"QUATRO NEGROS", Fischer sonda a natureza do gaúcho
De vez em quando é conferida ao crítico das letras a mercê de topar com uma pequena ovelha desgarrada da literatura nacional, como é o caso desta novela, a primeira ficção mais alongada do gaúcho Luís Augusto Fischer.
As figuras retratadas aqui também são raras: negros do pampa, pessoas retraídas, macambúzias. Como diz o narrador: "Tem um amigo meu que diz que o Rio Grande do Sul inventou o negro triste. Não é verdade, porque há negro triste em outras partes, não se trata de característica local. Mas é verdade que tem um tipo de negro do pampa".
Descendem dos antigos escravos (ou, como se diz por lá, "cativos"), às vezes de antigos latifundiários. No interior bruto, na imensidão do "mundo quase não alcançado pela lógica do dinheiro", vivem como pequenos proprietários de terra. Pequenos mesmo, quase minúsculos.
O narrador de Fischer não é gaúcho da roça. Urbano, intelectual, apreciador de [Jorge Luis] Borges, Marx e Guimarães Rosa, exibe, porém, fascínio pelo campo. Um fascínio desconfiado por certo, contra o qual o leitor precisa se precaver. Sua tentativa de compreender o etos gauchesco deságua, nos melhores momentos, no mistério insondável do outro e, nos piores, ronda perigosamente uma monocromia ética e uma estética demopsicológica. Ainda assim, vale a leitura, chê!
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VerdesTrigos @ 12/31/2005 08:55:00 AM | | | Voltar