LOUVOR AO CHAPADÃO DO BRASIL CENTRAL
"Esses moços, pobres moços, Ah! se soubessem o que
eu sei..." Lupicínio Rodrigues.
Alto Paraíso,
uma pequena cidade no coração do chapadão do
Brasil Central, sua população não passa dos dez
mil habitantes. Um lugar totalmente diferente do
que estamos acostumados a viver. Calor e muita
poeira. A viagem começa em Brasília, que está a
230 km. De carro, deve-se seguir em direção a
Planaltina pela BR 020, depois pela GO 118. Em
menos de três horas, estamos em plena Chapada dos
Veadeiros.
Na
chapada, à primeira vista, tudo parece áspero,
árido e agressivo, um mato ralo e rasteiro,
arbustos de galhos retorcidos que formam estranhas
figuras e muita poeira. A paisagem, num rápido
olhar, parece homogênea, sem qualquer atrativo.
Todavia, de repente, caminhando por suas trilhas,
a paisagem vai se descortinando em campos
floridos, cachoeiras deslumbrantes, piscinas
encantadoras, canyons profundos, montanhas
majestosas e corredeiras refrescantes. É de tirar
o fôlego!
A chapada
é intrigante e instigante. De longe ou por uma
foto aérea não se vê sua essência. Os seus
mistérios e sua essência somente são relevados a
quem se dispõe a penetrar fundo em suas entranhas
e a caminhar por suas trilhas insinuantes. Foi
assim que me senti ao desbravar os cerrados da
chapada: desbravando os seus mistérios e os seus
encantos. Paragens inebriantes e aventuras cheias
de intenso prazer.
Em
verdade, se a Chapada dos Veadeiros não foi o
local em que estava situado o paraíso em que Adão
pecou, é, por certo, um pedacinho do céu que o
Criador cortou de seu imenso palácio e pregou em
pleno coração do Brasil. Por todos os cantos da
chapada, as paredes de rocha escondem cachoeiras e
vales de beleza única. São centenas de quedas
d´água que formam lagos cristalinos cercados por
rochas pré-históricas. Parece que estamos vendo o
lugar onde se iniciou a criação. No vale do Rio
Preto, dá até para imaginar que ali existiu
dinossauros e outros bichos pré-históricos.
Patrocinado pela Volkswagen, na Promoção Parati Pé
na Estrada, www.paratipenaestrada.com.br, estávamos eu e
minha mulher fazendo um roteiro que é rota
obrigatória para quem gosta de lugares selvagens e
inexplorados. E lá estivemos nós, que nunca
tínhamos praticado qualquer tipo de esportes
radicais e nem a eles somos adeptos, praticando rapel, na verdade um cascading, na Cachoeira de
Almécegas I, canyoning no rio Macaquinho, Trekking
para o vale do Rio Preto (uma caminhada de 12 km
pelo interior do Parque Nacional), como se
fôssemos veteranos aventureiros.
Vivemos
uma semana de emoções fortes, cercados por belezas
naturais. Trocamos a roupa social, terno e
gravata, por uma roupa despojada, totalmente
apropriada para as aventuras que nos esperavam.
VALE
DA LUA
Se o céu
da Chapada dos Veadeiros nos presenteia com
imagens de cinema, é no chão que o espetáculo se
completa. Ali, é possível apreciar a mais perfeita
integração entre os elementos mais básicos da
natureza. O Vale da Lua, formado por rochas de
origem vulcânica, apresenta um cenário esculpido
pelas águas que nos intriga e nos encanta, sendo
um exemplo exuberante dessa combinação de rochas e
água.
O mais
fascinante é a formação rochosa existente no Vale
da Lua, que protege inúmeros segredos e revela
indícios sobre a história do planeta. A Chapada
dos Veadeiros é constituída por rochas do
pré-cambriano que guardam parentesco com as rochas
descobertas nas terras altas de outros
continentes, indicando que um dia os cinco
continentes foram um só. As formações rochosas
peculiares dão um toque surreal à paisagem.
No Vale
da Lua é possível interagir com a natureza,
especialmente quando se ingressa no interior das
cavernas existentes nas formações rochosas e passa
fazer companhia às jararacas que descansam sob a
sombra de uma pedra, que não sendo provocadas,
apenas dormem e não chegam a representar qualquer
perigo. No Vale da Lua é possível banhar-se numa
piscina natural de águas transparentes, sempre a
nos convidar a um banho relaxante.
PARQUE NACIONAL.
O
objetivo do parque é garantir a proteção integral
da flora e da fauna silvestres, dos solos, das
águas e das belezas cênicas, para fins
científicos, educacionais, recreativos e
culturais. A entrada no parque é somente permitida
com acompanhamento de um guia devidamente
treinado. Lá estivemos assessorados pelo guia
David, da Travessia, www.travessia.tur.br, que, como outros, um dia
saiu de São Paulo e apaixonou-se pela chapada e lá
se tornou guia turístico, praticador de rapel,
canyoning e outros esportes radicais. Em Alto
Paraíso, gente como David existe às centenas.
