohim, Javé, Jesus ou Alá.

A confissão de que Deus é único e transcendente , não apenas uma oração, mas indica a exclusividade de minha fé. Não é somente um juízo de que Deus, um só Deus, existe, mas é a constatação da sua atuação criadora no princípio e por todo o sempre. Por outro lado, o criar de Deus é totalmente diverso do criar humano. Deus sempre existiu,mesmo antes da criação, pois é eterno (somente Ele é eterno). Houve um tempo que somente Deus existia e que seu ato criativo (não me importo que modus operandi Ele tenha utilizado) trouxe a existência a criação - céus e terra - em algum ponto remoto do tempo: bilhões de anos passados, por exemplo. A partir do quê? Do nada? Hebreus 11.3 diz qe "o mundo visível não tem sua origem em coisas manifestas", tem sua origem no imaterial, nas realidades que somente existiam em Deus, de quem tudo procede. Foram criadas a partir da própria energia criativa do Deus único.

Por isso eu creio: Deus criou e continua presente em sua criação. Ele se importa com a criação e não há caos que o poder de Deus não consiga por em boa ordem (seja cósmica ou pessoal). E toda a criação e toda energia criativa que a impulsiona voltarão para Deus.

É para onde vamos.

Terça-feira, Maio 11, 2004

Cristãos reagem a "O Código Da Vinci"

Igrejas e estudiosos publicam livros para rebater a idéia, contida no romance, de que o cristianismo foi construído sobre farsas.

LAURIE GOODSTEIN
DO "NEW YORK TIMES"


Código Da VinciTemendo que o best-seller "O Código Da Vinci" [editado no Brasil pela Sextante] possa estar semeando dúvidas quanto às crenças cristãs fundamentais, igrejas cristãs, membros do clero e estudiosos da Bíblia se apressam a rebater suas teses.

Nos últimos 13 meses já foram vendidas mais de 6 milhões de cópias do livro, um "thriller" histórico que alega que o cristianismo foi erguido sobre a base de um trabalho de acobertamento -que a igreja conspira há séculos para ocultar que Jesus foi um mero mortal, que se casou com Maria Madalena e teve filhos cujos descendentes vivem na França.

A notícia de que o diretor Ron Howard está fazendo um filme baseado no livro veio apenas intensificar a urgência sentida pelos críticos. Mais de dez livros foram e estão sendo lançados, em sua maioria em abril e maio, com títulos que prometem decifrar, decodificar ou revelar o que está por trás de "O Código Da Vinci". Igrejas estão oferecendo folhetos e guias de estudos a leitores a quem o livro possa ter levado a questionar sua fé. Grandes platéias estão comparecendo a palestras e sermões sobre "O Código Da Vinci".

"Pelo fato de esse livro constituir um ataque tão direto aos fundamentos da fé cristã, é importante que elevemos nossa voz", disse o reverendo evangélico Erwin Lutzer, autor de "The Da Vinci Deception" (o logro Da Vinci).

O reverendo James Garlow, co-autor de "Cracking Da Vinci's Code" (decifrando o Código Da Vinci), disse: "Não acredito que seja apenas um romance inocente com uma trama fascinante. Acho que o livro foi feito para atrair os leitores para uma perspectiva historicamente inexata. As pessoas estão aderindo à idéia de que Jesus não é divino, que Ele não é o filho de Deus."

Entre os críticos de "O Código Da Vinci" figuram protestantes evangélicos e católicos romanos que vêem o livro, repleto de trechos celebrando o feminismo, o anticlericalismo e formas de adoração pagãs, como mais uma infiltração de guerreiros culturais liberais. Eles também afirmam que o livro explora a desconfiança pública na Igreja Católica na esteira do escândalo de abusos sexuais.

Os críticos e suas editoras esperam, também, beneficiar-se da onda de sucesso de "O Código Da Vinci", que está há 56 semanas no topo da lista de livros de ficção de capa dura mais vendidos do jornal "The New York Times". Dos dez livros recentes relacionados a "O Código Da Vinci", oito são de editoras cristãs.

