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RESENHAS

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Um escritor, um país

Amós Oz*

Leia também o capítulo 1 livro "De Amor e Trevas", de Amós Oz

Nos anos que antecederam a independência de Israel, em 1948, o menino Amós Klausner queria ser livro. Não escritor: livro. Ainda à sombra do holocausto na Europa, sua família e seus vizinhos em Jerusalém viviam em estado de permanente apreensão: e se os britânicos expulsarem os judeus da Palestina? E se os árabes atacarem? O garoto imaginava que um livro teria mais possibilidades de enfrentar esses reveses. Mesmo que uma obra fosse proibida ou queimada, sempre haveria a chance de um exemplar sobreviver numa biblioteca escondida. Aos 66 anos, Amós Oz – como viria a ser conhecido na vida adulta – de certa forma realizou o sonho infantil com as memórias De Amor e Trevas (tradução de Milton Lando; Companhia das Letras; 624 páginas; 59 reais), recém-lançadas no Brasil. "Não sou o livro, mas sou o homem lá dentro", disse Oz a VEJA, em entrevista concedida por telefone de sua casa em Arad, cidade no Deserto de Neguev. A obra traz um registro pessoal do surgimento de Israel, na descrição daquele que é hoje o principal escritor do país – em agosto, ele viaja para a Alemanha, onde receberá o prestigioso Prêmio Goethe.

De Amor e Trevas centra-se na infância do autor, durante os árduos anos iniciais de Israel, e recupera também a história pregressa de sua família. Seus pais e avós estavam entre as sucessivas levas de judeus que, no início do século XX, imigraram para a Palestina, então sob domínio britânico, na esperança de constituir um país onde o anti-semitismo não teria entrada. Mas o território que fora o antigo reino de Davi e Salomão agora estava ocupado por povos árabes – os palestinos que até hoje esperam por uma nação própria. Os países árabes vizinhos, como Jordânia e Egito, não aceitaram a resolução da ONU que, em 1947, estabelecia a criação de um Estado judaico no ano seguinte. A independência seria conquistada com guerra, depois da qual Jerusalém, cidade natal de Oz, foi dividida – permaneceria assim até ser retomada por Israel, em 1967.

Integrante da primeira geração de sua família a nascer em território israelense, Oz é um caso raro: não é sempre que um autor de talento tem a oportunidade de testemunhar o nascimento de uma nação e de participar do renascimento de uma língua (hebraico). Ele se orgulha de ter conhecido todas as figuras fundadoras que aparecem nas cédulas israelenses (aliás, o único primeiro-ministro com quem nunca se encontrou é o atual, Ariel Sharon, de quem é opositor). Mas seu livro não se centra nas grandes figuras da pátria, embora colete casos pitorescos de algumas delas. Tal como já fizera na novela Pantera no Porão, Oz oferece ao leitor uma perspectiva miúda e cotidiana da independência israelense – a história vista do rés-do-chão. Ele relembra donas-de-casa, comerciantes, professores, judeus simples que levavam uma vida cheia de esperança mas um tanto amedrontada na Jerusalém dos anos 40 e 50. Os protagonistas, ao lado do próprio autor, são seus pais, Árie e Fania Klausner, dois imigrantes da Ucrânia que se estabeleceram na Palestina nos anos 30. O casal é retratado sob uma luz generosa mas melancólica. Árie sonhava em ser professor universitário, mas só conseguiu emprego em uma biblioteca. Fania tampouco conseguiu dar vazão às ambições intelectuais que nutrira na Europa, onde chegou a freqüentar a Universidade de Praga. Tinha crises severas de depressão. Suicidou-se com uma overdose de soníferos em 1952, quando o filho único contava 12 anos.

