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O “Espetáculo” Não Pode Parar

por José Aloise Bahia *
publicado em 16/08/2005.

Palanque Literário e Eleitoral

Na esteira das várias CPIs que inundam Brasília, um mar de citações e declamações. E o mais interessante neste show armado, televisionado e regurgitado é que o povo já percebe que os políticos estão transformando os trabalhos de averiguação e investigação num tremendo palanque literário e eleitoral. O jornal Estado de Minas de domingo, sete de agosto de 2005, em matéria de Lívia Stábile, estampou com ironia o "Vale-Tudo" orquestrado para chamar a atenção do eleitorado.

Nem Napoleão Bonaparte escapou das citações. O Deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), durante depoimentos de Sílvio Pereira, citou Bonaparte: "Na subida, é difícil parar; na descida, é impossível". Já o deputado Asdrúbal Bentes (PMDB-BA), no depoimento da sra. Renilda Santiago de Souza, relembrou o dramaturgo Nelson Rodrigues: "Claro! Isto é o óbvio ululante". Na matéria do Estado de Minas, observamos uma reflexão lúcida feita pelo economista, professor e cientista político Bruno Reis (UFMG). Ele assinala: "Em alguns casos, as citações são de ordem pessoal e espontânea, como quando Jefferson Peres (PDT-AM) lembrou do fado português. Outras vezes, parece falso, como a analogia banal que o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) fez entre o depoimento de José Dirceu e o poema José, de Drummond. As citações são o preço que pagamos pela transmissão ao vivo".

Os senadores e deputados esbanjam "erudição". No caso do deputado José Dirceu (PT-SP) nâo foi nem tanto a erudição. No seu lamento em relação às denuncias que estão nas suas costas, ele se lembrou foi da banda de rock Legião Urbana: "É como diz aquela música... Que país é este?". Haja Nervos de Aço para agüentar tamanha verborréia. Aliás, Nervos de Aço é o nome do samba-canção de Lupicínio Rodrigues invocado por Roberto Jefferson (PTB-RJ) para justificar o hematoma em seu olho esquerdo. Antes, Jefferson revelou-se um religioso da maior estirpe ao citar a Bíblia: "Lendo Mateus, eu vi lá escrito: Não temais aquele que pode matar o corpo, temei o que pode matar a sua alma e o seu espírito".

Até agora participam das citações: a filósofa Hannah Arendt, o escritor Érico Verrissimo, o músico Renato Russo, o destemido Napoleão Bonaparte, o poético Carlos Drummond de Andrade, o estadista Getúlio Vargas, o compositor alemão Carl Orff, a Bíblia, o cantor e compositor Lupicínio Rodrigues, o fado português, o pensador romano Cícero, o padre Zezinho, John Lennon, Raul Seixas e por aí vai... Desconfio, com uma certeza absoluta, que esta lista vai aumentar com o andar dos trabalhos.

Como podemos observar a CPI também é "cultura". O eleitorado acompanha com os olhos grudados na TV. E a imprensa também vai embarcando na mesma onda. Pois nesse "Vale- Tudo" mais jornais e revistas são vendidos. Mais denúncias aparecerão, alimentarão o tempo. Prorrogam-se as coberturas. Tudo se transformando num imenso palanque literário e eleitoral, cada vez mais condimentados por manchetes, chamadas e reportagens. No fundo no fundo, desconfio que todos querem é ver o circo pegar fogo. Querem ver o desdobrar e o prolongamento dos trabalhos. Querem aparecer.

"O espetáculo não pode parar...", lembrou muito bem um senhor que freqüenta um bar daqui do bairro onde moro. Tomando a sua cachaça lá estava ele rindo à-toa, dizendo a todos: "Esse deputado aí que citou a Bíblia eu não voto nele não". Em meio às gargalhadas, ao sair do bar, a última coisa que eu escutei de alguém da roda foram àquelas palavras que eu havia escutado anos atrás no mesmo estabelecimento: "Só espero que tudo isso não termine em pizza". A CPI da época era a do Banestado.

Sobre o Autor

José Aloise Bahia: José Aloise Bahia nasceu em nove de junho de 1961, na cidade de Bambuí, região do Alto São Francisco, Estado de Minas Gerais. Reside em Belo Horizonte. Tem ensaios, críticas, artigos, crônicas, resenhas e poesias publicadas em diversos jornais, revistas e sites de literatura, arte e imprensa na internet. Pesquisador no campo da comunicação social e interfaces com a literatura, política, estética, imagem e cultura de massa. Estudioso em História das Artes e colecionador de artes plásticas. Sócio fundador e diretor de jornalismo cultural da ALIPOL (Associação Internacional de Literatura de Língua Portuguesa e Outras Linguagens) Estudou economia (UFMG). Graduado em comunicação social e pós-graduado em jornalismo contemporâneo (UNI-BH). Autor de "Pavios Curtos" (poesia, anomelivros, 2004). Participa da antologia poética "O Achamento de Portugal" (anomelivros, 2005), que reúne 40 poetas mineiros e portugueses contemporâneos.


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