São Miguel,  Patrimônio da Humanidade

 

Fotos: Henrique Chagas*

A mais importante ruína missioneira existente no Rio Grande do Sul é a Igreja de São Miguel Arcanjo, a
mais bem preservada de todo o conjunto missioneiro e que passou, anos atrás, por um grande reforço estrutural - a sua fronteira e a torre estavam com uma inclinação acentuada e corriam o risco de desabar.

Em dezembro de 1983, juntamente com San Ignácio Mini, na Argentina, a igreja de São Miguel foi reconhecida pela UNESCO como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade. Com isso, São Miguel das Missões tornou-se também palco de grandes eventos, iniciando com a apresentação do tenor José Carreras, em 1997.

Consta que a construção foi iniciada em 1735 e encerrada dez anos depois, sob a condução do arquiteto italiano João Batista Primolli, o mesmo que também construiu San Ignácio Mini, anos antes. A igreja, toda em estilo renascentista, possuía três naves com cinco altares dourados e cobertos de imagens de santos, em pedra e madeira, todas talhadas pelos próprios índios.

Tanto essa igreja, como as de San Ignácio Mini, na Argentina e Trinidad, no Paraguai, foram construídas com grandes blocos de pedras, alguns com até mil quilos, assentadas uma sobre a outra, graças a um recorte muito bem feito (e sequer existiam guindastes ou tratores naquela época, muito menos na América do Sul).

Ao lado direito da fronteira da igreja de São Miguel, está a torre, com 25 metros de altura, onde originalmente havia cinco sinos, um dos quais, com mil quilos, está no museu existente nas ruínas. Esse e os demais sinos podem ter sido fundidos na redução de São João Batista (ruínas encontram-se no Município de Entre-Ijuís/RS), próximo dali, onde se instalou a primeira fundição da América Latina.

A mil metros dali foram descobertas nos últimos anos as fontes de abastecimento de água (fonte missioneira). A área construída da redução deveria ter ao redor de seis hectares, a maior parte dos quais, no entanto, cobertos pela terra, existindo, sobre eles, diversas construções comerciais e públicas. No subsolo de São Miguel encontra-se um desconhecido, mas certamente importantíssimo patrimônio arqueológico.

Tão logo chegamos em São Miguel das Missões nos instalamos na Pousada das Missões, bem próximo às ruínas; e dali, visitamos Santo Ângelo/RS (58 km) (com a sua majestosa catedral, o museu, o Memorial da Coluna Prestes, Monumento ao Índio Sepé Tiaraju), as ruínas de São João Batista (Entre-Ijuís/RS), as ruínas de São Lourenço Mártir, em São Luiz Gonzaga/RS (54 km). Na região das Missões, além da cultura missioneira e do patrimônio histórico, o visitante se encantará com a cultura gaúcha, com o chimarrão e com o churrasco de chão, que são oriundos da cultura guarani.

O sangue guarani ainda corre vivo nas lendas, na linguagem, na medicina de ervas, nas cuias e sacas de mate que ganharam importância econômica em todo o Sul. E, principalmente, no fato de a criação de gado introduzida pelos jesuítas ter se tornado básico na economia gaúcha. Esta herança realimenta hoje as pesquisas científicas, a literatura e as canções, o teatro, cinema e as artes plásticas. É uma das raízes da cultura regional gaúcha, que faz parte da variedade de culturas que integram a identidade brasileira (HC)

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