Dan Brown, o ex-professor de ginásio que escreveu "O Código Da Vinci", vem recusando todos os pedidos de entrevista, porque, segundo seu editor, está trabalhando em seu próximo livro. Em seu site, porém, Brown diz que vê com bons olhos as discussões sobre seu livro. Ele afirma que, embora seja uma obra de ficção, acredita "que as teorias discutidas pelos personagem têm valor".

"O Código Da Vinci" aproveita o crescente fascínio com o tema das origens da cristandade. Outros estudiosos vêm escrevendo livros populares sobre as descobertas arqueológicas recentes de evangelhos e textos gnósticos que oferecem perspectivas sobre os cristãos primitivos, cujas crenças diferiam daquelas expressas nos Evangelhos do Novo Testamento.

A trama de "O Código Da Vinci" constitui uma variação sobre a história antiga da busca pelo Santo Graal. Robert Langdon, descrito como um brilhante professor de "simbologia" em Harvard, e Sophie Neveu, uma bela criptógrafa da polícia parisiense, se unem para decifrar um rastro de pistas deixado pelo curador assassinado do museu do Louvre, que acaba revelando ser avô de Neveu.

A dupla descobre que o avô tinha herdado um manto de Leonardo da Vinci, usado em uma sociedade secreta. Essa sociedade tem a guarda do Santo Graal, que não é um cálice, e sim a prova da relação conjugal entre Jesus e Maria Madalena. Langdon e Neveu terão de encontrar o assassino do avô para localizar essa prova. Nessa jornada, eles descobrem que a igreja suprimiu 80 evangelhos primitivos que negavam a divindade de Jesus, elevavam Maria Madalena à condição de líder entre os apóstolos e celebravam a adoração da sabedoria e da sexualidade femininas.

O romance, em que mesmo capítulos que têm apenas duas páginas terminam em um clima de suspense, pode parecer pouco mais do que uma obra escrita com o intuito declarado de ganhar dinheiro, e nada mais. Mas começa com uma página intitulada "Fato", que termina com: "Todas as descrições de obras de arte, arquitetura, documentos e rituais secretos apresentadas neste livro são exatas".

O livro retrata o Opus Dei, grupo religioso conservador com grande influência no Vaticano, como seita sádica e sinistra. Um monge albino do Opus Dei, no livro, assassina quatro pessoas que guardam o segredo sobre a união entre Jesus e Maria Madalena. Em nota, o Opus Dei real respondeu: "Seria irresponsável formar opinião sobre o Opus Dei baseada na leitura de "O Código Da Vinci"".

Quem escreve a história

"O Código Da Vinci" propõe a idéia de que o imperador romano Constantino, do século 4º, teria suprimido os evangelhos mais primitivos por razões políticas e imposto a doutrina da divindade de Cristo no Concílio de Nicéia, em 325 d.C. Um personagem de "O Código Da Vinci" observa que são os vencedores da história que acabam por escrevê-la, idéia repetida por Brown em seu site.

Estudiosos cristãos concordam que a descrição feita do Concílio de Nicéia constitui uma das distorções mais flagrantes do livro. Eles dizem que, embora existisse uma diversidade de expressões nos primórdios do cristianismo, a divindade de Jesus fazia parte dos cânones aceitos da igreja bem antes de 325 e é anterior à maioria dos evangelhos gnósticos e outros descobertos em tempos recentes.

"As pessoas pensavam que Jesus fosse divino, em algum sentido ou outro, desde o século 1º", disse Harold Attridge, reitor da Yale Divinity School (escola de teologia da universidade Yale), tradutor e autoridade nos textos de Nag Hammadi. Attridge, que na semana passada deu uma palestra sobre "O Código Da Vinci" na Califórnia, disse que, embora saúde o livro como uma "oportunidade de ensino", na verdade ""O Código" "pega fatos e os apresenta sob outra ótica que os distorce seriamente".

Darrell Bock, professor de estudos do Novo Testamento no Seminário Teológico de Dallas, vê "O Código Da Vinci" como não apenas uma tentativa de solapar as crenças cristãs tradicionais, mas também de "redefinir o cristianismo e a história do cristianismo". "É por isso que vemos tantos cristãos reagindo ao livro", disse Bock, autor de "Breaking the Da Vinci Code" (rompendo o Código Da Vinci).

Tradução de Clara Allain (publicado na Folha de São Paulo, 11/05/2004)