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Aurélio, Euclides e o Presidente

por Airo Zamoner *
publicado em 08/11/2005.

Você, presidente, precisa ficar mais esperto. Estão passando dados errados pra você, só para “tirar sarro” de sua cara. Cuide-se!

Veja só, presidente, a falta que faz um mínimo de estudos. É ela, a falta, que tem este efeito colateral perverso: deixa o dono da ignorância um tanto tonto, um tonto tanto, tanto faz, que ele, o tonto, fica acreditando em tudo. É a maldita falta do ferramental intelectual que permitiria triar e não trair e ficar traído sem saber.

E quando falo ferramental, não estou falando de torno que é perigoso, pode decepar muita coisa, coisa sem retorno... Digo isso, presidente, porque vossa excelência – sim, vossa, nossa não pode ser, porque o selo de “excelente” não cola no colarinho branco tipo alta-alvura que passou a habitar seu curto pescoço – tem repetido números que alguém aí de seu lado coloca em sua boca e nós aqui do cerrado e da serra, da barra e do barro, do campo e campus, sabemos de tudo. Sabemos que eles, os números, são engraçados, mas são rasteiras que passam em você, presidente. Fique mais esperto!

Conosco é diferente porque lemos, presidente. Lemos jornais, revistas e livros. Livros em abundância. Livros grossos e finos, profundos e fundos. E lemos sem preguiça. Livros longos, artigos grandes, textos, relatórios, planos, programas, projetos e novamente livros. Acho que você não conheceu o Alves. Aquele das Espumas Flutuantes. Ele falava de livros, livros a mãos cheias porque livros fazem o povo pensar.

Lemos as fontes. Lemos as profundezas dos números e do alfabeto completo. E o fazemos por razões que sua razão desconhece, por óbvio de preguiça e descaso. É assim que aprendemos a deduzir e triar sem trair, separando a jóia do tiro. Deduzir e triar, a bobagem da sacanagem, repito, usando a lógica euclidiana que vossa futura ex-excelência jamais há de conhecer, nem ao respectivo seu criador. Cuide-se, presidente. Você está acreditando tanto numa, quanto noutra, e é por causa disto que distribui as sacanagens e as bobagens, aproveitando-se da galera que rema e que remando precisa acreditar em alguém. E aí vem, logo quem?

Você, ora essa! Você que não conseguiu passar do “ABC”, literalmente. A você, que tem a falta da imensidão de tantas letras que se seguem a esse bem maldito, ou mal bendito, “ABC” e passa a falar tolices impensadas, babaquices, bobagens, bobeiras, besteiras, bestices, bestidades, bobices, dislates, disparates, parvoíces, burrices, burradas, burragens, burricadas, burriquices, jericadas, asnadas, asnarias, asneiradas, asnices, asnidades e tantas outras dicas interessantes que o Aurélio, meu amigo, talvez seu inimigo, enfileira e alfineta por este mundo afora.

Pois é, presidente. Tento auxiliá-lo com este alerta porque estou envergonhado da vergonha que desavergonhadamente se espraia pela planície que já anda a ver gônadas cheias. Pra falar a verdade, todos nós aqui estamos com as gônadas cheias. Sei que você não sabe o que são gônadas, mas alguém aí perto vai explicar e fazer você acreditar que gônadas são um atributo da inteligência. Só pra você se precaver, não é isso, não, viu?

Você, presidente, anda cercado de gente mais instruída, mais ladina, mais esperta. E esta turma está se divertindo com as patuscadas em que você se mete.

O pior, presidente, é que você fala em público, no rádio, no caixote, nos discursos - menos nas entrevistas que você não dá e se dá, se dá mal. E por se dar mal, dá só as pré-fabricadas, não é mesmo? E fala convicto, estranhamente convicto nunca contrito nem constrito menos ainda convindo, as bobagens que são semeadas em sua cabeça cheia de algumas coisas e vazia de outras. Fica engraçado, mas é tão trágico, tão deplorável, que me sinto na obrigação de avisá-lo, pois estou cansado de passar vergonha.

Dê um jeitinho, presidente. E de jeitinho você entende pra burro, que eu sei. Ache uma boa professora, ou professora boa como sei que você prefere e dedique algumas horas por semana pra entender como é “ver” o mundo de verdade. Não com os olhos do “ABC” somente, nem com os olhos que estão aí enterrados na cara, mas com os olhos do “...DEFG... ...XYZ”. Preste atenção nestes três pontinhos. Eles têm um significado importante. Mas isto você terá que olhar com os olhos do intelecto. Aqueles são olhos que temos dentro da cabeça. São estes olhos que nos permitem ver coisas que os que não os descobriram jamais verão. E é isto que faz falta pra você: estudar e estudar muito para descobrir esses olhos...

Pra encerrar, presidente, deixo aqui o alerta veemente. Eu disse: veemente. Você sabe o que é? Não é ver mente, nem vê se mente, nem vertente, ou ver, tente, mas é veemente mesmo. Se não conseguir saber o que é, fale com o Aurélio que deve estar se escondendo em alguma das bibliotecas aí do palhaço. Perdão, do palácio.

Até mais! Mande recomendações ao Aurélio... Ah, ia me esquecendo, ao Euclides também!

E vê se arruma essa bagunça!

Sobre o Autor

Airo Zamoner: Airo Zamoner nasceu em Joaçaba, Santa Catarina, criou-se no Paraná e vive em Curitiba. É atualmente cronista do jornal O ESTADO DO PARANÁ e outros periódicos nacionais. Suas crônicas são densas de conteúdo sócio-político, de crítica instigante e bem humorada. Divide sua atividade literária entre o romance juvenil, o conto e a crônica, tendo conquistado inúmeros prêmios e honrosas citações.

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