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RESENHAS

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Lobato revisitado

Ronaldo Cagiano*

A importância de Monteiro Lobato como um dos grandes artífices do processo editorial brasileiro e um daqueles mecenas modernos que contribuíram fundamentalmente na divulgação de nossa literatura, sobretudo a consolidação de sua vertente infanto-juvenil, tem merecido ultimamente muitas teses e incursões ensaísticas. Entre elas, destacamos o recém-lançado "Um Cenáculo na Paulicéia" (Projecto Editorial, DF, 294 pgs., R$ 30) , de autoria de Alaor Barbosa, autor de outras 14 livros, goiano de Morrinhos, há duas décadas radicado em Brasília.

A obra é caudatária de uma tese defendida no curso de Mestrado na UnB, em que o autor aprofunda os estudos sobre um grupo de intelectuais que gravitavam em torno de Monteiro Lobato e que, no início do século passado, deflagraram um movimento literário denominado "Cenáculo", a partir do que se desencadeou um período de grande efervescência cultural e literária, uma espécie de ante-sala do movimento modernista, que viria eclodir com a Semana de 22.

Nesse trabalho, Alaor Barbosa destaca sobretudo a importância do Monteiro Lobato como ficcionista e como intelectual que pensou o Brasil e lançou as bases de um pensamento nacionalista e de valorização dos nossos recursos naturais e humanos, ao lado de sua destacada atuação como escritor de livros infantis.

Ao dissecar esse período, Alaor Barbosa ressalta a importância de treze autores que, ao lado de Lobato, promoveram uma espécie de movimento permanente de pensamento e ação, embora muitos deles não tenham produzido livros. O foco do ensaísta concentra-se na análise da participação de cinco escritores: os mineiros Godofredo Rangel e José Antônio Nogueira e os paulistas Raul de Freitas, Ricardo Gonçalves e Albino de Camargo.

Diligentemente, num meticuloso trabalho de arqueologia literária, garimpando em diversos centros culturais na capital e no interior de São Paulo e Minas Gerais, consultando fontes familiares e arquivos públicos, Alaor Barbosa, com seu agudíssimo senso de pesquisador e faro jornalístico (foi um dos primeiros integrantes, ao lado de Reynaldo Jardim, Ferreira Gullar, Assis Brasil e Carlos Heitor Cony, do período áureo do Suplemento Cultural do Jornal do Brasil, na década de 60) rastreia um período importante de nossos primórdios literários, incursionando por uma universo instigante, repleto de informações e curiosidades. Regata um tempo profícuo para nossas Letras, buscando nos referenciais estéticos e conceituais que marcaram a obra de Lobato e de seus companheiros, na formação e consolidação da nossa intelligenstia e na construção de nossa história literária..

Como assevera José Leão filho, ao resenhar Um Cenáculo da Paulicéia, "Alaor revive, do lado de Lobato, a bela angústia de contestar e compreender o humano." É uma obra não só para os interessados na bibliografia lobatiana, mas para leitores, pesquisadores e estudiosos que querem compreender nosso processo cultural. Trata-se de um formidável repositório de idéias, que lançam luz sobre a nossa realidade e reflete sobre um período ainda pouco conhecido da bibliografia nacional, lançando um olhar novo sobre o nosso passado. Num país sem memória (E "se a memória se dissolve, o homem se dissolve", já o disse Octavio Paz) e tantas vezes indiferente aos valores culturais, Alaor Barbosa contribui para o registro definitivo de uma época marcada pelo espírito humanista e pela crença na civilização.

Sobre o Autor

Ronaldo Cagiano: De Cataguases, cidade mineira berço de tradições culturais e importantes movimentos estéticos, surgiu Ronaldo Cagiano. É funcionário da CAIXA. Colabora em diversos jornais do Brasil e exterior, publicando artigos, ensaios, crítica literária, poesia e contos, tendo sido premiado em alguns certames literários. Participa de diversas antologias nacionais e estrangeiras. Publica resenhas no Jornal da Tarde (SP), Hoje em Dia (BH), Jornal de Brasília e Correio Braziliense, dentre outros. Tem poemas publicados na revista CULT e em outros suplementos. Obteve 1º lugar no concurso "Bolsa Brasília de Produção Literária 2001" com o livro de contos "Dezembro indigesto”.

Organizou também várias antologias, entre elas: Poetas Mineiros em Brasília e Antologia do Conto Brasiliense.

 

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