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Terrorista da Linguagem

por José Aloise Bahia *
publicado em 22/04/2006.

Fratura Exposta (anomelivros, 2005) é um diálogo fecundo e de longa duração com a poesia do decano Affonso Ávila. Mineiro de Formiga, morador da Torre dos Azulejos, em Belo Horizonte, Jovino Machado "enfrenta o silêncio se machucando com idéias" e, desassossegado, oferece aos leitores um labirinto de metáforas (des)articuladas, sob o efeito da intertextualidade e da paródia. Realiza fruições líricas num exercício de confrontação sofisticado com o autor do Discurso da Difamação do Poeta (Antologia, Coleção Palavra Poética, Summus Editorial, 1978).

A técnica da iteração - muito comum nos discursos orais - santifica a opção por um estado de espírito que preserva o grau de possibilidades e ambigüidades ao mesmo tempo extremamente rico de sugestões e um verdadeiro laboratório de experimentos sobre a construção de uma poesia. É sintomático o apelo e a presença de verbos e substantivos expressivos nas 50 estrofes de quatro versos por página.

Sem pontos finais no seu conjunto, a sensibilidade diabólica realiza um percurso de bem-aventurança somente alcançável no mundo dos lúcidos loucos loquazes. Numa linguagem visceral, venenosa, vingativa e toda sorte maculada - uma coleção de exclamações -, que sorve até a última gota metafórica disponível e inebriante para conseguir exprimir em palavras a sede enorme para estancar o sangue e a procura incessante do autor em seu diálogo maior com ela, e não ele, A POESIA em pessoa. Que nasce, "a poeta voava pelos telhados/ sonhando com a capital da solidão/ a primavera assassinava o inverno/ no céu surgia um pedaço de lua suja". E, "morre na quarta-feira de cinzas/ a dançarina da ópera limpa as feridas do sambista/ que abraça a cuíca fatigada de chorar na pista/ inventando uma nova estação chamada melancolia".

A intempestiva criatividade desaloja o tempo do seu lugar. Em fluxo contínuo, realiza um parto presente/passado com fórceps e incisões de antíteses sutis. Inflamadas, permeiam imagens que faz lembrar "O Grito" do norueguês Edvard Munch, e uma constatação na trajetória de Jovino Machado, embevecido pelo verso de Affonso Ávila: "O POETA É UM TERRORISTA".

Terrorista da linguagem. Difamador. Detonador. Digladiador. Ruminante de palavras, preso ao umbigo da mulher. Sua arma é o desmedido território, onde deus dança com o diabo. Seu discurso, um desejo sem fim de pontos de vistas compartilhados por alegorias carnavalescas e montagens cinematográficas, sendo ela, A POESIA, a personagem principal, na praça da apoteose de significações múltiplas.

Chama a atenção uma outra constatação: o poeta também dialoga em deslocamentos e passos de sambista com a sublime poesia expressionista alemã das décadas de 1910/20. Esperança das esperanças, mergulhada em sonhos de uma noite de verão, de modo ferino e delirante, o livro: "é uma pancada na cabeça de um dinossauro/ é um arranhão distraído no breu das horas".

Em mais de 25 anos de vida literária, impaciente em suas palavras, elegante em suas roupas e cor predileta - o preto, a cor da anarquia -, em contraponto com a faca ao fundo vermelho da capa do livro (de Joca Reiners Terron), Jovino Machado mistura lâminas e cortes em ecos profundos e lateja em Fratura Exposta aquilo que é a sua força, o transtorno do revide que se deixa invadir, bagunçar e atordoar ossos explícitos pela procura fértil que no seu discurso de espanto é a sua assinatura.

Sobre o Autor

José Aloise Bahia: José Aloise Bahia nasceu em nove de junho de 1961, na cidade de Bambuí, região do Alto São Francisco, Estado de Minas Gerais. Reside em Belo Horizonte. Tem ensaios, críticas, artigos, crônicas, resenhas e poesias publicadas em diversos jornais, revistas e sites de literatura, arte e imprensa na internet. Pesquisador no campo da comunicação social e interfaces com a literatura, política, estética, imagem e cultura de massa. Estudioso em História das Artes e colecionador de artes plásticas. Sócio fundador e diretor de jornalismo cultural da ALIPOL (Associação Internacional de Literatura de Língua Portuguesa e Outras Linguagens) Estudou economia (UFMG). Graduado em comunicação social e pós-graduado em jornalismo contemporâneo (UNI-BH). Autor de "Pavios Curtos" (poesia, anomelivros, 2004). Participa da antologia poética "O Achamento de Portugal" (anomelivros, 2005), que reúne 40 poetas mineiros e portugueses contemporâneos.


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