O
principal rio que corta o parque é o Rio Preto,
afluente do Rio Tocantins, que comporta belíssimas
cachoeiras, com inúmeros córregos, ribeirões
afluentes e onde se localizam os principais
atrativos do parque.
Existem
várias razões para que a Chapada dos Veadeiros, no
Estado de Goiás, região mais alta de todo o
Planalto Central, seja considerado pelos
ambientalistas como o berço das águas e pelos
místicos como berço do novo milênio: a energia dos
seus cristais e as centenas de nascentes; a maior
concentração de áreas úmidas do cerrado
brasileiro; a diversidade e mistura de culturas e
raças; o grande número de grupos místicos e
terapias holísticas em relação ao total da
população; os diferentes projetos pilotos
implementados por diversas agências governamentais
e não governamentais, todas trabalhando em busca
de um desenvolvimento sustentável.
Praticamos um trekking de 12 quilômetros pelo
interior do Parque Nacional. No caminho, paradas
estratégicas em mirantes que proporcionam
belíssimos panoramas do Salto II do Rio Preto e do
cânion do mesmo rio. No Salto I, após um lanche de
frutas e sanduíches naturais, um rápido mergulho
nas águas geladas do rio antes de prosseguir até a
próxima atração: as corredeiras do Rio Preto.
Neste local, as cachoeiras formam piscinas
naturais bem rasas, com água forte e sob muita
pressão, criando uma hidromassagem natural
perfeita. Após horas de caminhada, por volta das
17 horas, nada melhor que um almoço de comida
caseira com tempero típico do cerrado, molho de
pequi. Na casa da Dona Nenzinha, cozinheira famosa
em São Jorge (distrito de Alto Paraíso, na entrada
do Parque), é possível degustar diversos pratos
deliciosos e típicos do cerrado, em companhia de
inúmeros aventureiros vindo de várias partes do
mundo, alemães, ingleses ou americanos.
RAPEL NA ALMÉCEGAS I
Jamais
imaginamos em nossas vidas um dia praticar rapel,
um cascading numa cachoeira de aproximadamente 50
metros de altura. Devidamente instruídos por Íon
Davi, David e Ignácio, superamos o medo, ganhamos
segurança interna, certos da segurança do esporte,
descemos a cachoeira. Embaixo nos aguardava a
fotógrafa Louise Chin, que foi a primeira a tomar
os nossos emocionantes depoimentos; e em razão da
total ausência de palavras, poderíamos ter dito,
se tais expressões pertencessem ao nosso
vocabulário, que a descida foi um "show de bola",
"dez", "muito massa".
Empresas
gastam fortunas em recursos humanos utilizando-se
de métodos sem nexo (li no jornal que as empresas
contratam agências de recursos humanos que aplicam
treinamentos totalmente malucos), pois gastariam
muito menos se soubessem utilizar os recursos
naturais existentes no Brasil. Com 42 anos de
idade, nunca havia praticado rapel, canyoning,
cascading ou trekking, no entanto, superei todas
as minhas próprias expectativas, venci todos os
desafios propostos e adquiri segurança interna
para ser um vencedor. Venci desafios e, por certo,
sempre os vencerei. Pude experimentar, em harmonia
com a natureza, o melhor treinamento do qual já
participei e a empresa a qual estou ligado por ele
nada pagou. E se tivesse pago, o custo seria muito
inferior àqueles gastos com treinamentos
contratados a peso de ouro.
Uma dica
às empresas: treinamento para motivação,
objetivando vencer desafios e metas, vencer o
medo, inclusive de morrer, pode e deve ser
realizado na Chapada dos Veadeiros.
Na
cachoeira de Almécegas I, recebemos as instruções
do guia Íon Davi, rapeleiro de fama internacional,
e nos equipamos com todo o material de proteção,
incluindo capacetes, luvas e coletes salva-vidas,
e nos preparamos para encarar a descida. Foram
momentos de emoções fortes, e que, por certo, será
lembrado como um dos pontos altos da viagem. A
descida do lado do fluxo d'água permite que se
entre dentro da cachoeira, ficando por vezes
totalmente coberto pelas águas, enquanto vários
arco-íris se formam durante a descida. O cascading
termina em uma piscina natural, onde se inicia um
cânion de rochas estreitas. Depois de tanta
emoção, nada como mais um mergulho para relaxar. A
adrenalina é tamanha, que nos empolgamos e
Alessandra, minha mulher, adquiriu coragem e
saltou de uma altura de quatro metros em uma
piscina natural na Cachoeira Almécegas II.
