
Não têm faltado loas a "
O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", filme que conta a história de um garoto que tem de conviver com a situação de ter sido deixado pelos pais, envolvidos em atividades políticas clandestinas, durante a ditadura militar no Brasil, às vésperas da Copa de 1970.
"Finalmente fizemos um filme argentino", anda dizendo o senso comum da crítica nacional (o que, a essa altura, não deixa de ser irônico). Mas a verdade é que o filme de
Cao Hamburger não só chega atrasado com relação a outras produções que tratam de ditaduras latino-americanas aos olhos da infância, mas o faz de modo convencional e pouco verossímil.
Muito melhores que este são o chileno "
Machuca" (2004), de Andrés Wood, que se passa em 1973, ano do golpe militar que dá início à ditadura Pinochet, e o argentino "
Kamchatka" (2002), de Marcelo Piñeyro, que se passa em 1976, quando começa a ditadura argentina, a mais sangrenta da América Latina. De ambos, "
O Ano" toma grandes doses de "
inspiração", para usar um eufemismo. A única coisa que talvez os iguale positivamente é o carisma e a entrega ao papel dos meninos
Michel Joelsas (o personagem Mauro de "O Ano"), Matías del Pozo (o Harry de "Kamchatka") Matías Quer e Ariel Mateluna (Gonzalo e Pedro Machuca, respectivamente, em "Machuca").
Os momentos em que apenas as crianças estão em cena, com a graciosa atuação da garota
Hanna (Daniela Piepszyk) contam a favor de "
O Ano", assim como a envolvente ambientação das ruas de São Paulo durante a Copa do tri, na qual dificilmente deixaremos de nos emocionar. Mas aí é apelar para
o ponto fraco de todos nós, brasileiros, e para nosso principal produto de exportação. O recurso vale, mas não salva o filme. (by
Sylvia Colombo)