Para um leitor contemporâneo,
Schopenhauer é um nome muito mais familiar do que
Schelling. Os estudos sobre o primeiro são bem mais numerosos, assim como é mais brilhante o lugar que a posteridade lhe concedeu. Mas, como vemos em
Infinitude subjetiva e estética - Natureza e arte em Schelling e Schopenhauer (Unesp, 315 pp., R$ 38) de
Jair Barboza - conceitos fundamentais para este último, como os de vontade e de intuição intelectual, já estavam presentes nos escritos de
Schelling em 1795. O confronto que Jair Barboza faz entre Schelling e Schopenhauer é direto, ou seja, utiliza os escritos de
Schopenhauer, material inédito do Schopenhauer-Archiv de Frankfurt e "estudos da gênese do seu sistema ou nos exemplares de mão da obra schellinguiana presentes em sua biblioteca". Infinitude subjetiva e estética é um trabalho intertextual que mostra como
Schelling e
Schopenhauer têm uma mesma reação à negatividade crítica kantiana e como o sistema teórico de um autor ilumina o outro. Barboza mostra como os dois filósofos chegam à mesma resposta da experiência estética da beleza e de
"sua íntima ligação com a natureza exterior a nós, que é natureza em nós, como a crítica apontara no conceito de gênio, que o supra-sensível pode ser atingido." Neste novo percurso do pensamento pós-kantiano, no qual Schelling e Fichte são incorporados à linha Platão-Kant-Schopenhauer, é feita a releitura da vontade como coisa-em-si que
"pode exibir-se na contemplação do belo-sublime artístico ou natural". Desta forma, Infinitude subjetiva e estética preenche uma lacuna de considerável proporção, trazendo à luz, por exemplo, a redescoberta por
Schopenhauer das Idéias platônicas na natureza e da estetização delas na arte.