A
emoção volta à arte
Vincent Van Gogh foi o maior expoente do pós-impressionismo,
ao lado de Gauguin e Paul Cézanne. O termo foi inventado posteriormente
pelo crítico de arte e pintor inglês Roger Pry, que o utilizou no
título da exposição Manet e os Pós-impressionistas, realizada nas
Galerias Grafton, em Londres, em 1910. O movimento surgiu na França
como um desenvolvimento ou, em muitos casos, uma reação ao
Impressionismo. Eram artistas contrários às regras ditadas pelas
academias tradicionais. Para os impressionistas, o objetivo da arte
seria o registro da natureza. Ela deveria mostrar a primeira impressão
do artista diante de um cenário.
Entre os defensores desses princípios estavam Claude Monet,
Pierre-Auguste Renoir e Camille Pissaro. Van Gogh, Cézanne e Gauguin
rejeitavam a tentativa de retratar a natureza a partir de impressões
imediatas. Com eles, a expressão de emoções na pintura voltava a ser
importante. Para Cézanne, o objetivo da arte seria realizar uma
análise estrutural da natureza.
Vincent Van Gogh não conheceu a fama e nem a fortuna. Em toda a sua
vida, o mestre da pintura vendeu apenas um quadro: Vinhas Vermelhas, em
Arles. Durante os seus 37 anos de vida, passou fome e frio, viveu em
barracos e conheceu a pobreza absoluta. não fosse a generosidade do irmão
Theodorus, que o sustentou durante muitos anos e com quem se
correspondeu a vida inteira - foram mais de 750 cartas -, talvez não
tivesse vivido o bastante para nos deixar sua arte.
Enquanto produziu, entre 1880 e 1890, foi ignorado pela crítica e pela
maior parte do mundo artístico. Só virou celebridade e foi reconhecido
como o gênio que era após sua morte, em 1890. Hoje, seus quadros estão
entre os mais caros do mundo.
Vincent Willen van Gogh nasceu no dia 30 de março de 1853. Era o
primeiro dos seis filhos de Theodorus van Gogh e Anna Cornelia
Carbentus. O pai era um pregador protestante. Aprendeu francês, inglês
e alemão. Em 1868, porém, deixou os estudos. Trabalhou com um tio em
Haia (Holanda), numa das lojas da Goupil and Co., que negociava obras de
arte, mas não se adaptou. Com 24 anos de idade, decidiu que sua vocação
era a evangelização. Chegou a estudar Teologia em Amsterdã. Logo,
porém, abandonou o curso e foi trabalhar como pregador leigo nas minas
de carvão de Borinage, na Bélgica. Lá distribuiu todos os seus bens
entre os pobres, viveu em barracos e lutou para melhorar as condições
de vida dos mineiros. Mas suas preocupações sociais não foram bem
recebidas por seus superiores, que suspenderam seu salário, fato que o
levou a decidir-se pela vida artística.
Theo, quatro anos mais jovem, passou a sustentá-lo. Van Gogh viveu na Bélgica,
na Holanda e Paris até estabelecer-se em Arles, no sul da França, em
1888. A fase foi das mais produtivas. Uma verdadeira fúria criativa
seguiu-se à sua mudança para Arles. Nos três últimos anos de vida,
Van Gogh pintou mais de 400 telas. Nessa fase, o estilo do artista
estava bastante definido, com suas pinceladas vigorosas e empastelamento
da tinta. A partir dai, amarelos intensos e vermelhos vivos, cores
reverenciadas pelo artista, serviriam para criar efeitos, expressando
sentimentos.
Financeiramente, porém, a situação não podia estar pior. Nessa época,
agravaram-se as crises nervosas e um dos poucos amigos que teve foi Paul
Gauguin, que se instalou durante alguns meses na casa do holandês. Com
ele, Van Gogh pretendia fundar uma espécie de comunidade de artistas. A
instabilidade mental, porém, provocava brigas constantes entre eles.
Sem amigos e sofrendo crises agudas de paranóia, decidiu
internar-se.
Van Gogh deixou o asilo e foi morar nas proximidades da casa de seu irmão.
Um mês antes de sua morte - quando pintava uma tela por dia - o
holandês realizou Campo de Trigo com Corvos, outra obra
prima em que exprimia, de maneira contundente, toda a tristeza e a
solidão de seus últimos momentos. Em maio de 1890, mudou-se para
Auvers-sur-Oise e, no dia 27 de julho, deu um tiro contra o próprio
peito. Dois dias depois, morreu nos braços de Theo.
Entre os pós-impressionistas, o mais persistente foi Van Gogh. Seu uso
abstrato da cor e da forma teria uma influência enorme sobre toda a
arte do Século XX. Na opinião dos críticos, sua contribuição foi
ainda maior: com ele, a emoção voltou à arte, transformando-se em
fonte primordial de inspiração e objetivo final de toda criação. |