RIO
MACAQUINHO
A próxima
atividade era um canyoning no Rio Macaquinho. A
aventura começa com o deslocamento até o vale do
Rio Macaquinho. Uma estrada de terra em condições
precárias, com muitas pedras soltas, erosões e
crateras enormes, exigiu toda a perícia do
motorista para conseguir conduzir o veículo até o
início do trekking. Deixa-se o veículo as margens
do caminho e pé na estrada até chegar ao Santuário
das Pedras, propriedade de Fausto Melo - outra
figura do lugar, que nos contou como Deus lhe
mostrou o caminho desse paraíso e sua missão de
proteger o local. Fausto leva sua missão a sério,
é um desbravador do cerrado, trabalha com educação
ambiental, é um dos guias mais velhos da chapada.
O
Macaquinho é um local totalmente inexplorado, com
paredes formando corredores que impressionam,
ainda mais por causa da água, que desce com tudo.
Foi estabelecido como rota de rapeleiros pelo
Fausto, Íon e David, no ano passado, e já está
agendado para junho um grupo de sessenta ingleses
aventureiros que serão recepcionados por Íon e
Fausto, lá no Santuário das Pedras.
Já no
rio, o rapel, muito técnico, passando por dentro
de um anel de rocha esculpido pela força das
águas, é o ponto alto do canyoning. A força e o
volume das águas são enormes, o que dificulta a
visualização da via, e aumenta exponencialmente o
grau de adrenalina dos participantes. Começa na
cachoeira do anel, que tem esse nome devido a um
furo que a água cavou na pedra, criado a forma de
uma anel e por ele se atravessa e desce por sua
garganta uns 100 metros abaixo.
O cânion
do Rio Macaquinho é de uma beleza singular.
Estreito, sinuoso e profundo. Utilizando técnicas
verticais, progredimos pelo cânion do rio até a
hora de voltar. Descer o rio não foi fácil, mas
subir pelo mesmo caminho seria impossível. Hora de
pegar uma trilha até uma piscina natural para mais
um mergulho antes de enfrentar a estrada precária
de volta para Alto Paraíso. No caminho, uma parada
em uma fazenda local para saborear uma galinha
caipira deliciosa. Dois moradores locais, nativos
do distrito de Bandeiras, muito simpáticos,
aproveitaram nossa passagem para pedir uma carona
até a cidade, e nos divertiram muito contando
"causos" da região, como encontros com onças e
cascavéis. Chico Preto, de aproximadamente oitenta
anos, garantiu-nos que matou onça no facão, após
laçá-la e amarrá-la num tronco. Que o IBAMA não
ouça seus "causos", Chico Preto.
ECOTURISMO
O povo da
chapada tem investido no ecoturismo. Os
fazendeiros estão investindo em infra-estrutura e
utilizando-se dos recursos naturais de suas
propriedades os colocam à disposição dos turistas.
É um Brasil que o Brasil não conhece, e,
infelizmente, os estrangeiros talvez conheçam
melhor do que nós; alguns até adquirindo
propriedades, instalando restaurantes, pousadas e
hotéis.
Hoje é
possível comprar fazendas por R$ 500,00 o hectare.
Caso nela tenha uma cachoeira ou uma vocação
ecoturística, o preço é outro. Vi anúncio no
jornal local da venda de 20 alqueires goianos (que
é o dobro do alqueire paulista), localizados a
nove quilômetros de Alto Paraíso, com cachoeiras e
piscinas naturais pela bagatela de R$ 62.000,00.
Já em São João da Aliança, 50 km ao sul, as terras
são agriculturáveis e os gaúchos lá plantam soja e
garantem que a produção chega a 60 sacas por
hectare.
Texto: Henrique Chagas
Fotos: Ignácio Aronovich e Louise Chin
*
HENRIQUE CHAGAS é procurador da CAIXA
ECONÔMICA FEDERAL, lotado em Presidente
Prudente/SP . É Professor de Direito Internacional
Público e Privado na Faculdade de Ciências
Jurídicas da UNOESTE. É diretor e mantenedor da
VERDES TRIGOS CULTURAL (http://www.verdestrigos.com.br).
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SERVIÇO
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Como
chegar?
. .
. .O ponto
de referência é Brasília/DF, que está a 230 km. Se
for de carro, seguir em direção a Planaltina pela
BR 020. Depois, pegar a GO 118 até Alto Paraíso.
Outra opção, armar este translado com própria
operadora ou locar um carro, ou ainda, ir de
ônibus para Alto Paraíso.
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Onde
ficar?
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. . . Pousada
Alfa e Ômega (www.veadeiros.com.br).
. .
. . 0800 64
41 007 e (62)446.1225 - Luis Paulo
.
. . . Portal
da Chapada - camping (www.portaldachapada.com.br)
. .
. . (62) 9669
2604
.
. . . Operadora de Turismo Local.
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. . . TRAVESSIA ECOTURISMO (www.travessia.tur.br)
. .
. . Operadora
dos aventureiros Íon Davi e Fausto Melo.
. .
. . (62)
446.1595 - com roteiros adequados ao seu perfil. VEJA AS FOTOS: CHAPADA DOS VEADEIROS |