O livro acaba com a descrição do suicídio de Fania. Não menos comovente, contudo, é o trecho no qual o escritor rememora a noite em que a Assembléia-Geral da ONU referendou a resolução que criava o Estado de Israel, em 1947. Nos festejos que se seguiram ao anúncio da notícia pelo rádio, o circunspecto Árie, que em geral empregava um tom distante e irônico na educação do filho, pulou e berrou com o menino nos ombros. Foi um dos poucos momentos de proximidade entre os dois – e a única vez em que Oz viu o pai chorar. A essa apoteose emocional o escritor contrapõe o silêncio que na mesma noite caiu sobre os bairros árabes de Jerusalém. "Faz parte das minhas convicções políticas sempre levar o ponto de vista do outro em consideração", diz o autor. A guerra da independência, no ano seguinte, é rememorada por Oz mais uma vez de uma perspectiva íntima, familiar – mas nem por isso menos dramática. A narrativa vívida não leva o leitor à frente de batalha, mas o convida a respirar o ar insalubre e estagnado do lar dos Klausner naqueles dias. Por estar situado no térreo, ao abrigo da artilharia, o apartamento foi ocupado por mais de vinte pessoas, todas apertadas nas dependências minúsculas.

Mesmo em tempos mais pacíficos, ninguém conseguia ficar à parte das questões políticas. Os rumos do novo Estado judeu eram o assunto quase exclusivo de todas as rodas de conversa. Oz define essa característica loquaz de seus compatriotas com uma comparação cinematográfica: "Israel não é um filme de Bergman, mas de Fellini", diz, contrastando a angústia silenciosa do diretor sueco Ingmar Bergman com os personagens extravagantes e gritões do cineasta italiano Federico Fellini. Na família do escritor, porém, a conversa obedecia a um tom único. Seu pai e seu avô eram conservadores ferrenhos, e sua mãe, que por personalidade seria mais liberal, reprimia essa tendência por imposição familiar. O ideólogo do clã era o historiador sionista Yosef Klausner, tio-avô de Amós. Ligado ao movimento Herut – o qual mais tarde daria origem ao partido conservador Likud, de Sharon –, ele recebia os familiares em sua casa com longas preleções eruditas, mas não raro extremadas ou politicamente insensíveis. Certa vez, chegou a sugerir que os árabes de Israel deveriam ser convencidos a se mudar para os vales da Mesopotâmia.

Ainda sob o abalo do suicídio da mãe, o jovem Amós Klausner resolveu romper com o ambiente intelectualizado e conservador de sua infância. Com 15 anos, deixou a casa do pai em Jerusalém para viver no kibutz Hulda – uma das fazendas coletivas que, por sua inspiração socialista, causavam arrepios ao tio Yosef. Foi então que ele mudou seu sobrenome de Klausner para Oz, palavra hebraica que significa coragem, força. "Hoje eu encaro a decisão desse jovem com ironia. A palavra queria dizer tudo o que eu não era", diz Oz. De Amor e Trevas dedica poucas páginas ao kibutz. E diz menos ainda sobre a experiência militar do autor. Oz lutou na Guerra dos Seis Dias, em 1967, e na Guerra de Yom Kippur, em 1973, mas não tem planos de escrever sobre esses eventos. "Mesmo os maiores escritores que se dedicaram à guerra, como Tolstoi, deixaram a desejar. O cheiro nauseabundo do campo de batalha é muito difícil de descrever", diz.

Como escritor consagrado, Oz não rompeu com a tradição intelectual da família. Mas contrariou o nacionalismo fervoroso dos Klausner para se tornar uma voz moderada em meio à exaltação política e religiosa do Oriente Médio. Ele prega que só haverá paz em Israel quando o território for dividido em dois Estados independentes, um israelense, o outro palestino. "Meu pai provavelmente diria que eu sou um traidor", admite. Otimista, ele arrisca até uma profecia (palavra que ele, é claro, usa de forma jocosa): "Um dia, a Palestina terá uma embaixada em Israel, e Israel terá uma embaixada na Palestina. E será possível ir de um prédio a outro a pé, pois eles estarão na mesma cidade: Jerusalém".

Resenha publicada originalmente na Revista VEJA.

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Sobre o Autor

Amós Oz: Nasceu em Jerusalém, em 1939. Considerado um dos melhores escritores israelenses da atualidade, já foi traduzido para mais de 22 línguas. Atualmente mora em Arad, no deserto de Neguev, dedicando-se à militância em favor da paz entre árabes e israelenses e ao curso de literatura hebraica que leciona na Universidade Ben-Gurion.

Clique AQUI para ler a COLETÂNEA AMÓS OZ

 

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